quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ESPAÇO DO COLABORADOR: Por uma TCC que valorize o SER


Alice Lima (psicologia - FAFIRE)

Quando li aqui no LiteralMENTE no dia primeiro de julho o texto de Joaquim Cesário (Raízes psicológicas da psicoterapia: anatomia de uma relação) me surpreendi e me interessei por que o texto vem a complementar reflexões que venho fazendo sobre a abordagem que escolhi e que me traz grandes alegrias e também muitas dúvidas.
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) surgiu na década de 60 e foi desenvolvida por Aaron T. Beck. É uma terapia breve, estruturada e orientada para o presente, tem como objetivo resolver os problemas atuais e modificar os pensamentos e comportamentos disfuncionais, aqueles que influenciam o humor e o comportamento do paciente. A mudança no pensamento e nas crenças do paciente promove uma mudança na emoção e no comportamento.
Vários estudos comprovam sua eficácia e sua proposta de ser orientada para o presente é a mesma de toda psicoterapia,independente da abordagem escolhida. Porém algumas questões me inquietam e me preocupam. É o nosso caminho, a certeza não engradece, a dúvida sim.

Gostaria então de fazer um levantamento geral de minhas dúvidas e sugestões e compartilhar com vocês para que possamos discutir as possibilidades. Já fiz Psicoterapia com terapeutas Cognitivos comportamentais e digo uma coisa: existe muita gente boa no mercado, mas muita, muita gente ruim, decoradores de técnicas, reprodutores de métodos e até repetidores de falas de outros terapeutas, parece haver certo dialeto utilizado pelas abordagens, não só a TCC e que se repete de maneira absurda, pois tudo que é repetição, caricatura, carece de profundidade. O que vejo em muitos casos é uma psicoterapia tão mecanizada, com técnicas tão padronizadas e sessões tão estruturadas que até o que se fala no consultório é repetitivo. Lembra uma peça ensaiada e como toda peça, se surge algo improvisado, só os bons atores conseguem dar continuidade ao enredo.
A questão aqui não é uma contestação da Abordagem Cognitivo Comportamental, nem mesmo uma invalidação de suas técnicas, mas um alerta para que os psicoterapeutas que trabalham com a TCC não fiquem reféns de técnicas e padrões. As técnicas devem servir de complemento para a psicoterapia. O foco deverá ser o cliente e seu conflito, sem pressa, sem padrão, a relação terapêutica, a aliança que pouco a pouco vai sendo construída.
Gosto da liberdade e possibilidade que a Terapia cognitiva nos traz, a possibilidade de uma pesquisa maior e mais diretiva sobre o modo de ser do paciente, uma atitude mais ativa, um direcionamento maior da terapia... Podemos fazer da terapia e suas técnicas um processo maravilhoso e efetivo de trabalhar. Com o cliente tendo participação conjunta conosco ou podemos nos limitar às técnicas, sem aprofundamento sobre ao outro, sobre a vivência do outro, sobre seus reais sentimentos e razões e a partir daí utilizar a técnica para ajudar.
Discordo que a Terapia Cognitivo Comportamental é eficaz apenas para determinados transtornos, acredito que ela é melhor e tem uma funcionalidade maior com determinados transtornos sim, como o transtorno de ansiedade generalizada, o transtorno obsessivo compulsivo, mas ela pode ser efetiva em todos os transtornos, afinal somos todos psicólogos, independente da abordagem escolhida. O nosso foco e toda nossa formação é voltada para ajudar, para entender os fenômenos psicológicos e junto com o paciente orientá-lo sobre suas atitudes que estão trazendo desconforto. Desde que o psicólogo seja comprometido, sensível ao paciente e suas necessidades, a terapia cognitiva, analítica ou outra qualquer será de ajuda real.
Existe o momento de falar e o momento de ouvir, o momento de entender e observar e o momento de aplicar uma técnica. Minha intenção com esse artigo é alertar os terapeutas cognitivos comportamentais a não virarem escravos das técnicas, não transformarem a terapia em um momento padronizado, cheio de metas e números. Temos em nossas mãos uma abordagem que nos apresenta mil oportunidades de ação, mas às vezes nenhuma técnica é necessária, apenas ouvir e acolher e não há por que se sentir pressionado a aplicar um teste ou verificar resultado, o resultado virá, sem tempo, sem pressa, sem padrão.


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