quarta-feira, 6 de novembro de 2013

DIÁRIO DE AULA


A FAMÍLIA COMO UM SISTEMA

    



        Desde o início da disciplina enfatizamos que a definição de família não é única, devido sua pluralidade de formas ao longo da história e das várias culturais sociais humanas. Pode-se até dizer que o que de fato existe são vinculações afetivas e íntimas que geram o sentimento de pertença. Tais vínculos geram laços entre as pessoas envolvidas, sejam eles consanguíneos, por afinidade (aliança), jurídicos e/ou afetivos. Mesmo sendo o conceito de família polissêmico trabalhamos até agora com uma definição eleita: a de que a família é “um grupo de pessoas, ligadas por laços de parentesco, que se incumbe da criação da prole e do atendimento de certas outras necessidades humanas”. Esta definição nos proporcionou trabalhar alguns fundamentais aspectos da psicodinâmica familiar.

                Agora nos cabe entender a família como um sistema em funcionamento. A ideia de sistema compreende um conjunto de elementos interativamente unidos que compõe um todo integral. Bertalanffy, pai da Teoria Geral dos Sistemas, que em sua complexidade um sistema é um conjunto de subsistemas (elementos) que têm relações entre si o meio e que interagem em busca de um resultado final. E aqui vemos, também, a lógica gestáltica: o todo é maior que a soma das partes. 
             Bertalanffy dividiu os sistemas entre fechados e abertos. Um sistema fechado é aquele que não interage com o meio e, assim, progressivamente desintegra-se e morre. Já um sistema aberto troca matéria com o ambiente. Os organismos vivos são eles sistemas abertos.

                Pois é, a família é comparativamente um organismo vivo, razão pela qual ela é definida como um sistema aberto. Podemos assim falar sistema intrafamiliar e extrafamiliar. A família, enquanto unidade sistêmica, é base do processo de individuação entre seus membros, ao tempo em que funciona como um coalizador, isto é, processa o espírito de coesão entre seus membro, dando com isto o sentimento de pertencimento. 
         Podemos, portanto, posicionar a família como um sistema vivo e ativo, aberto, em constante transformação.

         Para que um sistema exista, e para que possa se diferenciar de outros sistemas, é necessário demarcar seus limites, limites esses, em princípio, invisíveis aos olhos. Empírica e concretamente podemos dizer que os limites de uma casa são as paredes e os muros, assim como os limites fronteiriços de um corpo é a pele. E quais, então, são os limites de um sistema familiar. Consideremos, por exemplo, a família nuclear. Em termos bastante teóricos as fronteiras (limites) de um sistema são as regras que definem quem participa deste sistema e como participa. Pensemos, pois, em termos de afetos e intimidade. Há sistemas familiares que você como estrangeiro até frequenta e circula, porém há uma espécie de barreira ou campo de força que não lhe deixa ter intimidade com o mesmo. Chamemos estas barreiras de “fronteiras Inter sistêmicas”.
                Dentro de um sistema familiar temos vários subsistemas. Estes subsistemas, por sua vez, se diferenciam e se limitam dos demais subsistemas por “fronteiras intra sistêmicas”. Para que um sistema familiar funcione adequadamente as fronteiras devem ser relativamente permeáveis e nítidas. Quando um sistema familiar é disfuncional existem ou fronteiras rígidas ou difusas. 


    Nas famílias em que as fronteiras intra sistêmicas são difusas há pouco ou nenhum espaço para a intimidade e a privacidade de seus membros, razão pela qual chamamos essas famílias de FAMÍLIAS AGLUTINADAS, ou simbióticas. Por outro lado, quando as fronteiras são rígidas há excesso de privacidade, porém pouca ou nenhum troca de intimidade e afetividade. Chamamos essas famílias de FAMÍLIAS CISMÁTICAS, ou fragmentadas. A respeito do assunto vide: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98931996000100007&script=sci_arttext

            Os subsistemas familiares de uma família familiar podem ser vários, tipo: subsistema conjugal, subsistema fraterno, subsistema parental, díade mãe-filho, pai-filho, assim como pode haver subsistemas por geração, sexo ou interesse. Outro texto de interesse é A PERSPECTIVA SISTÊMICA PARA A CLÍNICA DA FAMÍLIA, de Liana Costa, que vocês podem elencar através do site http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722010000500008
                 Devemos deixar destacado que na polaridade INTIMIDADE-INDIVIDUAÇÃO quanto mais rígida uma fronteira sistêmica ou subsistêmica mais no espaço interno sistêmico haverá aglutinação, com excesso de intimidade e carência de individuação e identidade entre seus membros. No oposto: quanto mais forem difusas as fronteiras mais comprometimento e deficiência na intimidade e excesso na individualidade.

                Curioso observar em que patologias individuais como esquizofrenia e esquizoidia, por exemplo, é comum encontrarmos um pano de fundo familiar (background) aglutinado. Já em patologia do tipo comportamento antissocial e drogadição, por exemplo, é frequente encontrarmos um background familiar difuso. 

Outros artigos e ensaios que auxiliarão a melhor elucidar a problemática:




E para aqueles que gostam de livros, sugerimos:

A TERAPIA FAMILIAR, Maurízio Andolfi
POR TRÁS DA MÁSCARA FAMILIAR, Maurízio Andolfi e outros
A TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA DE MILÃO, Boscolo e outros
NOVA PERSPECTIVA SISTÊMICA, Denise Duque e outros

Boas Leituras

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