segunda-feira, 4 de maio de 2020

DIÁRIO DE AULA: CLÍNICA 1 - INTERVENÇÕES VERBAIS DO TERAPEUTA


Expressões da linguagem: texto verbal e não verbal - Ler e compreender



Como sabemos as psicoterapias transitam em um continuum que vai polo suportivo ao polo expressivo. As intervenções que faz o psicoterapeuta frente ao material (discurso/narrativa) do cliente/paciente também. São diversas as formas e maneiras de um terapeuta intervir junto ao discurso de seu cliente, entre elas:

Perguntas: visam interrogar o paciente, pedir a este dados mais precisos, amplificações e aprofundamentos de tópicos discursivos apresentados. Através de perguntas o terapeuta explora mais detalhadamente suas respostas. Em abordagens cognitivas-comportamentais, assim como em terapias mais dialetizadas, têm o questionamento socrático como uma das suas principais ferramentas/intervenções. Tal método não é restrito às abordagens cognitivistas, porém bastante utilizada pelas mesmas. Para melhor compreensão/estudo vide o artigo A relevância da técnica de questionamento socrático na prática Cognitivo-Comportamental, in: archhealthinvestigation.com.br
(Em psicoterapia, em princípio, todo pensamento é antes de tudo uma hipótese a ser testada/questionada. Essa é uma das principais funções da utilização de perguntas ao estilo socrático, independente do tipo de psicoterapia).

Clarificação: reformula o relato do paciente, de modo a que certos conteúdos e relações do mesmo adquiram mais relevo. É como se fossem um resumo ou síntese que objetiva desembaraçar o relato emaranhado do cliente.
Exemplo: T: “então tudo estava bem no trabalho até que seu colega lhe criticou e você, a partir daí, começou a duvidar do que estava fazendo, e esta dúvida serviu para alterar o seu rendimento. É Isso?”

Psicoterapia - Uma Abordagem Dinâmica - Paul Dewald - Traça ...

Confrontação: intervenção que visa dirigir a atenção do paciente às suas contradições apresentadas (incongruências cognitivas, afetivas, comportamentais). Segundo Paul Dewald. em seu livro Psicoterapia: uma abordagem dinâmica, “é outra forma de intervenção muito ativa, na qual o terapeuta dirige a atenção do paciente a algo consciente ou pré-consciente eu expressou, mas que prestou pouca atenção naquele momento”. A confrontação busca, assim, indicar e mostrar semelhanças ou diferenças de certas partes do material/discurso.



Assinalamento: tem dois sentidos. Mostrar relação entre dados ou aspectos do discurso, bem como o de destacar certo trecho do mesmo (comumente também chama-se “pontuar”).

Sugestão: intervenções diretivas, podendo ser usadas com objetivo de incentivo a algo à título de experiência, por exemplo.

Recapitulação: uma espécie de resumo de pontos essenciais de uma sessão ou de um conjunto de sessões.

Reconstrução: uma espécie de interpretação onde o terapeuta reconstrói lacunas do discurso do paciente, dando-lhe uma compreensão racional da gênese de seus conflitos ou de sua biografia. Há um texto de Freud, Construções em Análise, escrito no final de sua vida em 1937 (disponível in: https://www.passeidireto.com/arquivo/5726878/freud-construcoes-em-analise-1937), onde ele diz que o terapeuta completa aquilo que o paciente não consegue lembrar do seu passado.

Validação egóica: elogios e enaltecimentos que visam reforçar certas atitudes ou pensamentos/sentimentos do cliente.

Validação Empática: intervenção que visa compreensão dos afetos e das atitudes e comportamentos do paciente/cliente a partir de seus pontos de vista. Tipo: entendo como você se sente.

Contraversão: dialetizar o discurso do paciente/cliente, contrapondo algo em seu sentido contrário. Busca-se o antagonismo para se alcançar à síntese, ou seja, a ambivalência (Posição depressiva, no linguajar kleiniano).

Psicoeducação: informar teoricamente/estatisticamente sobre algo.

Interpretação: tornar consciente algo que está inconsciente no cliente/paciente. Visa o latente por detrás do discurso manifesto.

OBSERVAÇÃO: não confundir intervenções frente ao material discursivo com emprego de técnicas e procedimentos. As intervenções, que aqui estamos dando destaque, são manejos dialogais e comunicacionais que faz o terapeuta no tocante ao material narrativo (verbal/não verbal) do seu paciente. Exposição em imaginação, rolling play, modelagem, cartões de enfrentamento, etc, são exemplos de emprego de recurso técnicos, aliados às intervenções verbais acima relatadas.

Seja como for. Toda vez que o terapeuta intervém verbalmente sobre o discurso do cliente está ele promovendo alguma mudança no rumo narrativo do mesmo.

SUGESTÃO DE LEITURA:

No Processo Terapêutico as intervenções do terapeuta são instrumentos essenciais porque são agentes de mudança, in: https://pt.scribd.com/document/181059081/No-Processo-Terapeutico-as-intervencoes-do-terapeuta-sao-instrumentos-essenciais-porque-sao-agentes-de-mudanca


Momentos-chave e natureza das intervenções do terapeuta em psicoterapia breve psicodinâmica, in: https://www.scielo.br/pdf/pusf/v19n2/a06v19n2.pdf

Caso Vera: intervenções do psicoterapeuta e aliança terapêutica, in: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2016000400002

Nenhum comentário: