DOIS POEMAS
25 ANOS
AVE URBANA
Ameaçou um canto
que
era mais que um canto,
era
um grito.
Empinou
o bico
com
inútil arrogância
agitando
as penas
como
se fosse feliz.
Olhou
o mundo
que
flutua por detrás da janela,
abriu
as asas
um
tanto desacostumado
e
num último arrebatamento
chocou-se
entre as grades.
Resignado,
recolheu-se
a seu canto habitual
e
fechando as asas e os olhos
sonhou
grandes voos.
(1982)
NOTURNO Nº 01
Há tanto convivo com tantas noites
que me creio muitas vezes
construído apenas de escuridão.
Minhas noites não são feitas
de vampiros, monstros ou fantasmas,
minhas noites são feitas de ausências e vazios
por onde percorro como um predador
a espreitar as nódoas cinzas de mim mesmo.
de vampiros, monstros ou fantasmas,
minhas noites são feitas de ausências e vazios
por onde percorro como um predador
a espreitar as nódoas cinzas de mim mesmo.
A única assombração que me assombra
é esta pálida sombra que reflito,
e que na claridade que me habita fora
desconhece-se dela qualquer indício.
é esta pálida sombra que reflito,
e que na claridade que me habita fora
desconhece-se dela qualquer indício.
Sou tão cheio de noites partidas do dia
que já nem sequer vejo minhas beiradas
e embotado sigo em meus mistérios
como quem inútil corta a obscuridade
com o fio cego de uma navalha gasta.
que já nem sequer vejo minhas beiradas
e embotado sigo em meus mistérios
como quem inútil corta a obscuridade
com o fio cego de uma navalha gasta.
E lá no fim,
por detrás de todos meus silêncios tristes,
escuto a voz presa e frágil que me diz:
“estou cansado”.
por detrás de todos meus silêncios tristes,
escuto a voz presa e frágil que me diz:
“estou cansado”.
Quisera, pois, antes do instante
em que a noite não mais se encerra,
ver um dia, ao menos um dia,
o arder nos olhos da luminosidade amarela
do sol.
(2007)
(originariamente publicado em 31/08/2013)
Um comentário:
Belos poemas. O Segundo é bem tocante ...
Postar um comentário