POESIA EM MOVIMENTO
Joaquim Cesário de Mello
Como um dos principais idealizadores
do Movimento de Escritores Independentes (conjuntamente Cida Pedrosa, Eduardo
Martins, Héctor Pellizi e outros), editou o jornal alternativo Lítero
Pessimista. Quando por aqui viveu e militou teve intensa participação na cena
literária local. Publicou e participou de vários livros, entre eles Vida
Transparente e Bacantes, e produziu o CD Vários Poemas Vários. Sua existência
intensa em nosso meio marcou toda uma geração, principalmente aquela que
respirava a existência e transpirava literatura e que orbitava pela Livraria Livro
7, na Rua Sete de Setembro, seus arredores, vielas, becos, botecos e adjacências
. Nós, transeuntes das noites e conviventes com a “dama bastarda”, como assim Chico chamava a poesia.
Se reconhecendo um pessimista por
convicção Chico – que era leitor de Augusto dos Anjos, Dostoievski, Kafka,
Edgar Allan Poe, Nietzsche, entre outros de igual quilate – sempre se orgulhou
de ser uma espécie de soldado e guerreiro a serviço de uma causa: a boa
literatura. Vale a pena ver sua entrevista reeditada em 18/05/2010 no blog
VersuDiversus coordenado por Cecília Villanova onde Chico fala por Chico, sem
nenhuma reticências.
Falecido em 2007, aos 47 anos, Chico
Espinhara deixou-nos um rico legado que transcende aos seus textos. O que dele
herdamos é esta agradável lembrança de um homem que viveu até seus últimos
instantes coerente com suas ideias e que fez de sua vida vivida um inesquecível
poetizar pulsante e perambulante. Não, Chico Espinhara não fora um “poeta
marginal”, pois marginais são aqueles que vivem à margem da vida e Chico
existiu no centro da vida, seja lá o que isso for.
Para mim apenas sei que Chico
Espinhara foi o Charles Bukowski da minha juventude.
Pude me despedir dele semanas antes de sua morte, conversando poesia e literatura como sempre fizemos, isto é, no verdadeiro underground recifense que são os bares da Rua do Riachuelo, tomando cerveja e queijo coalho assado. O Chico daquele dia era exatamente igualzinho ao Chico dos anos 80.
Pude me despedir dele semanas antes de sua morte, conversando poesia e literatura como sempre fizemos, isto é, no verdadeiro underground recifense que são os bares da Rua do Riachuelo, tomando cerveja e queijo coalho assado. O Chico daquele dia era exatamente igualzinho ao Chico dos anos 80.
É, Chico, você não vai ao meu
enterro e talvez por isso num fui ao seu. Afinal, de verdade e de fato, em mim
você não morreu.
* * * * *
EPITÁFIO
N° 529
Não vou a
enterros.
Que o morto
Se guarde no que é seu.
Se incorro em erro,
Perdoem-me: irei ao meu.
Que o morto
Se guarde no que é seu.
Se incorro em erro,
Perdoem-me: irei ao meu.
FANTOCHES
Os fantoches da rua Sete
Seguem cegos na procissão.
A puta diurna da Palma
Traz uma venérea na alma
E uma cova diária na mão.
Da Ponte Velha a secular ferrugem
Reticente ao trajeto branco da nuvem
Come o estrado, o arco, o vergão.
Os poetas esquecidos no beco
Transam sangue a trago seco
Dormem como trapos sobre chão.
Recife, musa, maldição
Cadela suja, traiçoeira
Seta certeira
Encantada cidade do cão.
Os fantoches da rua Sete
Seguem cegos na procissão.
A puta diurna da Palma
Traz uma venérea na alma
E uma cova diária na mão.
Da Ponte Velha a secular ferrugem
Reticente ao trajeto branco da nuvem
Come o estrado, o arco, o vergão.
Os poetas esquecidos no beco
Transam sangue a trago seco
Dormem como trapos sobre chão.
Recife, musa, maldição
Cadela suja, traiçoeira
Seta certeira
Encantada cidade do cão.
Francisco Espinhara
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