sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CESTA DE VERSO & PROSA


    Uma pessoa leitora aqui do blog nos enviou o seguinte texto abaixo e solicitou publicação sob condição de anonimato. Embora sejamos de opinião que o anonimato é de fato uma barreira psicológica interna que necessita ser quebrada com vistas ao crescimento da potencialidade do sujeito, devemos também respeitar o momento do seu autor(a). Mais do que um nome de batismo, o que importa é o conteúdo que a peça escrita nos oferece. A alma de quem a fez ali está no início ao fim, feito o cheiro de um perfume que alguém deixa no ar de um ambiente por onde passou, mas que já não está. 

     Com vocês a fragrância e o aroma de um anônimo(a):

A saída.



''E todos os dias serão piores enquanto eu continuar aqui, vivendo uma vida que não é minha.''

Tal frase ecoava nos seus ouvidos como um sino que marca a passagem do tempo. Ela acreditava no anúncio que as palavras faziam sobre a condição de sua alma, mas não era tão simples. Parava pra pensar um pouco mais e se fazia a pergunta: Qual vida será a minha? Se não é esta, qual é então? 

Não descobria nada passeando pelos pensamentos. Eles não possuem a resposta. Por um bom tempo, tempo incerto demais para ser dito seguramente, ficou procurando algo que confortasse suas dúvidas. Saia por aí em busca da vida que seria a dela. Aquela vida que é sua e que está implícita na frase.

Numa noite adormeceu docemente. Há muito tempo que não o fazia. No sono seu pensamento se desprendeu da razão que o guiava enquanto desperto e ela sonhou. Sonhou com uma sala e neste ambiente não estava só e ao mesmo tempo sim. Para onde olhava só via a si mesma. Ela era várias. Como se repentinamente fosse dividida e esses pedaços ganhassem vida. Seis. Seis garotas idênticas e diferentes distribuídas ao longo da sala. Susto. Medo. Estranheza. Familiaridade. Não havia nada ali que elas não conheciam. Eram elas. Era ela. 

"Como viver uma vida que satisfaça a todas?" Esse era o assunto. O tema da discussão. E elas se debatiam e lutavam para encontrar uma solução. Cada uma possuía algo de particular. O que era bom para uma servia de veneno para outra. Às vezes a maioria concordava, mas sempre tinha aquela que não estava satisfeita. E se todas não estivessem unidas não daria para continuar. Houveram brigas. Muitas brigas. Ameaças. Porém, nada foi decidido. "Por hoje encerramos".
Ela acordou sobressaltada. Com o ar escapando dos pulmões. Seu corpo doía como se tivesse sido repartido. Confusa. Passou o dia pensando sobre a noite e percebeu que não havia sido um mero sonho. Era uma tentativa desesperada de sua mente de resolver o dilema e ao mesmo tempo revelá-lo. Era por isso que nunca tinha conseguido encontrar a resposta. Dentro si havia vários "eus" e cada um com suas expectativas. Era esse o motivo de não encontrar uma vida que fosse sua, pois haviam tantas possibilidades e nenhuma contemplava todas. Ao anoitecer. Fechou os olhos e novamente sonhou a continuação da noite anterior.

Lá estavam. Lá estava. E recomeçaram a discussão. No calor do tema teve uma que gritou: "Desse jeito não dá para todas viverem". E os olhos saltaram e ficaram frios. Será? Será que essa é a saída? 

Acordou sem reação. Não tinha o que pensar. Sua mente estava em silêncio. Passou o dia passeando pelas horas. Até a noite chegar mais uma vez e o sonho retornar. 

"O que foi dito ontem não é algo a ser pensado". Estavam caladas. Cada uma com suas reflexões. E assim foi por vários dias. As vezes se tentava falar sobre alternativas, mas nada encontravam. E durante o dia as coisas foram ficando difíceis. Era doloroso continuar daquela maneira. Sem saber seu lugar. Sem sentir que vive. Estando sempre errada. Não dava mais. 

"Se apenas uma não pode viver e não podemos viver como uma, então poremos fim em todas. Essa é a forma de acabar com tudo o que nos perturba". Algumas relutaram, tentaram debater, usaram diversos argumentos, mas nada bom o suficiente. Então, todas concordaram. Juntas, uma sufocando a outra. E no instante que o último suspiro foi lançado finalmente eram uma só.

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