sábado, 28 de dezembro de 2013

SUGESTÃO DE FÉRIAS





Quando forem fazer nossas autópsias com certeza encontrarão em Marcos Creder livros. Ele é um leitor compulsivo e escritor idem. Já quanto a mim encontrarão, além de cinzas de cigarro, filmes. Sou interiormente constituído de imagens. Minha alma é fílmica. Por esta razão deixo para o amigo Marcos fazer algumas sugestões de livros e autores. Falarei de cinema.
Fala-se muito atualmente em filmes cults. Parece que se é cult quem assiste filme cult. Diferente de expressões como "cinema alternativo", "cinema independente", "filme de arte", o filme cult é aquele que gera uma legião de seguidores, torna-se um clássico. Na maioria das vezes uma obra cinematográfica vira cult após sua "vida útil", quer dizer: após já não se estar mais em evidência e fora do circuito de exibição. Neste sentido qualquer obra, artística ou não, pode se transformar em cult. Exemplo maior é Guerra nas Estrelas, que tem um batalhão de fãs ávidos que cultuam a franquia como se fosse religião. Alguns beiram ao fanatismo e não se importam de serem ridículos ou não aos olhos dos fariseus. 
Porém quero me ater ao cult a partir de seu verdadeiro significado, isto é, em inglês o termo se traduz como culto. Longe de querer definir uma pessoa culta, entendo que se é culto aquele com boa cultura e bem informado. Não necessita ser especialista, mas compreender e/ou entender de algo além do óbvio e das superficialidade das aparências. O escritor, prêmio Nobel de Literatura, Hermann Hess, dizia que "o homem culto é apenas mais culto, nem sempre é mais inteligente que o homem simples". Ou ainda o poeta chinês Lao-Tsé para quem "o homem realmente culto não se envergonha de fazer perguntas também aos menos instruídos". É parece que de verdade não é fácil ser cult.
Voltemos a temática do cinema. Diversos filmes hoje cult à época de sua exibição não alcançaram tamanha notoriedade, fama e sucesso. Exemplo: Blade Runner, de Ridley Scott. Embora seja uma produção do início dos anos 80, Blade Runner, inicialmente foi um fracasso de bilheteria, mas com o passar dos anos foi sendo cada vez mais admirado a ponto de para algumas pessoas ser atualmente considerado um dos melhores filmes já feito. 
Bem um filme cult, um clássico, é algo que resiste o passar do tempo e vai sendo como que mais "degustado" com os anos. É como se necessitássemos do distanciamento para poder apreciar mais suas qualidades artísticas, inovadoras, estéticas, estilo e ousadia. Decididamente um cult para ser cult tem que ser um daqueles filmes nada convencionais, que vão além do feijão-com-arroz da mesmicidade imperante. 
Killer Joe - Matador de AluguelDeixemos de lado as delongas e vamos logo a nossa sugestão de hoje. Pra mim foi uma surpresa. Nada sabia dele e nem tinha ouvido falar. Quem baixou pra mim foi meu genro pela internet (ah, essa modernidade tecnológica). É um filme até recente, lançado no mercado americano em meados de 2011, porém já nasceu cult. Estou falando de Killer Joe (Matador de Aluguel). Dirigido por um dos diretores ícones do anos 60/70, William Friedkin (Operação França, O Exorcista) o filme é um tijolaço em estômagos sensíveis. Só pra início de conversa o filme começa com um jovem chegando ao trailer onde mora e é recebido por sua madrasta que seminua expõe à cara do expectador a sua vagina cabeluda. A partir daí a história se desenrola em um desfile de sordidez e sadismo  crescentes que culmina com a espetacular cena final (de cerca de 30 minutos) claustrofobicamente filmada dentro da pequena sala do trailer com movimentação inquieta de câmara em giros de 360 graus. Uma aula de bom cinema, apesar dos excesso de violência, sangue e obscenidade. Chega a gerar incômodos e repugnâncias. 
Sim, é um filme brutal, forte e agressivo, muito agressivo. Um thriller criminal estilo trash, com certa pitada de humor negro chocante. A purgação ignóbil dos últimos tensos minutos do filme é espetacular, embora, repito, seja de alta voltagem perversa. Talvez por isso mesmo, ou seja, uma longa cena de mais pura crueldade que facilita a catarse de nossas próprias perversidades ocultas. Decididamente um filme que não é pra todo mundo. Cult é cult.
Baseado na peça teatral homônima do dramaturgo americano Tracy Letts (ganhador do Prêmio Pulitzer) cuja obra já foi denominada de "comédia da crueldade", mescla cenas e diálogos estilos Quentin Taratino (Cães de Aluguel e Pulp Fiction) e Irmãos Coen (Fargo). Um texto despudorado e agudamente noir, com excelentes interpretações dos atores em cima de personagens densamente complexos e amorais. Um brechar sobre a vida loser e outside do interior "matuto" e caipira dos EUA. Todavia basta acompanhar o programa televisivo de Cardinot pra perceber nossas semelhanças com os irmãos do norte. Um outro lado da vida que sugiro assistir, com as ressalvas acima já ditas. Cuidado pra não vomitar...
Abaixo uma pequena amostra grátis:



Joaquim Cesário de Mello

Nenhum comentário: