segunda-feira, 9 de abril de 2012

GENIALIDADE & TRANSTORNO - PARTE I


Mês do Oscar é temporada certa de filmes com temáicas adultas nos cinemas de shopping. Entre eles tivemos a pouco a exibição de "Tão Forte e Tão Perto", que conta a história de Oscar Schell uma criança de quase onze anos e que perdeu o pai nos atentados às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001. Mas não é do filme - no todo apenas mediano - que vamos falar aqui, mas sim do possivel transtorno que tem o personagem de Oscar e que lhe dificulta a socialização. Trata-se da "Síndrome de Asperger".
                A Síndrome de Asperger faz parte do espectro autista, todavia se diferencia do autismo como conhecemos por não apresentar comprometimento cognitivo e intelectual. O nome dado ao transtorno deve-se a Hans Asperger, psiquiatra austríaco que em 1944 publicou o artigo "Psicopatia autista: uma desordem de personalidade" onde ele identificou um padrão de comportamento mais encontrado em meninos. Entre alguns aspectos pertinentes temos: ausência de empatia, pouca capacidade para desenvolver habilidades sociais, comportamento solitário e ligação com interesses especiais onde detêm vasto e profundos conhecimentos sobre sua área de interesse que estão acima de sua faixa etária. Em vistude desta última característica Asperger denominava-os de "pequenos professores", pois os mesmos tendem a desenvolver habilidades específicas com particularidades geniais, tais como ler partituras musicais já na primeira infância, alfabetizar-se precosemente e calcular matematicamente com maestria.
                A síndrome manifesta-se desde cedo, logo aos primeiros dois ou três anos de vida. Chama a atenção pelas manifestações de genialidade da criança, porém é um transtorno mental ainda pouco conhecido pela ciência. Quanto mais cedo é diagnosticado melhor. Vejamos alguns sintomas ou sinais apresentados na Síndrome de Asperger, tais como tendência a melhor se relacionar com adultos do que com outras crianças, utilização de linguagem formal com amplo vocabulário e falta de malícia acreditando em tudo que os outros lhe dizem, não entendendo ironias. É ingênuo, puro e sincero. Sua coordenação motora é pobre e é bastante ritualista com rotina rígida. Para sentir-se seguro busca repetir compulsivamente certas ações e têm uma memória excepcional.
                Um outro filme, mais antigo, que aborda a questão é "Muito além do jardim" (1979) onde o personagem vivido pelo ator Peter Selers passa a vida cuidado de um jardim. O mundo além da mansão onde trabalha é visto apenas através da televisão e quando o patrão morre ele se vê obrigado a deixar a casa em que sempre viveu e conhecer o mundo real lá fora. Em ritmo de comédia dramática "Muito além do jardim" explora a temática da Síndrome de Asperger em cenas hilárias e antológicas, tais como quando o personagem sofre um assalto e - acostumado a somente ver o mundo pela televisão - tenta se livrar do perigo com um controle remoto mudando de "canal".
                A incapacidade que tem a pessoa acometida pela síndrome de fazer linguagem simbólica (seu pensamento é concreto) e associativa leva-a a situações exdrúxulas. Expressões do tipo "tá chovendo canivetes" é entendido ao pé da letra e a pessoa é capaz de se esconder debaixo da cama com medo dos canivetes.
                Quem sofre da síndrome tem dificuldade em reconhecer as diferentes manifestações das emoções no rosto do outro. É como se fosse "cego" em distinguir raiva e alegria, por exemplo. Todavia a dificuldade em expressar emoções não é sinônimo de ausência de sentimentos. E isto fica visível no personagem de Oscar no filme "Tão forte e tão perto". Aliás, que tradução horrível, visto que em original é "Extremely Loud and Incredibly Close" (extremamente alto e incrivelmente perto).
                Trata-se, como dissemos acima, de um transtorno cujas causas ainda são um mistério. Especialistas no assunto consideram não haver uma causa única. Sabe-se que se trata de uma forma diferente como o cérebro processa as informações e não a cura conhecida. Embora não haja cura pode-se propiciar uma vida mais harmônica e menos difícil, através de uma educação adequada e apoio ao longo do desenvolvimento infantil e juvenil.
                Do ponto de vista psicoterápico é claro que quanto mais cedo se iniciar o tramento melhor podem ser os resultados. Uma das técnicas mais empregadas é o treinamento de competências sociais, onde a criança ou o jovem é auxiliado a aprender a ler a linguagem corporal e a interpretar expressões não verbais e emocionais. Quando adolescente a participação em grupos terapêuticos podem trazer bons benefícios. Contudo, por se tratar de uma síndrome ainda pouco conhecida, muito ainda necessita ser desenvolvido no tocante à abordagem terapêutica e manejos pertinentes.
                A mente e o cérebro humano é um vasto e talvez inesgotável território a ser desbravado. Nesta fascinante viagem homem a dentro o que se faz de mais impotante e necessário é aceitar e acolher as diferenças.
Joaquim Cesário de Mello

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