terça-feira, 31 de março de 2020

DIÁRIO DE AULA CLÍNICA II - adolescência, parte 2



As 8 Fases do desenvolvimento Psicossocial de Erik Erikson ...




 Erikson propôs uma concepção de desenvolvimento humano em 8 fases (ou estágios) psicossociais, que vai do nascimento até a morte, pertencendo as quatro primeiras ao período de bebê e de infância a cada quinta a adolescência, e as três últimas aos anos adultos e à velhice. Cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial, sendo uma vertente positiva e uma negativa. Vide, por exemplo:

A teoria de Erik Erikson dá especial importância ao período da adolescência, notadamente por ser uma transição entre a infância e a idade adulta, onde ocorrem acontecimentos relevantes para a o desenvolvimento da personalidade adulta.

A identidade na adolescência: adolescencia, adolescentes ...
Para Erikson é nessa etapa (adolescência) onde existe a crise entre IDENTIDADE x CONFUSÃO DE IDENTIDADE. É nesse estágio onde deve emergir a identidade do indivíduo. Em termos evolutivos, espera-se que tal etapa se encerra aproximadamente aos 19/21 anos, um pouco mais ou um pouco menos.

O jovem experimenta uma série de desafios que envolvem suas atitudes para consigo,  com seus amigos, com pessoas do sexo oposto, amores e a busca de uma carreira e de profissionalização. Na medida em que as pessoas à sua volta ajudam na resolução dessas questões desenvolverá o sentimento de identidade pessoal, caso não encontre respostas para suas questões pode se desorganizar, perdendo a referência. 
Neste estágio, os indivíduos estão recheados de novas potencialidades cognitivas, exploram e ensaiam estatutos e papéis sociais, devido à sociedade fornecerem este espaço de experimentação ao adolescente. É neste âmbito que ressalta um dos conceitos eriksonianos que ajuda a conferir tanta relevância a este estágio, ou seja, a moratória psicossocial (vide:https://revistaeducacao.com.br/2017/05/08/erik-erikson-e-construcao-da-identidade/), período de pausa necessária a muitos jovens, de procura de alternativas e de experimentação de papéis, que vai permitir um trabalho de elaboração interna.

Para tal assunto, leiam:



segunda-feira, 30 de março de 2020

DIÁRIO DE AULA - CLÍNICA II (ESPECIAL) ADOLESCÊNCIA, parte I


Por que a adolescência é uma fase tão difícil? | Superinteressante





ADOLESCÊNCIA é a fase que marca a transição entre a infância e a fase adulta. Caracteriza-se por alterações em diversos níveis — físico, psicológico e social — e representa para o indivíduo um processo de distanciamento de formas de comportamento e privilégios típicos da infância e de aquisição de características, atributos e competências que o capacitem a assumir os deveres e papéis social do adulto.
Os 5 C's do Desenvolvimento Positivo de Crianças e Adolescentes ...


Embora para o adolescentes (doido pra fazer 18 anos, e ser adulto) seja um período longo, na verdade a adolescência é um período de transformações rápidas e radicais. A neurocientista britânica Sarah-Jayne Blakemore, especialista em cérebro adolescente, descreveu o desafio dessa etapa do desenvolvimento humano como "uma tempestade perfeita", graças ao aumento súbito e simultâneo de "alterações hormonais, neurais, sociais e de pressões da vida".

Devido ao escasso espaço do blog, SUGIRO procurar no Google o seguinte texto A PSICOLOGIA DA ADOLESCÊNCIA, Vera Lúcia do Amaral. Bastante simples e bem esclarecedor.
]
Outro texto também que poderá nos ajudar a pensar melhor a adolescência é: http://www.aberta.senad.gov.br/medias/original/201704/20170424-094551-001.pdf

Leiam ambos para continuarmos.

DIÁRIO DE AULA CLINICA I: FOCO TERAPÊUTICO


Conheça os tipos de psicoterapia e suas características




Nenhuma psicoterapia é igual a outra. Não falo aqui de técnica, mas sim da relação que se estabelece entre um terapeuta e seu paciente. É aquela velha máxima, cada caso é um caso. Como escreve Mauro Hegenberg, psiquiatra e doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo, “os terapeutas não trabalham todos de igual maneira, nem é razoável supor que todos os pacientes devem ser tratados da mesma forma”. Embora sejam óbvias tais afirmações, segue ele, “na prática a tendência é cada terapeuta defender seu modo próprio de trabalhar, considerando-o, em geral, o mais adequado para todos os pacientes”.

Particularidades da personalidade e cultura de cada psicoterapeuta à parte, existem abordagens que me melhor se ajustam às suas necessidades, queixas, psicopatologias e até mesmo temperamento e jeito de ser. Nem todas pessoas e indivíduos ou grupos se se beneficiam de abordagens terapêuticas X, Y ou Z.
Psicologizzano: E QUANDO A PSICOTERAPIA FALHA?Uma questão a se levantar em relação às psicoterapias é também em relação ao tempo de duração delas. Há técnicas e terapias que tendem a ser de longo prazo, outras de menor prazo. Têm abordagens que são de 10/24 sessões, ou até menos, como, em alguns casos, a TCC clássica e a PIB (psicoterapia interpessoal). Outras se arrastam até por longos anos, como é o caso da Psicanálise em seu modelo mais ortodoxo.
No presente texto, iremos no dedicar as chamadas psicoterapias breves, que são aqueles que trabalham com um foco, muitas elas, inclusive, com tempo definido desde o início.
Existem várias maneiras de se trabalhar em psicoterapia breve, mas todas elas manejam com o conceito de FOCO TERAPÊUTICO, que é o orientador de todas a terapia. Mas o que vem a ser FOCO?
O que é psicoterapia breve?



Foco é exatamente aquilo que vai ser enfocado na psicoterapia, aquilo que vai ser que é prioritário em meio a amplitude de assuntos que podem ser abordados. Em outras palavras é aquilo que mais se destaca. E o que é que mais que se destaca, em princípio, do que as queixas do próprio paciente/cliente (o que lhe levou à psicoterapia). Neste sentido uma abordagem focal se estrutura estrategicamente a partir de:

a) a queixa trazida pelo cliente;
b) a eleição de foco para o trabalho;
c) a compreensão diagnóstica; e
d) a relação terapêutica.

Livro: Psicoterapia Breve de Orientacao Psicanalitica - Eduardo ...Segundo o psiquiatra e psicanalista Eduardo Braier,: "trata-se de uma situação que se torna presente na vida do sujeito, diante da qual e por motivo de cuja ação descompensadora surgem ou podem surgir nele dificuldades de índole psíquica que operam como obstáculo para alcançar um desenvolvimento adequado".

O foco de trabalho terapêutico tem sua estrutura e seu eixo central tanto no MOTIVO DA CONSULTA, como no CONFLITO SUBJECENTE inserido em uma situação geralmente interpessoal e/ou grupal. Por exemplo> angústia (queixa) frente a uma decisão se assume ou não ou bolsa de estudos para estudar no exterior, relacionada a dificuldades de separação frente a sua família, mais precisamente frente a sua mão excessivamente protetor da qual ela mantém um vínculo de forte dependência (CONFLITO SUBJECENTE).
Além do motivo da consulta (queixa) e dos conflitos subjacentes, na estruturação do foco a ser trabalhado, também entram aspectos históricos-genéticos (caracterológicos) do paciente/cliente, bem como momento evolutivo presente (CICLO DE VIDA). É comum eu a queixa seja derivada de conflitos subjacentes, nem sempre perceptíveis claramente pelo cliente.

Em resumo, trabalhar focalmente compõe-se das seguintes características:

LIMITAR OBJETIVOS (focar em lidar com conflitos mais emergentes e atuais);
MANTER-SE NO FOCO
ATIVIDADE POR PARTE DO TERAPEUTA
ÊNFASE NA INTERVENÇÃO IMEDIATA (direcionado ao presente/emergente)

Freudiana, junguiana, comportamental… Saiba como escolher a sua ...


Atuar em foco, portanto, requer trabalhar com ATENÇÃO SELETIVA-NEGLIGENTE, isto é, selecionar dentro do material do cliente (discurso/narrativa) aquilo que tem pertinência com o foco, e negligenciar aspectos extrafocais.

Todavia, situações inesperadas podem acontecer na vida com cliente durante o trabalho terapêutico, e que provocam o surgimento de emoções/pensamentos perturbadores de magnitude e intensidade, que exige, portanto, um inevitavelmente afastamento da temática focal (chamamos isso de PONTO DE URGÊNCIA). Nesses casos, faz-se necessário intervir nos aspectos descompensadores e ansiogênicos da situação inesperada, para depois, sim, poder voltar a focar o que antes se estava trabalhando.  Exemplo: o falecimento de um ente querido e muito próximo.

Para reforço, vide os seguintes slides: 

SUGESTÕES DE LEITURAS:



DIÁRIO DE AULA: CASAMENTO


   CASAMENTO E A PSICODINÂMICA DO CASAL


 





Em sociedades como a nossa os casamentos são monogâmicos. Outras sociedades, culturas e momentos históricos possuem organizações conjugais diversas, tais como casamentos poligâmicos ou poliândricos. O casamento monogâmico é entendido como um vínculo entre duas pessoas, geralmente de caráter íntimo, afetivo e sexual, que pressupõe coabitação. A própria etimologia nos remete à ideia de coabitar, visto que vem da latim medieval casamentum que se refere à cabana, moradia.
                
          O casamento representa uma contratualidade, seja ela social, jurídica, moral, afetiva, psicológica, ou tudo isso junto. Casamento é, pois, contrato (explicito e/ou implícito), é vínculo. É o liame que liga dois seres físico, afetiva e juridicamente. É também, de certo modo, um rito de passagem.

                
São vários os tipos de casamentos. Assim vejamos:
                - casamento civil: celebrado sob aos auspícios do ordenamento jurídico do Estado;
                - casamento religioso: celebrado perante a uma autoridade religiosa;
                - casamento poligâmico: entre um homem e mais de uma mulher;
                - casamento poliândricos: entre uma mulher e mais de um homem;
                - casamento homoafetivo: entre pessoas do mesmo sexo;
                - casamento monogâmico: com a presença de apenas dois cônjuges;
                - casamento arranjado: cuja celebração é combinada por terceiros;
                - casamento putativo: passível de anulação;
                - casamento aberto: aquele em que os cônjuges podem, de comum acordo, ter outros parceiros sexuais.

          O casamento, no sentido de uma vida afetiva íntima, tem grande implicação no mundo adulto. A questão não é casar, pois casar até que é fácil, é manter o casamento em bons níveis de satisfação conjugal. Conviver com alguém envolve sensações, sentimentos, afeição, desejos, sonhos e mutualidade. Segundo Maria de Betânia Norgren e outros, em SATISFAÇÃO CONJUGAL EM CASAMENTOS DE LONGA DURAÇÃO: UMA CONSTRUÇÃO POSSÍVEL (http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n3/a20v09n3.pdf),  para a satisfação conjugal existem diversas variáveis intervenientes, como: características de personalidade, valores, atitudes e necessidades; sexo, momento do ciclo da vida familiar, presença de filhos, nível de escolaridade, nível socioeconômico, nível cultural, trabalho remunerado e experiência sexual anterior ao casamento.
          
                Olhando por uma perspectiva sistêmica a família de origem produz nos indivíduos padrões comportamentais de interação que são transmitidos transgeracionalmente. Assim, crenças, regras, valores e modelos de afetividade são passados de pai para filhos. O casamento é uma oportunidade para se elaborar e construir soluções para velhos conflitos ou repeti-los. Ainda segundo Pincus e Dare, desejos frustrados e sentimentos dolorosos que fazem parte da história dos indivíduos que formam o casal repercutem na interpessoalidade conjugal.
            Na formação de um laço conjugal ocorrem várias articulações psíquicas conscientes e inconscientes, desde a escolha do parceiro amoroso até o legado familiar de origem. Em seu hoje clássico livro A FAMÍLIA NO DIVÃ, Pincus e Dare, ressaltam que desejos inconsumados e sentimentos infantis dolorosos ou não tendem a reaparecer na vivência da conjugalidade. Devido à intensidade do laço afetivo os parceiros podem fazer acordos tácitos e inconscientes baseados nas demandas de cada um. A história do casal se inicia na história pessoal dos parceiros envolvidos.Ao longo do tempo, ao longo da história de um casal haverá de haver momentos gratificantes e de satisfação, bem como momentos de insatisfações e conflitos. A cada conflito superado tanto o casal como os cônjuges vão amadurecendo. Embora idealisticamente falando para muitos o casamento seja uma representação de felicidade, ele é permeado por conflitos, atritos e incertezas. A estabilidade em um casamento está muito relacionada com a capacidade de flexibilizar de cada parceiro envolvido.

Resultado de imagem para casamento, psicanalise                Vários estudiosos do casamento, do ponto de vista psicológico, entendem que nele existe uma espécie de “contrato secreto” onde demandas inconscientes de cada cônjuge se interligam de maneira não escrita e não verbalizada, afinal a conjugalidade é um terreno fértil para reedições de dramas familiares anteriores, assim como para a elaboração de conflitos não bem resolvidos em vivências infantis.
Uma das mais aprofundadas pesquisadoras brasileira sobre o casamento é Terezinha Fères-Carneiro que, junto com colaboradores, tem contribuído sobremaneira para o entendimento da psicodinâmica conjugal. Investigando, por exemplo, a influência do casamento dos pais na construção do laço conjugal dos filhos, afirma que antes mesmo do encontro amoroso, em ambos os psiquismos de cada parceiro já existe uma representação de conjugalidade. Nesta representação psíquica coexiste a história do sujeito, seus ideais de conjugalidade, os mitos familiares da família de origem, bem como as imagens, lembranças e fantasias sobre a conjugalidade de seus pais e de seus antepassados. Tudo isto conjuga e se engendra no futuro eu conjugal do indivíduo.
                E é com base em muitos trabalhos da referida autora que daremos prosseguimento nos próximos posts.

Joaquim Cesário de Mello