sexta-feira, 14 de setembro de 2012

CESTA DE VERSO & PROSA

O SORRISO

De todos os sorrisos o meu é o que mais me surpreende
porque ele é vago, débil e fútil
um adorno que pendurei na ilusão do que penso que sou
a mentira que adorna a janela do meu ser
é minha arma, minha fuga e minha defesa
O preço pelo qual me vendo, me penhoro
sem nem saber de mim, o que virá depois?
é o que preenche uma lacuna que dói
quando sinto que não existo
e que não me valho à existência
a minha vida toda me deixei acreditar no que me diziam
não sou digno, não sou bom, não o posso
logo, não mereço qualquer regalia
assim, aprendi a me sentir notado apenas no precipício
me estrangulava para estrangular o outro e para ser salvo de minha inércia
assim, aprendi a jogar o jogo que fingem não jogar
jogando o jogo de não jogar percebi que em verdade, jogava
jogar é não saber e jogar, já jogando, enquanto se pensa que não se joga
e no jogo de pensar que não jogava já jogando me perdi de mim
e na selva do possível hesitei, cristalizei, eternizei e arruinei, a mim
quando se navega um navio há sempre um destino, risco fácil quase risório
navegar é preciso, mas é, ainda assim, uma escolha
quando navega-se a si mesmo não há destino, cria-se, sem instruções
preferi então o chão de mim, firme e vulnerável, sem saber que há diferenças
ao escolher o chão de mim, escolhi em verdade navegar parado
navegar a si mesmo não é escolha é condição

André Guimarães (Psicologia/FAFIRE)