Em
contrapartida, quando Freud começou a construir os
primeiros pilares da psicanálise, preferiu, para nossa surpresa, um caminho mais
simples, sem pedantismos, fazendo do seu texto simples e de fácil compreensibilidade se comparados aos textos de muitos de seus seguidores. Muitos leitores de Freud eram filósofos,
escritores, músicos, poetas, não eram médicos ou psicólogos e, sequer quiseram fazer carreira profissional. Eram curiosos que se
interessaram por um bom texto e
pela revolução metapsicológica.

Aquele que diz que o seu
conflito reside no seu Complexo
de Édipo mencionaria seu impasse da seguinte forma, já na primeira sessão: “amo a minha mãe" e, confidencialmente,
“odeio o pai”. Com um hálito erudito conclui, “minha neurose é assim, sou neurótico de livro...”, conclui envaidecido. Suponho que se um sujeito desejasse a mãe,
inclusive sexualmente, e tivesse um desejo de aniquilar o pai como está bem claro no discurso do analisando, certamente estaria longe de ser neurótico, estaria mais próximo, bem mais
próximo, seguindo a mesma batuta classificatória de perverso. Mas como o dito é um
dito embusteiro, um dizer estético, um desenho de palavras, provavelmente, quem o pronunciou está longe
de efetivar o incesto ou de cometer o
parricídio. Na verdade, traz-se com esse
dizer, um saber estéril e racionalizado que tem pouco valor na psicanálise. O “já
sabido”, ou visível na consciência não interessa tanto quanto o que nos
interrroga ou o que desconhecemos completamente. Jacques Lacan, um desses teóricos
que, como citei no início, carrega um barroquismo no seu dizer – muitas vezes
incompreensíveis – tem um frase interessante: “em psicanálise, o paciente não sabe o que diz”. E,
acrescento, o sujeito que nos chega com um saber pronto, sabe menos ainda – e aqui
poderia se acrescentar o rol dos profissionais de saberes “densos”. Enfim, sabemos
pouco do que nos ocorre.
No mito
grego que inspirou Sófocles a construir
a peça Édipo Rei, observamos que a frase citada pelo cliente acima, volta a ser pronunciada no oráculo da Pitonisa – sacerdotisa do templo de Apolo – ao próprio Édipo: “matarás teu pai e se casarás
com tua mãe”. Ao ter conhecimento disso, Édipo foge daqueles que julgava serem
seus pais – não sabia que era filho adotivo – para que o oráculo não se
consumasse. No caminho para Tebas mata o
rei Laio e casa-se com Jocasta, sua esposa. Tebas, então, é invadida por uma
misteriosa praga, uma maldição, e mais uma vez o oráculo é
consultado. Tirésias, o profeta, paradoxalmente, visionário e cego, reafirma
que o oráculo, enfim , ocorrera: Édipo
havia casado com a mãe e assassinado seu pai.
Um tema
muitas vezes deixado de lado pelos os intérpretes da peça de Sófocles é
justamente essa relação que existe entre o saber racionalizado que esconde outro saber, o verdadeiro saber que está ali bem a nossa
frente e que nunca nos tínhamos dado conta ou que nunca nos foi permitido ter conhecimento. Desse modo, podemos também acrescentar que o
conflito de Édipo foi ter pensado saber, mas não se sabia o que dizia ou o que fazia.
Marcos
Creder
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