quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

SUGESTÃO DE FÉRIAS




Cresci assistindo seriados americanos na televisão. Desde Perdidos no Espaço, Bonanza, Túnel do Tempo, A Feiticeira, Combate, Agente 86, Terra de Gigantes... e, chegando à adolescência, Kojak, O Homem de Um milhão de Dólares, Kung Fu, Baretta, Columbo, entre outros. Revendo-os percebo como eram bobinhos, mas condizentes com minha faixa etária de então. O forte da industria de entretenimento era o cinema. E foi lá que encontrei os filmes e temáticas relacionados ao mundo adulto, quando adulto comecei a ficar. O que tinha de melhor (atores, diretores, roteiristas) estava no cinema. A coisa agora mudou. É na televisão, mais precisamente nos seriados americanos, que encontramos o que há de mais criativo, empolgante, inteligente e maduro no circo do audiovisual. Cinema americano tornou-se praticamente território infanto-juvenil, exceto pelo cinema independente, fora do circuito hollywoodiano, e raríssimas exceções. Vivemos a era dos Harry Potter, Piratas do Caribe, Crepúsculo, X-Men, Homem-Aranha, Titanic, Os Vingadores, Não vemos mais filmes do porte de O Poderoso Chefão, Taxi Driver, Apocalypse Now, Noivo Neurótico Noiva Nervosa, Operação França, Um Dia de Cão, O Franco Atirador, Cinzas do Paraíso, Veludo Azul, Amadeus, Network, Todos os Homens do Presidente, Chinatown, A Conversação, Ligações Perigosas, O Homem Elefante, Reds, Missing, Conta Comigo, Wall Stret - Poder e Cobiça, e por aí vai... Bons tempos aqueles.


Os anos 70 e começo da década de 80 foram anos revolucionários ao cinema americano. Havia rebeldia e contestação, reflexão e crítica social, e muita, muita liberdade de expressão e criatividade. Diretores como Martin Scosese, Copola, Robert Altman, Roger Corman, Milos Forman, Sidney Lumet, Paul Mazursky, Sydney Pollack, John Cassavetes enchiam as telonas com histórias que refletiam os conturbados anos daqueles tempos. A diversão era igualmente reflexiva e artisticamente instigante. 
Não sei precisar o ano da virada, talvez tenha sido com Star Wars, Indiana Jones, ET ou outro filme pipoca destes. Só sei que nas últimas décadas impera a Era dos blockbusters. A lógica dos blockbusters inibe a inventividade e a beleza da arte. É a lógica puramente econômica que sufoca a experiência cinematográfica como descoberta do mundo e do Eu inserido neste mundo. O cinema, assim, é pura e tão somente diver$ão. 
A maturidade fílmica migrou para a televisão. É lá que se encontram os melhores roteiristas e, consequentemente, os melhores roteiros. A lista é enorme e começa, inevitavelmente, com Família Soprano, seguido de A Sete Palmos, Seinfeld, Nos Bastidores do Poder, Sex and The City, Roma, House, Mad Men, The Goodwife, Boardwalk Empire, American Horror Story, House of Cards, The Office, Dexter, The Corner, Game of Thrones, Homeland, Californication, Breaking Bad. Canais abertos como a NBC, por assinatura como a HBO e online (streaming) como a NETFLIX nos oferecem entretenimento inteligente. Temas polêmicos e maduros, com excelentes textos, bem escritos, bem conduzidos e com atuações antológicas. 

Hoje os seriados oferecem novos formatos e dramaturgias, conteúdos e gestão de criatividade. A quase falência criativa de Hollywood é acompanhada pelo boom de originalidade na televisão, mormente nos programas das grades dos canais fechados. Quer sair da homogenização dos cinemões de shoppings?, simples: permita-se experimentar a diversidade e a liberdade do novo que alguns bons seriados americanos estão a nos oferecer. Porém, quem quer continuar vendo o mesmo, requentado e camuflado em roupa nova, com ênfase apenas na tecnologia e nos efeitos de computação gráfica, então continue comprando seu ingresso + combo e assistindo remakes e franquias. A vida é assim mesmo, tem de tudo. Tem quem goste da mediocridade, mas tem também os mais audazes que gostam da expansão que só o inovador e o inventivo pode propiciar.

        E olhem que estou aqui somente a falar dos seriados americanos contemporâneos,  todavia não esqueçamos também dos britânicos, com roteiros igualmente bem elaborados, com aquele toque cínico, sarcástico e irônico que só o inglês sabe fazer. Citando alguns temos: Luther, Utopia, Doctor Who, Sherlock, Testemunha Silenciosa, Black Mirror e Downton Abbey, entre outras. E além da BBC tem a Eurochannel e vários seriados europeus do tipo Os Bórgias, Vênus e Apolo, O Sétimo Céu, Arne Dahl e Lilyhammer (meu xodó do momento). Tem muita coisa boa e de excelência por aí, É só sair da mesmicidade e procurar.

Pois é, e haja férias para assistir tantas séries e seriados. Façam suas escolhas. Contudo, cuidado: vicia. Vicia mais do que facebook. Podes crer!

E pra dá água na boca, vejam abaixo o trailer de House of Cards. A segunda temporada está em gestação. E eu aqui me coçando de ansiedade e expectativa...

Joaquim Cesário de Mello

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