domingo, 27 de agosto de 2017

O HOJE E O AMANHÃ

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Muitas vezes, por várias vezes, utilizei-me aqui no blog da expressão latina Carpe Diem, comumente conhecido em português como aproveite o dia. Literalmente carpe significa desfiar, colher, extrair, gozar. Vem de carpe o verbo carpir (extrair, capinar). Carpe Diem é um termo em latim que nós legamos do poeta satírico romano Horácio de sua ode nº 11 (ode a Leucónoe) do livro 1 das Odes. Lá encontramos a seguinte sentença: "carpe diem quam minimum credula postero", ou seja, "colhe o hoje e preocupa-te o menos possível com o amanhã". Embora esteja claro o que quis dizer o poeta, discordarei um pouco dessa relação diametralmente oposto entre o hoje o amanhã, isto é, de um hoje hipervalorizado e um amanhã hiperdesprestigiado. 
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Não confiar no futuro e retirar do presente todas suas energias dá-nos a falsa primeira impressão de que a vida não pode ser economizada para o amanhã, como se no amanhã todos os frutos hoje maduros estivessem podres. Não é bem assim. Excesso de futuro compromete o viver no presente, assim como manter-se preso eternamente ao passado gera depressão. É necessário saber harmonizar a convivência existencial e factual da temporalidade tripartida em passado, presente e futuro. Somos ao mesmo tempo os três tempos. Atenho-me ao dito pelo escritor e dramaturgo Oscar Wilde quando disse que "cada homem é, em cada instante, tudo o que foi e tudo o que será". Sim, só podemos perceber o tempo, como já afirmava Santo Agostinho, no momento em que ele transcorre, isto é, no instante presente. Dentro da visão agostiniana o futuro é onde os fatos que hoje vivenciamos serão passado. Eu diria até mais: é no presente que plantamos muito das raízes arbóreas dos frutos que amanhã colheremos. Vivemos, assim, em um dilema entre usufruir o instante ou o zelar pelo amanhã.
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Venhamos e convenhamos, se carpe diem é aproveitar o dia e se depois desse dia houver o dia seguinte e depois deste o vindouro e assim sucessivamente por um bom tempo indefinido em seu inevitável término, o carpe diem de hoje é semente para o carpe diem subsequente. É pertinente não deixar para depois (futuro) o que podemos fazer agora (presente), mas também devemos cuidar para dar condições de fazer amanhã o que não podemos fazer hoje. Exemplo: se uma pessoa ganha R$ 5.000,00 para viver a vida e gasta todo o seu rendimento mensal com boates, jantares e roupas de grife poderá não realizar seu sonho de viajar pelo mundo como mochileiro. Para realizar tal desejo mediato é preciso abrir mão de alguns prazer imediatos. Não é necessário abdicar totalmente do presente, porém encontrar um meio-termo entre os prazeres imediatos (curto prazo) e mediatos (longo prazo), tipo: frequentar menos as boates, espaçar os jantares e não comprar tantas roupas mensalmente, porém bimensalmente ou até trimestralmente, afinal por que comprar um jeans diesel todo mês? Assim a pessoa gastará algo como R$ 3.500,00 ao mês e guardará R$ 1.500,00 todo mês. De grão em grão a galinha enche o papo. Daqui algum tempo haverá reserva financeira suficiente para bancar a aventura mochileira, isso sem abrir mão de boates, jantares e roupas.
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Hedonismo x eudaimonismo. No hedonismo (do grego arcaico "prazer") o prazer é o bem supremo da vida humana, o caminho para se atingir a felicidade. No eudaimonismo (eu daímõn em grego significa "bom espírito") a felicidade é um objetivo, uma finalidade. Escreveu Aristóteles: "a felicidade é um princípio; é para alcançá-la que realizamos todos os outros atos; ela é exatamente o gênio de nossas motivações". O hedonismo prega o valor imediato enquanto o eudaimonismo propõe perseguir a felicidade no amanhã a partir dos atos que fazemos hoje. No hedonismo busca-se ceder ao imperativo dos desejos. Na eudaimonia busca-se escolher os desejos que deverão ser satisfeitos.
Sabemos, a contragosto, da brevidade da vida. Cabe-nos, em parte, melhor escolher entre mais vida em nossos dias ou mais dias em nossas vidas. Ainda creio que a mais sábia escolha é o caminho do meio. É uma questão existencial de conciliar quantidade com qualidade. Prefiro uma maior qualidade com maior quantidade do que muita qualidade com pouca quantidade. Uma qualidade bem dosada dura mais tempo. 

Joaquim Cesário de Mello

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO

De acordo com Laplanche e Pontalis (2001), na dinâmica psíquica, em psicanálise, o superego tem como função

(a)    adaptar-se a novos contextos, flexibilizando as atitudes do ego.
(b)   garantir que as necessidades básicas de sobrevivência do sujeito sejam atendidas.
(c)    julgar e censurar o ego com base na consciência moral e na formação de ideais.
(d)   permitir o livre escoamento da libido.
(e)   contrabalancear as exigências morais feitas pelo id.
(Ano: 2015| Órgão: HCFMUSP)

Segundo a teoria estrutural da mente proposta por Freud, o último componente do aparato psíquico a se desenvolver é o: 

(a) ego
(b) consciente
(c) superego
(d) inconsciente
(e) id
(Ano: 2015  | Órgão: TJ-PI)
  
Na perspectiva de Freud, a personalidade humana – incluindo suas emoções e seus esforços – origina-se de um conflito entre moção (impulse) e restrição – entre nossos impulsos biológicos agressivos em busca do prazer e nossos controles sociais internalizados sobre esses impulsos. Freud sustentava que a personalidade era o resultado de nossos esforços no sentido de resolver esse conflito básico – para expressar essas moções (impulses) de modo a produzir satisfação sem trazer também culpa e punição. Freud teorizou que os conflitos estão centrados em três sistemas que interagem: id, ego e superego. A partir de então, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) Id contém um reservatório de energia psíquica inconsciente que, de acordo com Freud, luta para satisfazer impulsos sexuais e agressivos básicos. O id opera com base no princípio do prazer, exigindo gratificação imediata.
( ) Ego é a parte “executiva” e consciente da personalidade que, de acordo com Freud, serve de mediadora entre as exigências do id, do superego e da realidade. O ego opera com base no princípio da realidade, satisfazendo os desejos do id de maneira a obter o prazer de maneira realista, em vez de dor.
( ) Superego é a parte da personalidade que, de acordo com Freud, representa ideais internalizados e fornece padrões para julgamento (a consciência) e futuras aspirações.
( ) Como as demandas do superego quase sempre são opostas às do id, o ego luta para reconciliar os dois. É o “executivo” da personalidade, mediando as demandas impulsivas do id, as demandas restritivas do superego e as demandas da vida real do mundo exterior.
A sequência está correta em 

(a)    V, V, V,V
(b)   V, F, V, F
(c)    F, V, F, V
(d)   V, V, V, F
(e)   V, F, F, V

(Ano: 2017 |  Órgão: TRF - 2ª REGIÃO)


Segundo Freud, o id é a parte fundamental da personalidade, fonte de:

(A) todas as energias instintivas e que assim fornece o dinamismo de base à personalidade.
(B) matizes afetivos e pejorativos que representa um mecanismo patológico.
(C) energias subconscientes que atuam diretamente no estabelecimento do material do superego.
(D) forças semiconscientes que atuam no desenvolvimento da personalidade.

(E) energias que detém a ideia inaceitável no plano social.

(Ano: 2007 | TJ/PE)

Para Sigmund Freud, a personalidade forma-se ao redor de três estruturas: o id, o ego e o superego. O id

(A) funciona às vezes pelo princípio do prazer e às vezes pelo princípio de realidade, sendo préconsciente.
(B) controla as atividades de pensamento e raciocínio, sendo parte consciente e parte inconsciente.
(C) age consciente, pré-consciente e inconscientemente e é responsável pela consciência dos padrões morais.
(D) funciona pelo princípio de realidade e o seu conteúdo pode ser facilmente recuperado.
(E) é completamente inconsciente e consiste de desejos e impulsos que buscam expressar-se permanente

(TRF | 2007)

Assinale a alternativa abaixo que não é pertinente ao conceito SELF:

(A) Desenvolve-se como resultado das interações com objetos significativos no meio ambiente.
(B) uma representação intrapsíquica do indivíduo.
(C) Trata-se de uma estrutura intrapsíquica.
(D) É o que define a pessoa na sua individualidade e subjetividade.
(E) Trata-se de uma imagem psíquica que contém os elementos que compõe a personalidade.

Assinale V (verdadeiro) ou F (falso):

(        ) conforme o psiquismo infantil se desenvolve, ele não internaliza apenas um objeto, mas uma relação.
(      ) insuficiências maternas no tocante às necessidades afetivas primárias provocam uma "falha básica" na formação da personalidade.
(       ) Em um desenvolvimento normal o Self Grandioso se transforma em ambição saudável.
(        ) Necessidades narcísicas nos acompanham pela vida inteira.
(       ) Mecanismos de defesa são processos psíquicos conscientes com a finalidade de proteger a integridade do Ego.

domingo, 20 de agosto de 2017

Tirem as crianças da sala. Sobre o Cinema Nacional parte I

Ouvi um sujeito comentar a quem estava do seu lado: "assisti a um filme que, apesar de ser brasileiro, é bom"…  Esse “apesar” soou estranho, embora que, para quem estava ouvindo, pareceu natural. O natural das produções  brasileiras, pelo menos aquelas que chegam ao circuito comercial, é  serem de má, se não de péssima, qualidade. A que se deve isso? É um nó difícil de desatar.


No passado recente o argumento da precariedade do cinema nacional estava na má influência do regime militar, que, segundo os defensores dessas ideias, tolheu o processo criativo e não permitiu a liberdade de expressão. Interessante, contudo, é saber que um dos maiores cineastas brasileiros produziu seus melhores filmes exatamente nesse período. Falo de Glauber Rocha que foi internacionalmente premiado e muito aclamado na ocasião -  cá entre nós, dirigia bons filmes, mas por demais “cabeça”, alguns chatos, cheio de divagações e imagens monótonas. Glauber deu, segundo os críticos, identidade ao cinema brasileiro e fez escola entre os produtores de nossos filmes de arte . Aliás, o que é cinema de Arte? Essa expressão ja desgastada e pedante me faz lembrar uma anedota na época: filme de  arte é todo o filme que surpreende  a plateia com as letrinhas (os créditos técnicos) subindo vagarosamente,  sem que  o filme aparentemente tivesse terminado.

Costumo dizer que os filmes de artes são as melhores produções do cinema, mas deixam de ser artísticos quando o público alvo se restringe aos próprios cineastas e a pessoas que trabalham com cinema - algo como a cobra mordendo o rabo, péssimo também quando ocorre em literatura. Além do mais, o próprio cinema de arte vem passando por uma crise de identidade, vem se tornando cada vez mais "clicheroso", repetitivo e fortemente contaminado pelo discurso "politicamente correto" - outra praga atualmente muito em voga no Brasil.

De vez em quando, algumas emissoras de televisão dedicam um horário, tarde da noite, ao cinema nacional. Nessas horário, alguns pais, instintivamente, dizem: tirem as crianças da sala, pois vai passar filme brasileiro. Sim, isso mesmo! O cinema brasileiro infelizmente ainda tem  o vício de se dedicar demasiadamente  ao erotismo, na realidade, ao pornografia de má qualidade, cenas muitas vezes  desnecessários - jse me tacharem de moralista, respondo apenas que gosto de Bukowski .

Na época da ditadura o “cine pornô” também  reinava e, do mesmo modo que os de arte, fez escolas. Ouvi de um diretor desses filmes eróticos (nessa época não havia sexo explícito), de quem não recordo o nome, que, sem erotismo, o cinema não vingava, pois só o erotismo fez com que as pessoas saíssem de casa e assistissem algo diferente do que passava na televisão. Por muito anos obras literárias de boa qualidade foram convertidas ao padrão pornográfico no cinema. A obra de Nelson Rodrigues, por exemplo, caiu nessa vala da pornografia, “A Dama do Lotação” até hoje é marcado como clássico do cinema erótico nacional. Francamente, ainda estamos longe para produzir cenas de erotismo de qualidade, nem mesmo cenas  pornográficas - seria um vexame nos delegar a produção de filmes da obra de Marquês de Sade ou de Boccaggio. Nossa erotismo tende a provocar riso. Não é a toa que nos anos setenta chamavam os filmes eríticos de pornochanchada.


Pois bem se misturarmos erotismo de má qualidade com discurso politicamente correto “cabeça” do cinema nacional e acrescentar  alguns elementos maniqueístas, sejam de esquerda ou de direita, alguns palavrões e algumas cenas para “causar”,  temos como resultado a caricatura do nosso cinema contemporâneo, do cinema que talvez seja premiado excepcionalmente pela sua excentricidade. Enfim, a nossa produção cinematográfica é uma criança que demora a crescer,  fica espiando a nudez proibida pelo buraco da fechadura, nos tempos de internet;  fala do bem contra o mal como se vivêssemos ainda nos tempos da ditadura ou da guerra fria e que diz  palavrões  para se fazer de engraçado e de gente grande.

vejamos alguns exemplos...

Guilherme Leão  

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domingo, 13 de agosto de 2017

DISTANCIANDO-SE DA MATRIX

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Constantemente interagimos com representações, imagens, símbolos e signos. Constantemente confundimos eles com a realidade. Um simulacro é por definição uma simulação, uma aparência, um disfarce. Mais precisamente é uma representação simplificada de fenômenos ou processo mais complexos. Uma ilusão só pode nos enganar caso pensemos que se trata de verdade, uma coisa real. O filme Matrix fala disso ao mostrar pessoas vivendo um mundo em que acham que ele é o que é, enquanto de fato ele é outra coisa do que aparenta ser. É como se vivêssemos um sonho acreditando-o sê-lo palpável e concreto. Um simulacro não em si mesmo uma falsidade, mas sim uma impressão de semelhança perfeita.
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Em outro filme, A Busca Pela Verdade, um ouvinte ao ligar para a rádio diz: "Você acha que as pessoas querem a verdade, cara, mas não querem. Elas querem virais, fofocas de celebridades, escândalos, sabe.", quando o personagem central da trama responde: "isso é verdade. As notícias não precisam ser verdadeiras, apenas divertidas... A verdadeira questão é, estamos atrás do que? Se existe um final definitivo, ou só estamos atrás de uma busca sem fim, de nada mais do que prazer?". Interessante diálogo este. Nos joga à reflexão.
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Para o sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard a simulação é modelos de um real sem realidade, ou seja, uma hiper-realidade que transforma a ilusão da coisa real em fato verdadeiro. A hiper-realidade é, assim, uma realidade construída, uma virtualidade originada da cultura de massa. Não soaria destoante ao leitor aqui acostumado a textos mais psicológicos no sentido clássico dizermos que vivemos imersos cada vez mais em uma sociedade bastante virtualizada (é só olhar ao redor ou para si mesmo, principalmente para a tela que está à sua frente). Somos insistentemente bombardeados de imagens. Imagens que refletem a realidade, imagens que escondem a realidade, imagens que mascaram a ausência da própria realidade e imagens que não têm nada a ver com a realidade. Sua obra mais famosa é o livro Simulações e Simulacros.
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No cinema, em 2014 tivemos, Os Desconectados, filme que aborda de maneira bastante direta e inteligente o uso excessivo da tecnologia via facebook, twitter, whatsaps, smartphones, tablets, laptops. Uma cuspida de volta na cara do expectador que, muito provavelmente por isso, não assistiu ao filme. Difícil realmente ver (até para dentro), quem "normalmente" está tão conectado, que no fundo está tão incomunicável e em desconexão. Conexão em rede, sim. Conexão com a realidade, não.
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Em A República, Platão expressa o que ficou conhecido como a "alegoria da caverna". Trata-se da história des pessoa que desde o nascimento vivem acorrentados no interior de uma caverna em tal posição que podem apenas ver seu fundo iluminado por uma fresta que os aprisionados não podem ver por estar atrás deles. De costas para a entrada são forçados a viverem vendo somente as sombras que lhes são projetadas à parede da caverna. Nesta história fabular um dos prisioneiros consegue se desvincilhar das correntes e alcançar a saída da caverna. Lá chegando descobre que o que lhes era verdade são somente sombras projetadas. E mesmo voltando para contar aos demais a sua descoberta, tal homem seria ignorado e ridicularizado pelos que ainda continuam acorrentados e vendo a "realidade" como resquícios sombrios e nebulosos. Em seu mito Platão nos alerta que temos uma visão distorcida das coisas e da vida. O que nós enxergamos são muitas vezes imagens criadas pela cultura e por conceitos e informações que vamos obtendo ao longo da vida. Por isso, diz Descartes, desconfiem dos sentidos puramente. E nos provoca a pensar indagando: "e se tudo que a gente vê e sente forem sensações criadas por algum demônio?". Talvez nem tanto. Mas talvez até que um pouco.

Joaquim Cesário de Mello