domingo, 17 de novembro de 2013

Equivocadas palavras do Facebook

Hoje é muito frequente as pessoas postarem em redes sociais frase de escritores, filósofos, celebridades  para que os amigos e seguidores possam ler e “refletir”. Aliás, fazendo uma breve digressão, como as pessoas no nosso tempo têm "amigos"! Amizades epidêmicas que crescem diariamente e  que deixariam de queixos caídos as sociedades mais remotas, costumeiramente mais gregária. Imagine a inveja dos que viveram na Idade Média, que infelizes em suas pragas e pestes, se assistissem à essa "praga" de amizade contemporânea. Inclusive, os colecionadores de frases de facebook, tendem a hostilizar o pensamento do período medieval atribuindo ao período mais retrógrado da história da humanidade. Quando citam a idade média, citam como sinônimo de atraso e de obscurantismo. Discordo. É um grande equívoco, ou injustiça, que foi plantado por muitos professores de história do ensino médio. O pensamento medieval apesar de todos cacoetes da liturgia religiosa, trouxe contribuições importantes ao pensamento contemporâneo, dentre eles, a ideia de "Academia" e de "Universidade" da maneira pela qual ainda é pensada hoje. Quem  diz que o medievalismo é um período de trevas, mantém o equívoco, pois como disse Umberto Eco, talvez seja um dos períodos mais iluminados da História. As iluminuras, tipo de arte que apelava por cores fortes e brilhantes, surgiram na Idade Média. Aliás, as cores medievais são muito mais vivas e exuberantes que o período posterior conhecido como o Renascimento. Enfim, voltemos ao facebook e à disseminação de equívocos.


O equívoco que quero destacar estão nas postagens que trazem frases de celebridades do mundo da literatura e das artes. Atribui-se, por exemplo, um longo pensamento-poema denominado “Viver a Vida” ao escritor Jorge Luiz Borges.  Nele há uma reflexão de um Borges senil, queixado-se dos atos não realizados na juventude. Frases como “a vida é preciosa, precisamos aproveitá-la” ou "não deixe de viver" etc - típicas frases que no facebook se multiplicam como resfriado - povoam o pensamento dos nossos pensadores nas postagens virtuais. Há um problema, contudo: O texto que citei nunca foi escrito por Borges, apesar de já popular e o ter visto estampados em paredes de "Cafés" e em cartões de final de ano assinado pelo falecido escritor.  Antes mesmo do facebook ganhar fama, circulou por muito tempo, em grupos de e-mails, uma espécie de relato-desabafo, uma carta de despedida  de Gabriel Garcia Marquez  em que, reconhecendo-se doente,  o escritor, diante da fragilidade do seu estado termina, penintencia-se, pede perdão à Deus pelos suas errâncias e sua descrença. Nesse caso,  por sorte nossa e do próprio escritor, que ainda está vivo, bem vivo, Garcia Marquez desmentiu e ainda acrescentou que jamais escreveria tamanha bobagem. Filósofos como Nietzsche, Platão, Sócrates, ou escritores e dramaturgos como  Shakespeare, Fernando Pessoa, Arnaldo Jabor, Luiz Fernando Veríssimo, Machado de Assis, Mário Quintana e Clarice Lispector - essa talvez a musa das frases de efeito das redes sociais -  sofrem também dessa falsa autoria de textos - textos que, alem de mal escritos, beiram ao ridículo e trazem forte teor moralista.

Qual o propósito disso? Talvez a resposta esteja no próprio formato das redes, onde, como falei, existem muitos amigos, sorrisos, alegria, beleza e fotoshops. Para quê tudo isso? Para investir no narcisismo dos seus integrantes. Para lhes dar um ar de fama e de celebridade, postam seus próprios pensamentos - pensamentos que, adianto, jamais deveriam ser postados. Ao construírem suas frases, postam deliberadamente a assinatura de algum desses famosos. Aliás, suas frases sem a assinatura desses ilustres, certamente, não seriam levadas à sério, contudo, como quem assina é um Shakespeare ou um Fernando Pessoa de ocasião, os outros, seus incontáveis amigos, o elogiem mesmo que em disfarce.  Esses escritores “enrustido”, postadores de redes sociais, contentam-se em serem ghost writer de gente de sucesso.


Frases falsas não são fatos recentes, sempre aconteceram, há vários delas descritas na literatura, parece que há um desejo de colocar na boca de alguém uma frase que poderia ter efeito positivo ou repulsivo.  As redes sociais as tornaram mais virulentas, danosas e desastrosas. Uma  frase mau construída e descontextualizada, faz com que muitos tomem atitudes de repúdio ou de má educação, soltando não raro uma palavra ofensiva.

Enfim, todos se interessam em se exibir e mostrar conteúdos que não têm ou, se têm, são desnecessários ou servem de alimento Narcisismo. Há, contudo, nos sites de relacionamento um outro tipo de narcisismo, um narcisismo às avessas que oculta os sujeitos carentes, sozinhos - quanto mais plugados à rede, mais solitários- e inseguros, que, ao entrar no facebook, vestem o seu Eu fake ideal. Como não há talento no seu dizer os famosos sofrem e começam a falar besteiras . 

Marcos Creder   

Um comentário:

rotina criativa disse...

Imaginei que interessante seria se esse texto não tivesse sido escrito por Marcos Creder.

Reflexão interessante o conteúdo traz. Já ri muito com alguns amigos sobre frases que as pessoas postam no face e até nós mesmo já fizemos algumas piadas com isso.