sexta-feira, 30 de novembro de 2012

CESTA DE VERSO & PROSA








Ciclo






Queria poder escrever o que sinto
Na verdade, pressinto sucinto corte
Logo desisto de ler e pertencer
Ao que os versos têm a me dizer

Resisto a angustia e as horas caladas
Nos momentos de aflição transito
Entre o que sou não gostaria de ser
Entre o que finjo o péssimo ator

Insisto na busca da elaboração
Tento ver o invisível e desapareço
Só enxergo imperfeição, reabro!
E a mesma velha ferida, repito.

Andressa Costa

terça-feira, 27 de novembro de 2012

LITERALPÉDIA

PERNAMBUQUÊS

     O Nordeste, e mais precisamente Pernambuco, tem sua linguagem própria e peculiar. Mais do que gírias, dialetos ou jargões regionais, trata-se de um verdadeiro idioma nativo, uma língua e linguagem formado ao longo dos tempos: o PERNAMBUQUÊS. Nascido do povo e para o povo o Pernambuquês facilita a comunicação quem dele conhece e é versado. Neste sentido, o LiteralMente blog abre um pequeno espaço para algumas da nossas variedades linguísticas, principalmente aos profissionais de saúde mental que necessitam entender e se fazerem entendidos, bem como construir vínculos autênticos e comunicativos entre si e seus clientes/pacientes. Escutar é entender o que o outro fala e intervir no discurso do outro é ser entendido por quem nos ouve. Vamos lá, pois:

PIXOTOTINHO: menor do que côtoco (pequeno), miúdo, coisa pequena, bem pequenininha.  Sua origem advém da palavra “pixote” que é do vocabulário chinês de Macau (pe xot).

MUNGANGA: termo de origem africana (Moganga) que significa palhaçada, macaquice, molecada.

PANTIM: vem do francês “pantim” (comportamento indesejado) e pra nós representa encenação, mentir com gestos, frescura.

PEBA: do Tupi “pewa”  (chato) e em português acabou por significar algo de baixa qualidade.

BICADO: Quando o cara toma uma ele molha o bico e, portanto, fica bicado (bêbado).

PEITICA: Espécie de ave (Empidonomus varius) que também leva o nome de “saci”. Agora o que isso tem a ver com o significado que em Pernambuco se dá, que é aporrinhação e chato, o Literalpédia ainda não descobriu (aceita-se contribuições).

CABULOSO: sinônimo de peitica. Embora exista o verbo “cabular” (gazear aula) a etimologia é desconhecida. Mistério a ser em breve desvendado pelo Literalpédia. 

XÔXO: existe o termo “muxoxo” que vem de Angola que é o estalido que se faz com a língua e os lábios. Todavia, quando dizemos em alto e bom pernambuquê “xôxo” estamos falando de algo sem graça, xulé, mucho. Sabe aquele coisa xôxa do teu namorado?

PEGUENTO: Vem de pegar. É quando o suor gruda na gente.

ESPRAGATADO: particípio passado do verbo espragatar (amassado).

CAMBITO: é uma espécie de cabide de madeira. Quando falamos no pop “cambito” estamos a falar das “pernas finas” de uma muié.

CÃO CHUPANDO MANGA: donde danado nasceu esta expressão? Cão é muito usado pra falar no demo, na besta fera. Já quem chupa careta invariavelmente faz careta. Daí vem a idea que um “cão chupando manga” é uma pessoa fera, muito bom no que faz. Que nem o LiteralMENTE, modéstia á parte,  que é um blog do cão chupando manga.

PITACO: palpite, dica. Intromissão em conversa alheia. Talvez sua origem tenha a ver com um grego antigo chamado Pítaco que como estadista e legislador ficou conhecido por suas sentenças.

CU DE BOI = problema grande, confusão, situação complicada. Para quem quer entender o por que da expressão, então é só chegar perto do cu do boi pra ver.

ESTAR COM A BOBÔNICA = enfezado, irado, enraivecido. Tal expressão tem a ver com a febre bubônica.

CAGADO = pessoa que tem muita sorte. O cagado aqui deve ter a ver com a expressão também tipicamente pernambucana: “nasceu com o cu virado pra lua”. Não confundir uma pessoa cagada com uma pessoa que fez cagada, pois esta última é de quem faz coisa errada.

QUENGA = prostituta. Como termo quenga vem do Quibundo “kienga” (vasilha). Agora o que a kienga ou a quenga de coco tem a ver com prostituta, cremos que só pagando pra saber.

QUEIJUDO: homem donzelo ou pessoa tabacuda. Por isto quando o caba perde a donzelice a gente diz: “tirou o queijo”. Dizem que tem relação com o ejacular, analogamente parecido com o tirar o leite das tetas de uma vaca.

BURUÇU = confusão, tumulto. Entender a etimologia dá um verdadeiro buruçu.

TRIBUFÚ = mulher feia. A origem da palavra deve ser tão feia que ninguém sabe de onde vem.

ACOCHADO = apertado. Seu antônimo é AFOLOZADO.

PAIA = coisa ou situação ruim. Também é utilizado para falar de Tribufu.

AVEXAR = afobado, agoniado, apressado. Sua morfologia é constituída de prefixo a + verbo vexar.

    Pois é cambada. Agora já dá pra se aproxegar do povo sem arengar. Num carece de aperreio, com o bê-a-bá acima avalie só que já dá pra atender nego abestalhado, abilolado, tabacudo, lesado, traquino, atarantado, invocado, cabuloso, aruá, peçoento, com a gota serena, e até caba com a bexiga lixa, ou que tá comendo brocha, ou tá azuretado ou com inhaca. Só deve tomar cuidado com xexeiro. No pró que já dá pra conversar e a ajudar quem é peba a se transformar em tampa. Mas tem que relar muito pra torar a neurose do pessoal. Porém chegando lá o cara vira uma verdadeira tampa de crush. É que nem veneno de cobra, o psicoterapeuta com o perrnambuquês fica virado num molho de coentro, que nem cão chupando manga. O caba pode emburacá no consultório que a gente tá pronto né pra conversa mole nem fuxico, pois nosso trabalho é ser buliçoso  e catucar a alma humana seja em que língua for. Mas vamos terminar com este lero-lero, pois a gente precisa amarrar o jegue e arribar. Tamos chegando.
___________________
PS:  se o pareia ainda tá encontrando alguma dificuldade, deu um nó cego, e tá um tanto azoretado pensando “diabéisso” se aperrei não pois tem coisa aqui que é do tempo do ronca. E apoi, o Literalpédia que está com a bexiga lixa e num é de potoca e nem de conservar miolo de pote ou encher linguiça tá aqui é exatamente pra arreganhar o verbo. Omi, é só pedir que a gente mostra mais, vissi?

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

CESTA DE VERSO & PROSA


UMA HISTÓRIA NA PALMA DA MÃO
 

                Você já ouviu falar no microconto? Também conhecido como miniconto ou nanoconto, o microconto é um conto contado de maneira minimalista, ou seja, um conto menor que um conto pequeno cuja proposta seja a de deixar ao leitor continuar o mesmo a função de mentalmente “preenchê-lo” ou deduzir a história oculta na história.

                Para que seja um microconto é necessário que ele seja construído em até 150 caracteres, ou se preferirem, mais pós modernamente falando, possa ser tuitado. O mais célebre microconto pertence ao guatemalteco Augusto Monterrso e foi feito com 37 palavras: “quando acordou o dinossauro ainda estava lá”. E este nem é o menor dos contos, visto que outro famoso miniconto foi escrito pelo escritor americano Ernest Hemingway: “vende-se: sapatos de bebê, sem uso” (26 letras).

                O microconto é uma espécie de leitura em alta velocidade onde se enxuga o excesso de palavras e nas poucas palavras restantes o essencial de uma história é contada. Tais prosas miniaturizadas cabem num caixa de fósforo. E nesta qualidade minimalista é que reside o grande desafio do escritor: em pouquíssimas palavras uma história inteira.

                Analogamente na poesia temos o haikai que privilegia a concisão, o laconismo, o sucinto e o objetivo. Um haikai tem três versos dispostos verticalmente, e na sua forma curta e compacta revela a sensibilidade poética em seu olhar agudo e ferino sobre a essência das coisas, da natureza e da vida. Tanto com o haikai quanto com o microconto o autor brinca com as palavras, seus conteúdos, sentidos e significados. E nessa forma um tanto irônica e lúdica se constrói lindas imagens e frases poéticas, como podemos ver quase apalpando neste haikai de Paulo Leminski: “viver é super difícil/o mais fundo/está sempre na superfície”, ou neste de Mário Quintana: “diálogo bobo/-abandonou-te?/-pior ainda: esqueceu-me...”.

                O microconto coloca o leitor em um lugar de cúmplice, visto que, como o objetivo do texto é sugerir, cabe a quem o ler “preencher” suas lacunas e continuar mentalmente a história. O que diferencia exatamente o microconto do haikai e dos aforismo é a existência de uma história. Neste ponto podemos dizer que um microconto é mais do que um conto breve e incompleto, mas sim uma abertura que cabe ao leitor continuar.

                E assim, vários autores ao longo do tempo já experimentaram e já “brincaram” com o microconto. Abaixo alguns exemplos:

“Eu ainda faço café para dois” (Zac Nelson)

“Uma gaiola saiu à procura de um pássaro.” (Kafka)

“Encontrou o amor verdadeiro nove meses depois” (Jody Smith)

“Um homem, em Monte Carlo, vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, se suicida.” (Tchekhov)

“...cheguei. E ela não deixou nem um bilhete” (Joaquim Cesário de Mello)


“A velha insônia tossiu três da manhã”
(Dalton Trevisan)

y despues de hacer todo lo que hacen, se levantan, se bañan, se estalcan, se perfum, de peiñan, se visten, y asi progressivamente van volvendo a ser lo que son” (Julio Cortázar)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

LITERALPÉDIA

Hoje o Literalpédia oferece aos seus leitores um teste para aferir sua personalidade. Responda uma alternativa para cada questão. A resposta do teste que irá aferir quem você é encontra-se no post logo abaixo:



1)Em que momento do dia você se sente melhor:
(a) Dormindo
(b) De manhã na privada
(c) De noite na cama antes de dormir
(d) Na hora da novela

2)Quando você se olha no espelho você vê:
(a) Uma cara feia
(b) Que tá precisando de uma plástica
(c) Brad Pit ou Angelina Jolie
(d) A mesma cara de sempre
               
3)Quando você se masturba você:
(a) se ama
(b) tem a melhor relação sexual da sua vida
(c) faz uma DR
(d) você não tem hábito de se masturbar

4) Para você as preliminares são:
(a) o jogo que tem antes do jogo principal
(b) quando se goza
(c) os finalmentes
(d) você não sabe, você dorme antes de terminar
               


5) Quando você está fazendo sexo, o que geralmente pensa?:
    (a) em mamãe ou em papai
    (b) se vai demorar muito
    (c) se deixou a torneira aberta
    (d) o que é que você está fazendo ali



6) O lugar apropriado para o sexo é:
      (a) qualquer lugar
      (b) que haja risco de ser flagrado ou olhado
      (c) em qualquer lugar desde que haja espelho
      (d) em casa e na cama e com a esposa ou marido

7) Quando você se masturba você chega ao orgasmo?
      (a) Não, pois o(a) companheiro(a) sexual é importente/frígica
      (b) Sim, mas fica com sentimento de culpa porque seu companheiro(a) não
      (c)  Que é isso?
      (d) Já disse, não me masturbo

8) Para você Stravinsky é:
(a) Marca de violino
(b) Marca de vodka
(c) Algum diretor sueco de cinema de arte
(d) Alguém que ficou estrábico bebendo whisky

9) Se você fosse um super-herói que super-herói você seria?
(a) Eu mesmo
(b) Supermercado
(c) Superiste
(d) Superficial

10) Você conheceu alguém no sábado. O que você fará em relação a ele(a) no domingo
(a) Acordo ele(a) pro café da manhã
(b) Antes do café da manhã pergunto seu nome
(c) Peço divórcio
(d) Chamo ele(a) pra conhecer mamãe

11) Quando você está na cama à noite, nos últimos momentos antes de dormir você fica:
(a) Dormindo
(b) Deitado
(c) Com sono
(c) Que pergunta mais besta

12) Se você fosse um bicho que bicho seria?
            (a) Uma bicha
            (b) Um ursinho de pelúcia
            (c) um bicho de pé
      (d) um ser humano

13) Quem é Mark Zuckerberg?
(a) um cara que ganha muito dinheiro com a imbelicidade humana
(b) um cara que ganha muito dinheiro com a imbelicidade humana
(c) um cara que ganha muito dinheiro com a imbelicidade humana
(d) Mark quem?

14) Quando faz suas necessidades fisiológicas na privada o que você logo após faz?
(a) Fico olhando minha obra-prima
(b) Sento e sinto que poderia dar mais de mim
(c) Lembro-me de Chico Buarque (“Oh, pedaço de mim/oh, metade afastada de mim”)
(d) Me sinto culpado pela merda que fiz

15) Se você pegasse seu cônjuge na cama à noite com alguém que faria?
(a) Pediria desculpas por não ter batido na porta primeiro
(b) desde criança adoro ursinhos
(c) pediria para dormir no meio porque tenho medo de escuro
(d) nada, pois sempre bato na porta primeiro

16) Para você “Cinquenta Tons de Cinza” é:
(a) o melhor livro que já li
(b) um livro muito profundo
(c) um livro de auto-ajuda
(d) um livro sobre pintura

17) Ao olhar uma folha de papel em branco o que você vê?
      (a) um coelho branco na neve
      (b) dois coelhos brancos fazendo sexo na neve
      (c) branca de neve nua
      (d) uma folha de papel em branco

18) Se você lesse todas terças o Literalpédia:
(a) Seria um literalouco
(b) Seria literalmente viciado
(c) Seria um literaltista
(d) Jamais perderia tempo lendo bobagens
Veja no post abaixo o resultado do teste de personalidade.





RESPOSTA DO TESTE ACIMA

RESULTADO DO TESTE DE PERSONALIDADE
 Para cada resposta dada pontue da seguinte forma:
 (a) = vale quatro pontos
 (b) = vale três pontos
 (c) = vale dois pontos
 (d) = vale um ponto



- Se você no total pontuou acima de 60 pontos
VOCÊ É UMA PESSOA QUE NECESSITA IR A MARCOS CREDER (PSIQUIATRA)
 
- Se você no total pontuou entre 59 a 36 pontos
VOCÊ É UMA PESSOA QUE NECESSITA IR A JOAQUIM CESÁRIO (PSICÓLOGO)

- Se você no total pontuou entre 35 a 20 pontos
VOCÊ É UMA PESSOA QUE NECESSITA IR A AMBOS

- Se você no total pontuou abaixo de 20 pontos
VOCÊ É UMA PESSOA QUE NECESSITA DE UM COVEIRO, POIS JÁ MORREU E NÃO SABIA


domingo, 18 de novembro de 2012

O LADO POSITIVO DA PSICOLOGIA: EM BUSCA DO PONTO DIALÉTICO



        A Psicologia, enquanto ciência, a partir do início do século XX direcionou muito de sua atenção, mormente a Psicologia Clínica, a estudar e tentar entender o que leva o ser humano a ser depressivo, ansioso, fóbico, neurótico ou psicótico, enfim a buscar ajudar aquele que sofre. Voltou-se mais, portanto, a temática da “doença mental” em detrimento à “saúde mental”. Neste sentido temas como felicidade passou a ser assunto de guetos de prateleiras centradas em livros de autoajuda. Parece que a questão da felicidade humana era vista pela Psicologia moderna com certo acanhamento e quase tabu. Basta olharmos para a grande curricular de um curso de Psicologia para observar que existem disciplinas do tipo Psicopatologia, Psicoterápicas, Clínica, Psiquiatria e nenhuma cujo foco seja explicitamente Felicidade. Interessante ressaltar que contribuir para que um indivíduo seja menos deprimido, ansioso ou neurótico, por exemplo, não o faz uma pessoa feliz. Ou seja, retirar o que incomoda e faz o sujeito sofrer não aumenta seu grau de felicidade.
                A Psicologia não deve se envergonhar de cientificamente pesquisar, estudar, refletir e teorizar sobre felicidade, bem-estar e prosperidade, afinal isso também faz parte da natureza humana ou, ao menos, do que anseia e busca o ser humano. Não devemos, é claro, deixar em enfocar os aspectos negativos e maléficos do existir humano, mas ampliar o entendimento do espectro humano para também enfocar seus aspectos positivos e autorealizantes. Não sou defensor de uma mudança de paradigma propriamente dita (do negativo ao positivo), mas de uma ampliação englobante e plural (negativo e positivo). Vejamos por que.
                Peguemos um copo meio preenchido com água. Haverá pessoas que dirá que ele está meio cheio. Todavia haverá também pessoas que dirá que ele está meio vazio. Existem pessoas que têm uma tendência a olhar suas vidas pelo lado que lhes falta e pouco para o que elas têm. Primariamente falando este é um dos indicadores básicos de felicidade e bem-estar: como percebemos, interpretamos e construímos nossa visão do mundo. Alguns estudos recentes apontam que cerca de 50% da sensação de felicidade tem base genética-biográfica. E a outra metade, a metade não genômica-histórica? Cerca de 10% aproximadamente tem a ver com as circunstâncias da vida e 40%, por sua vez, do chamado senso de felicidade é resultado de ações e atitudes, isto é, do que o ser humano faz e age efetivamente em seu cotidiano. Por esta perspectiva não estar se sentindo feliz não é somente culpa da genética ou do azar, mas igualmente em nossa capacidade e potencial em superar obstáculos e vencer dificuldades, afinal obstáculos e dificuldades são obstáculos e dificuldades e não problemas. Nós é que transformamos os mesmos em problemas.
                Sim, a mente tem poder. Embora o poder da mente tenha seus limites, dentro dos seus limites ela tem tanto o poder de adoecer e infelicitar a pessoa, quanto de fazê-la feliz e otimizada, independente das adversidades que a vida nos oferece.
                Ao longo dos meus mais de vinte anos como psicoterapeuta fui aprendendo com meus outros que chamo de clientes que a psicoterapia não é uma relação profissional de ajuda que visa apenas “tratar” de transtornos, mas também auxiliar a esse outro a desinibir-se, e desinibindo-se avançar com seus potenciais rumo a sua melhor auto realização. Busquei olhar igualmente para os potenciais, motivações, sonhos e capacidades adormecidas, descobrindo que a alegria, a satisfação e a esperança são tão “material clínico” quanto às ansiedades, as angústias, os medos e a melancolia humana. Coaching, coping e resiliência são conceitos operacionais que passaram a fazer parte do meu acervo e arsenal técnico-profissional.
                Uma atitude positiva frente à vida gera emoções positivas. Pessoas que geralmente restringem ou inibem tais atitudes podem, por exemplo, tentar suprir a falta de com comportamentos compulsivos, entre eles o de comprar, pois comprar bens materiais traz prazer, alegria e sensação de bem estar, porém prazeres, alegrias e sensações de bem estar momentâneos e passageiros. O que nos torna, então, felizes? Prazer, alegria e sensação de bem estar, todavia prazer, alegria e sensação de bem estar mais perenes e duradouros.  E como se consegue isto? Embora desde a Antiguidade Grega se saiba parte como, embora seja simples, muitas vezes temos dificuldades de implementar e botar em prática. Vejamos.
                Primeiro exercitar a atenção plena, ou seja, o velho e sábio carpe diem romano.  Capinar o dia é viver maximamente o presente. Segundo surfar na experiência (flow), ou seja, permitir-se fluir na vida, imergir e se envolver no que se está fazendo, sentir prazer na atividade e nos desafios. Quando se está realmente envolvido em uma atividade ou tarefa com alta motivação intrínseca não se sente sequer o tempo passar. Como afirma o psicólogo húngaro Mihályi Cslszentmihalyi quando uma pessoa está em flow-feeling ela utiliza toda suas capacidades e habilidades, experimentando enorme satisfação e prazer pessoal. Outro recurso que podemos utilizar é o degustar e apreciar as coisas boas da vida, sem pressa ou açodamentos. A atenção plena, o se permitir fluir e o saborear o instante faz a nossa vida ser sentida de maneira muito mais interessante.
                Paralelamente ao embatimento das dores construídas desde o passado e da visão negativista que podemos ter de nós mesmos e do mundo a partir de nossa infância, há de se buscar o fortalecimento dos aspectos funcionais da personalidade. Enfocar e estimular as emoções positivas fortalecem não somente o ego e o self da pessoa, mas também até mesmo o sistema imunológico do mesmo. E o que são emoções positivas? Alegria, serenidade, tranquilidade, contentamento, amor, esperança, são exemplos de emoções positivas.
 Os fatores salutogênicos são e devem ser trabalhados em psicoterapia, além dos fatores patogênicos. Por salutogenia se entende aspectos inerentes à personalidade, bem como hábitos considerados saudáveis para o sujeito, tais como atividades físicas, práticas de esporte, bom nível de lazer, hobbies, boa alimentação, amigos e rede social satisfatória. Um indivíduo sofrente apresenta um desequilíbrio na balança entre os fatores patogênicos e salutogênicos, com inclinação para o polo patogênico. O reequilibrar-se não é somente diminuir o peso da patogenia, mas igualmente aumentar o lado da balança pertencente à salutogenia.
                Toda boa psicoterapia visa (além do alívio sintomático e/ou resolução de situação-problema porque passa o paciente/cliente) elevar as forças pessoais já existentes no sujeito, reconhecendo os comportamentos adaptativos que servem de proteção a futuros estressores e dificuldades. É como se fortalecesse a pessoa para outros possíveis enfrentamentos na vida, dando espaço ao florescimento de um sujeito antes obstaculizado em seus potenciais adormecidos. Uma pessoa assim mais fortalecida e mais autêntica e mais realizada é, inevitavelmente, mais autoconfiante e mais engajada com a vida e traz consigo uma autoimagem menos negativa e, consequentemente, mais positiva. Embora isto tudo não seja garantia de felicidade, não se é feliz sem isto. E o isto aqui empregado resume-se em um sentido mais satisfatório de vida. Com sentido de vida o sujeito se motiva para a própria vida e aprofunda sua própria existência.
                 Breve, em nova postagem, demonstraremos algumas técnicas mentais que auxiliam no desenvolvimento positivo do nosso psiquismo.


Joaquim Cesário de  Mello

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

CESTA DE VERSO & PROSA

BOA NOITE, MAMÃE




       “Boa noite, durma bem". Era com essas brandas breves palavras que sua mãe encerrava o dia, como em todos os dias, apagando a luz e encostando com leveza a porta do quarto. O menino em sua perplexa mudez não lhe dirigia de volta respostas, pois ela não fazia perguntas, apenas assinalava com enérgica determinação o exato momento em que fechava os espaços, trancafiando-o isolado em sua costumeira solidão noturna. Era uma frase terrível aquela que sempre antecedia anunciante o horror que logo se seguia ao surgimento das horas sem brilho, tão sombrias e tenebrosas quanto a métrica parte que lhe cabia na casa adormecida dos rumores diurnos. Prometera-se, à boca calada, que quando filho tivesse jamais a ele a pronunciaria, na ânsia dos pais em cedo amadurecerem os filhos, muito embora, quando estes chegarem ao tempo de visitarem outros leitos, persistisse - em seus agora chamados velhos - o indocicado sabor das recordações encobridoras das vacâncias dos quartos ao lado. O gosto das reminiscências é o vestígio ainda não apagado das coisas passageiras, enquanto a nossa natureza pelas permanências aprimora a fatalidade dos desgostos, afinal o que em nós continua é somente o que foi instituído pelos caprichos da memória. A ausência é a essência das lembranças.
       Porém, à época em que o menino ainda idealizava filhos vindouros, como quem aguarda em tocaia sonhos aos quais entregasse por inteiro seu espírito e suas inquietudes aos embalos incoerentes dos devaneios substitutos da vigília, soterrava o desejo pela ida à cama dos pais embaixo de toneladas de medo. Logo este afeto primitivo, com o qual viemos à vida, que em seu impensado peso nos fixa ao chão do instante como as profundas raízes das estátuas públicas de mármore. Por mais que a realidade e seus breus lhe assustassem o peito onde arfava palpitante o ímpeto de se apaziguar em meio aos seus, era maior o temor de se aproximar da cama de casal que a ele era imensa e sólida, ornamentada em robusta madeira maciça de lei, lugar que, com certeza, pensava, suportaria abrigar todas as crianças do mundo e o peso de seus sustos. Assim, por receio que lhe impedissem o assentamento junto aos corpos alheios (de expulsão já bastava o útero), trocava as hesitações e as rejeições pré-maturas pelas assombrações habitantes do quarto escuro. O assobio das brisas invernais e o esvoaçar sobressaltante das cortinas bailantes frente a entreabertura das janelas, acenavam fantasmas de sombras e gemidos, que nem o vedar das pálpebras evitaria - o negrume sombrio do quarto muitas vezes era preferível à escuridão sem cor dos olhos fechados. Na rua, cachorros uivavam sentimentos inumanos enquanto o menino em sua cama escutava ruídos de menino.
       Longos são os anos que separam o menino do adulto. Não mais existem os pavores infantis, abandonados naquele quarto onde hoje possivelmente dorme algum outro menino. Sequer restou a cama de casal proibida e seus residentes. Por que haveria ele de temer agora ilusórios espectros noturnais se os fantasmas de suas perdas perambulam até mesmo à luz do sol? O menino formado homem sabe que a substância do medo é perene e dela é feita a solidão, o que muda é a sua aparência e a sua superficial presença. Talvez por isso os mortos virem assombrações: quando pequenos, tememos a invisibilidade das trevas e a cegueira da escuridade, esvanecidos reaparecemos indefinidos para sermos vistos, pois morrer não é perder vida, é desaparecer, e o exercício da eternidade bem pode ser o de espantar o sono das crianças, nesses tempos desérticos em que a saudade ocupa o vazio deixado no rastro da sonoridade impronunciável de um simples breve "boa noite".


Joaquim Cesário de Mello