terça-feira, 28 de abril de 2020

DIÁRIO DE AULA - CLÍNICA I - TRANSFERÊNCIA/CONTRATRANSFERÊNCIA, PARTE 1

Introdução
• Qualquer psicoterapia é, acima de tudo, um trabalho de
relação entre duas pessoas.
• Como em qualquer relação...
Em termos bem sucintos podemos definir o fenômeno da transferência como um deslocamento de questões atribuídas a pessoa significativas do passado remoto (infantil) para pessoas significatovas do pressente. O tempo cronológico passa, mas o tempo psicológico seque outras regras que de alguma maneira subverte a irreversibilidade temporal da vida e da existência. A temporalidade psíquica não é linear, porém transversal. Decididamente estava certo o filósofo francês Henri Bergson ao afirmar que o tempo passado é um tempo que não passa, ao menos psicologicamente falando. Escreveu Bergson: "nossa duração não é um instante que substitui o outro instante: nesse caso, haveria sempre apenas presente, não haveria prolongamento do passado no atual, não haveria evolução, não haveria duração concreta. A duração é o progresso contínuo do passado que rói o porvir e incha à medida que avança". Como ainda afirma, "o passado se conserva por si mesmo, automaticamente". 
QUANTO TEMPO ME RESTA? REFLEXÕES ACERCA DA TEMPORALIDADE EM ...

Nosso passado se conserva tanto em nossa memória, quanto nos nossos mais mínimos gestos (não é a toa que outro escritor francês, André Malraux, tenha dito que "cultura é tudo aquilo que fica depois da gente esquecer tudo aquilo que a gente aprendeu"), Somos capazes de evocar um sentimento/emoção (ou sermos por evocados), quando, por exemplo, ouvimos uma música ou quando nos deparamos com um cheiro, imagem, lembrança ou outro estímulo qualquer, e assim podemos sentir afetivamente afetos de outrora como se eles tivessem sendo sentidos no hoje das nossas vidas. Si, somos seres fatalmente passíveis de transferir para o agora vivências, desejos, comportamentos e sentimentos que tiveram raízes no passado.

Transferência em Psicologia Mecanismo de Transferência PsicanáliseFreud foi tanto perspicaz quanto sábio ao perceber o fenômeno psicologicamente repetitivo, inconsciente e deslocativo que ele denominou de transferência psíquica. No início ele entendeu o fenômeno transferencial como um obstáculo terapêutico, porém sua agudez intelectual e genialidade acabou reconhecendo a transferência como o principal recurso, não somente para compreender a dinâmica psíquica do paciente, mas também como recurso e instrumento primordial para à superação de conflitos e cura de padecimentos psicopatogênicos. 

Em termos mais específicos (na visão psicanalítica), pode-se traduzir a transferência como:

Transferência
• Transferência é um fenômeno de todas as formas pelas
quais que o paciente vivencia com o psicanalista, em
...
Embora a Psicologia seja uma ciência de muitos rostos, nomes e visão díspares, e, por isso mesmo, seja uma ciência fragmentada e pluralizada em várias vertentes, concepções, escolas e ideologias e teorias muitas vezes até antagônicas, há de se reconhecer que o fenômeno transferencial independe de "igrejinhas" e visões distintas de homem. A chamada Abordagem Centrada na Pessoa, voltada a trabalhar psicologicamente as questões em termos de aqui-agora, não foge, por exemplo, de reconhecer a transferência, embora há veja e maneja sob outra perspectiva, Já dizia Carl Rogers: "o terapeuta lida com estas atitudes precisamente da mesma foram que lida com atitudes semelhantes dirigidas a outros. Parafraseando e modificando a afirmação de Fenichel para tornar verdadeira esta perspectiva, poder-se-ia dizer: A reação do terapeuta centrado no paciente à transferência é a mesma que perante qualquer outra atitude do paciente: procura compreendê-la e aceitá-la". 
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Também a Terapia Existencial-Fenomenológica abre espaço para a discussão, como assim o fez Rollo May, um dos seus principais expoentes: "para a terapia existencial, a transferência se situa no contexto novo de um evento que se produz numa relação real entre duas pessoas. Quase tudo que o paciente faz em relação ao terapeuta durante um sessão de terapia contém um elemento transferencial".
Psicanálise Bíblica: Transferência para FreudSeja como for, a transferência desempenha importante e fundamental papel no processo de qualquer relação psicoterápica, pois é impossível existir presente humano, sem passado humano. Trata-se de um valioso fenômeno psíquico, cujo significado e manejo irá variar de abordagem à abordagem. 

Mesmo em terapias manualizadas, reconhece-se o fenômeno, embora, muitas vezes, embutido sob a terminologia conceitual de "esquema", como faz Aaron Beck ao expressar que "um esquema é uma estrutura cognitiva que filtra, codifica e avalia os estímulos aos quais o organismo é submetido. É com essa ferramenta que o indivíduo registra o mundo e através disso que se posiciona frente ao mesmo. Entendamos então que a relação e a contra-relação na terapia irá se constituir levando em conta a forma como paciente e terapeuta “registraram o mundo” em que vivem. O terapeuta deve ficar atento para o que os esquemas do pacientes podem estar despertando nele mesmo, pois: isso possibilitará que o terapeuta seja mais efetivo na relação, promovendo um modelo de papel para o paciente".     

Projeção: mecanismos de defesaPelo acima exposto, considerando-se que uma relação terapêutica é um encontro entre indivíduos, pessoas ou subjetividades, a questão da transferência, por sua vez, abre espaço para outro fenômeno clínico significativo: a contratransferência. 

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