domingo, 20 de janeiro de 2013

OS "LÓBULOS" JUNTOS FORMAM BLOCOS: BLOCOS DE ILUSÕES. Digressões sobre o texto de Joaquim Cesário



Mais uma vez me inspiro no texto de Joaquim Cesário para construir esse artigo porque concordo em todos os aspectos com ele. Sim, sem dúvida, somos esse amontado de processos neuroquímicos que constroem nossas ilusões, que nos constrói - o ser humano acrescenta-se exatamente disso, das ilusões e, supostamente, somos diferentes de outros animais justamente por precisarmos desse alicerce de pensamentos mágicos. Isso talvez nos faça tão especiais quanto “imbecis”. Porque? “Imbecis” porque somos muito orgulhosos de nós mesmos – somos na terra, pretensiosamente, a imagem e semelhança do Criador – e acreditamos, às vezes, por meio de nossas magias reflexivas, que o nosso pensar pode influenciar ou mesmo determinar fenômenos e acontecimentos no outro lado do planeta ou na vida do vizinho; e, “especiais”, porque isso talvez seja de fato nossa fonte ou nosso aditivo de prazer. Somos seres de fantasias e como somos insatisfeitos com que a natureza nos oferece, procuramos deformá-la de acordo com os nosso caprichos: de pedras fazemos pirâmides, templos, monumentos; da noite criamos o fogo e nos deliciamos com aquilo justamento com o que não podemos ver completamente: a penumbra. Enfim, somos todos seres de criação, mas não necessariamente artistas – porque penso que nesse caso existem variáveis bastantes complexas de serem aqui discutidas. As nossas invencionices e as nossas criaturas são, muitas vezes, uma máscara que colocamos em nossas  insatisfações.   E por falar em máscara … O que seria de nós se não a vestíssemos? Essas máscaras não nos fazem outros, mas dão uma ilusão de que vivemos o que somos: seres ambivalentes, contraditórios e finalmente, iludidos.

As máscaras são elementos psíquicos, místicos e cênicos que praticamente convivem com todos os povos. A maioria delas são representações do que tememos e/ou do que desejamos (essa eterna ambivalência nossa). Pode se afirmar que o teatro surgiu na antiguidade grega com a utilização de máscaras. O teatro vem dos ritos místicos de festividades dionisíacas, festas que hoje lembrariam o carnaval.   As homenagens ao Deus Dioniso, assim como o carnaval, eram regadas a vinho e a “insânia”.  A ideia de uma festa delimitadas por dias de fantasias de transgressões,  na maioria ingênuas e infantis,  seguidos  de  purgação, é quase tão antiga quanto a história da civilização. E qual seria o sentido disso?  Penso que tem o mesmo sentido que teve o teatro grego como desencadeador de catarse. O carnaval é, portanto, um teatro multidimensional, invisível, mal encenado, transgressor e histriônico (histrião, do latim histrio: Ator de comédia; comediante, bobo, ridículo) com extrema carga emotiva. Um teatro, para muitos, necessário, tão necessário que depois de coibido com o fim do Império Romano foi reinstituído no calendário oficial Católico no século IV e logo aglutinado pelo clero:

“Padres e clérigos podem ver-se usando máscaras e aparências monstruosas nas horas do ofício. Dançam no coro vestidos de mulheres, lacaios ou menestréis. Cantam canções licenciosas. Comem chouriços pretos no altar enquanto o oficiante diz a missa. Jogam aí aos dados. Incensam com um fumo fétido procedente da sola de sapatos velhos. Correm e pulam pela igreja, sem corar da sua vergonha. Viajam finalmente pela cidade e seus teatros em miseráveis carruagens e carroças; e suscitam o riso dos seus companheiros e circunstantes através de representações infames, com trejeitos indecentes e versos torpes e libertinos.”


Pois é... No dia a dia nos fantasiamos de engenheiros, médicos, comerciantes, técnicos, artistas, psicólogos, pedagogos, sacerdotes, administradores etc., e, eventualmente, cansados dessa fantasias, no nosso “carnaval” (não necessariamente a festividade) sentamos na sombra de nossos ofícios, corrompemos e colocamos outros personagens em cena, construindo um misto de sátira e de desejos infantis... Subimos nesse palco e encenamos esse texto teatral improvisado, mal escrito, incorrigível – que, como disse Millôr Fernandes “se que escreve sem borracha” – Nessa peça tudo muda, inclusive, os rostos são encobertos por máscaras. Rostos? Mas que rostos? Não há rostos, há outras máscaras, infinitas máscaras, máscaras de Ilusões.

Nenhum comentário: