sexta-feira, 7 de setembro de 2012

CESTA DE VERSO & PROSA



     Considerando que não é toda semana que temos trabalhos literários e artísticos de nossos colaboradores, leitores, avulsos ou transeuntes a serem oferecidos para publicação aqui no blog, e com vistas a preservar o caráter semanal desta coluna intitulada “CESTA DE VERSO & PROSA”, na ausência de envios colocaremos frente aos nossos olhos obras de autores outros, vivos ou não, consagrados ou não, conhecidos ou não.

       Com este intuito, parafraseando a velha máxima do cinema novo, e com uma ideia na cabeça e um computador na mão, vamos começar com um nome bem pernambucano, o do poeta Carlos Pena Filho. Nascido em 1929 e falecido em 1960 é um dos mais importantes e cultuado poeta de nossa terra. Popularmente conhecido por seu poema Bar Savoy (são trintas copos de chope/são trinta homens sentados/trezentos desejos presos/trinta mil sonhos frustrados”), publicou O Tempo da Busca, Memórias do Boi Serapião, A Vertigem Lúcida e Livro Geral. Conhecido também musicalmente com ”A Mesma Rosa Amarela” composta com Capiba, a poesia de Carlos Pena Filho é pictórica, lírica e musical. Decididamente, em tempos de textos ágeis e frágeis, conhecer este poeta é mais do que uma obrigação nossa, é um enorme prazer literário, estético e metafísico.

                Abaixo dois dos seus poemas mais destacáveis, A Solidão e Sua Porta e Soneto do Desmantelo Azul. Com vocês Carlos Pena Filho:

A SOLIDÃO E SUA PORTA

Quando mais nada resistir que valha 
a pena de viver e a dor de amar 
E quando nada mais interessar 
(nem o torpor do sono que se espalha)

Quando pelo desuso da navalha 
A barba livremente caminhar 
e até Deus em silêncio se afastar 
deixando-te sozinho na batalha

Arquitetar na sombra a despedida 
Deste mundo que te foi contraditório 
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório 
e de que ainda tens uma saída 
Entrar no acaso e amar o transitório.









SONETO DO DESMANTELO AZUL

Então pintei de azul os meus sapatos
 
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos 
e colori as minhas mãos e as tuas,

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.





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