sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

CESTA DE VERSO


POUCA POESIA

ALGO EM MIM...

Algo em mim não tem tempo
nem sequer sabe dos relógios e calendários.

Algo em mim é histérico e sem nome
que moldou este rosto que trago
e se apresenta frente aos espelhos
dos banheiros e da casa.

Algo em mim estala quando me sento
range, ruge e geme
e preserva a mesma fome
do garoto e do rapaz.

Algo em mim desperta quando durmo
ou quando às vezes choro
e que olha o mundo
com olhos de lá de trás.

Algo em mim é além de mim
e que aqui já estava
muito antes do dia em que
me batizaram de simplesmente
                                               Joaquim.

Algo em mim...


NEMÉSIS

Meus pais e minha infância habitam
nos retratos que carrego
e que ninguém mais herdará,
assim como breve estarei
nos retratos de minha filha.

O que seria da eternidade
se não fosse a fotografia?


PEQUENO POEMINHA INFANTIL

Da janela do teu quarto, menino,
Olhas à noite as estrelas
Que te acenam sorrisos de luz
E junto com a lua cheia
Espantam fantasmas e bruxas
Enquanto os pais dormem
No cômodo ao lado teu.


                                   POEMA INACABADO
Quando me fizestes
senhor de minhas memórias,
não sabias que logo
me esqueceria de ti.

                Quando me fizestes
                não a tua imagem e semelhança,
                mas um rosto inusitado
                em meio a multidões inusitadas,
                não sabias que te viraria a face
                e à esquerda olharia a ausência
                de tua sombra à direita.

                               Quando me destes voz
                               e enxertastes palavras
                               em minha boca virgem,
                               não sabias que me calaria
                               e te renegaria o verbo
                               de onde um dia nasci. 
                               ...
Joaquim Cesário de Mello

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