Uma das coisas que mais me chama
atenção quando leio alguns textos de teóricos
do passado - e quando falo do
passado, não me refiro há 10 ou 15 anos,
mas há mais de meio século, ou que sabe há 200 anos - é a qualidade da
escrita. Há nesses textos um elemento
que muitas vezes, quem escreve hoje não tem tanta preocupação: a necessidade de
fazer um texto agradável ou atraente. Na verdade, o que se assiste hoje no meio
acadêmico é uma necessidade de um texto “enxuto”, emagrecido – anoréxico – , uma
espécie de minimalismo intelectual, travados por dezenas de citações textuais
de outros autores. Muitas vezes, o pesquisador é um profissional da compilação
ou, como dizem os alunos mais jovens, são organizadores de Ctrl C + Crtl V. O
autores que copiaram e colaram, por sua vez, estão citando alguém, que aludiu
algum outro autor (“apud”) . O somatório disso tudo é que muitos textos
acadêmicos, em razão desse mosaico, dessa colcha de retalhos, terminam por ficarem
chatos e redundantes e, certamente, poucos terão acesso por desinteresse – e se
tiverem, vão como que teleguiados a visitarem uma determinada página,
procurando uma frase ou no máximo um parágrafo, copiam e colam no seu trabalho
de pesquisa (Crtl C + Ctrl V) . O resultado disso: um amontoado de papéis
inúteis acumulados real ou virtualmente nos espaços universitários.
Tenho certeza de que textos como
os de Freud, Nietzsche, Darwin, Maquiavel, Montaigne, entre outros,
dificilmente iriam passar pelo crivo da burocracia acadêmica. Seriam julgados
como pouco objetivos, extensos, excessivos, sem padronização, com os objetivos
esgarçados, criptografados ou diluídos. As figuras de linguagem seriam
criticadas – “para quê metáforas? elipses? para quê ironias, hipérboles, paradoxos?”
– assim como a falta de citações adequadas.
Com todo esse engessamento supervisionado,
os textos ficaram claros, tão claros, quanto insossos. Sou partidário da idéia
de que o texto, seja ele qual for, tem que convidar o seu leitor a se entreter
com ele – há sempre algo sedutor - e não fazê-lo entediado como se estivesse -
e muitas vezes estão – perdendo tempo. Há
quem julgue que muitos textos antigos poderiam ser reduzidos a um artigo e,
desse modo, teriam tido maior alcance de público. Certo? Errado. Utilizo-me da metáfora de Marcel Proust de que
sua literatura, seu texto, é um tapete bem mais extenso que as pequenas
moradias da França de sua época. Nenhum desses
textos dos autores clássicos é excessivo e se assim parecem, talvez o próprio escritor
quisesse propositalmente construí-lo. Se
Euclides da Cunha escreveu “Os Sertões” com todos os seus excessos, poderíamos
pensar que algum texto “enxuto” da época, escrito por outro autor, tenha dito
algo semelhante, mas, se disse, perdeu-se. Perdeu-se porque não tinha a mesma estética
ou a mesma beleza d”Os Sertões”. Ilusão pensar que só o conteúdo científico,
inovador, revelador é o que interessa no texto acadêmico. Eles são de fato o objetivo,
mas o que faz alguém reconhecê-los como
tal, é a maneira de como são construídos. São construídos com uma
escrita em prosa, as vezes poéticas (porque não?) que faz com que temas tão
densos tenha minimante algo de agradável. Se folhearmos as primeiras páginas:
de Mal-estar na Civilização, de Freud, A Origem das Espécies, de
Darwin, Os ensaios, de Montaigne, O Príncipe, de Maquiavel, somo
meio que convidados a seguirmos adiante. Isso fez com que muitas obras
cientificas ficassem consagradas não apenas pelo seu conteúdo inovador como
sua estética literária. Muitos autores na ocasião obtiveram prêmios de
literatura.
Marcos Creder
Um comentário:
Penso tanto nisso, principalmente nesse ano. Que é o último da faculdade e lá vem o TCE.
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