terça-feira, 11 de agosto de 2020

O BARRO DE QUE SE FAZ A ALMA

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Biblicamente fomos modelados a partir da argila do solo. Do pó da terra fomos feitos e ao pó um dia retornaremos. Do sopro divino recebemos o fôlego da vida, e assim o ser humano foi forjado alma vivente.
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O poeta mato-grossense Manoel de Barros dedicou grande parte de sua existência a buscar o mistério irracional das coisas e da vida. Seus achados, dizia, vinham da ignorância. Gostava de ver o que não aparecia. Segundo ele: "tentei descobrir na alma alguma coisa mais profunda do que não saber nada sobre as coisas profundas. Consegui não descobrir". De miudezas e excessos Manoel de Barros lega um agigantado acervo sobre a alma humana e seus assombros frente ao mundo.
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A poesia manoelesca é a alma feita em palavras e de palavras revelando a alma. Seu olhar muito mais que olhar o mundo desnuda o profundo, o profundo cavernoso com suas complexidades, paradoxos, paixões e seus pasmos. O psiquismo humano, demonstra Manoel de Barros, é permeado de perplexidades.
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"O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê", confessa o poeta. De seus aparentes simples versos temos o insuflar da alma - esta coisa invisível que movimenta o mundo. A alma, demonstra Manoel, está sempre presente na miudezas dos pequenos gestos. Se fomos criados da argila do solo, somos então feitos da mesma terra onde brotam plantas e vegetais. Do barro da natureza somos feitos e feito somos de pó e cascalho.

"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas".
(Manoel de Barros)


Joaquim Cesário de Mello

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