sexta-feira, 3 de abril de 2020

DIÁRIO DE AULA: CASAMENTO II


SATISFAÇÃO CONJUGAL




           Particularmente gosto muito quando Terezinha Fères-Carneiro diz que a fórmula do casamento é 1 + 1 = 3. Em seu ótimo texto CASAMENTO CONTEMPORÂNEO: O DIFÍCIL CONVÍVEL DA INDIVIDUALIDADE COM A CONJUGALIDADE (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79721998000200014&script=sci_arttext) ela nos presenteia com os seguintes dizeres: “Costumo dizer que todo fascínio e toda dificuldade de ser casal, reside no fato de o casal encerrar, ao mesmo tempo, na sua dinâmica, duas individualidades e uma conjugalidade, ou seja, de o casal conter dois sujeitos, dois desejos, duas inserções no mundo, duas percepções do mundo, duas histórias de vida, dois projetos de vida, duas identidades individuais que, na relação amorosa, convivem com uma conjugalidade, um desejo conjunto, uma história de vida conjugal, um projeto de vida de casal, uma identidade conjugal”. Neste sentido, existe a identidade de cada um dos cônjuges e existe a identidade do casal.
                No artigo sob comento a autora diz que os casamentos atuais sofrem tensões relativas a duas forças que atuam sobre os casais contemporâneos: a individualidade e a conjugalidade. Sabemos que vivemos hoje sob a égide do individualismo, e nesta cultura do EU a ideia de autonomia sobressai-se aos laços de interdependência conjugal. São os meus desejos, os seus desejos e os desejos conjugais compartilhados. Os extremos são perigosos e disfuncionais, ou seja, o excesso de individualismo dos cônjuges leva a fragilidade do laço conjugal; enquanto que o excesso da conjugalidade leva ao sacrifício da autonomia.Interdependência e individualidade. Estranho paradoxo este que habita nos casamentos e que geram tensões internas ao casal e aos cônjuges. Como ser um, ao mesmo sendo dois? Como manter a privacidade em um espaço de intimidade?               
Não há fórmulas prontas e mágicas para se ser um casal feliz. Nem sei se existe um casal feliz, ao menos em sua plenitude. Talvez seja menos romântico falarmos em um casal onde o grau de satisfação predomina sobre as insatisfações. Talvez seja melhor falarmos em equilíbrio, mesmo que a corda balance um pouco de vez em quando.
              Intimidade e privacidade. Aniquilada a privacidade aniquila-se o indivíduo propriamente dito. Excesso de intimidade é fusão. Aniquilada a intimidade, aniquila-se o compartilhamento. Excesso de individualidade é solidão. O casamento não é só duas pessoas que decidem juntar os trapos e morarem juntas. Casamento é um constante trabalho psíquico.
                Um bom nível de satisfação conjugal mais perene requer, entre outras coisas, a valorização mútua dos cônjuges, humor, amizades em comum, compartilhamento de ideias e projetos de vida, compartilhamento de gostos, segurança, admiração, ternura, carinho e respeito. Um casamento é funcional quando o dar e receber é espontâneo e recíproco. Durante o ciclo de vida familiar o casamento sofre consequências e transformações, e assim o nível de satisfação igualmente varia. É comum haver um maior nível de satisfação conjugal nos anos iniciais, caindo um pouco ou um tanto com o tempo, porém quanto mais tempo se passa juntos volta a aumentar o nível de satisfação.  Graficamente é como se fizesse uma curva do U.
O casamento não é o mesmo durante todo o percurso de sua existência. As pessoas dos cônjuges mudam, mudam seus interesses, motivações e valores, circunstâncias de vida influenciam a maneira de o casal interagir entre si e com o mundo circundante. Diria que, no mínimo, há três casamentos, que mudam sua moldura, seu conteúdo e sua contratualidade. Há o casamento sem filhos, o casamento com filhos e o casamento quando os filhos saem de casa. São etapa evolutivas da vida familiar que o casal e cada membro devem lidar e melhor manejar.
       A qualidade do casamento é fundamental para sua funcionalidade e longevidade. Como observa Minuchin, em seu livro FAMÍLIA: FUNCIONAMENTO E TRATAMENTO (ARTMED), casais satisfeitos e funcionais são aqueles que conseguem preservar laços afetivos fortes entre os cônjuges, capazes de flexibilizar a estrutura de poder, papéis e regras de seu relacionamento ao longo do tempo e das mudanças e das crises familiares, bem como desenvolver padrões de comportamento adequados e adaptativos. O casamento é um importante espaço vital para a auto realização, visto que o ser humano deseja amar e ser amado, ser respeitado e admirado, sentir-se pertencente e seguro, compartilhar sonhos, desejos e histórias. E como é bom poder dividir tudo isto com alguém que para nós é significativo no transcorrer de nossas vidas.

             CONTINUA NO PRÓXIMO POST 
    
     Como leitura auxiliar, temos: AS RELAÇÕES ENTRE A SATISFAÇÃO CONJUGAL E AS HABILIDADES SOCIAIS PERCEBIDAS NO CONJUGE, de Aline Sardinha, Eliane Falcone e Maria Cristina Ferreira (http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n3/a13v25n3.pdf).

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