A ESTRUTURA FAMILIAR
A família, seja ela qual for, se estrutura por meio de papéis e funções, cujo exercício dos mesmos determina os comportamentos dos seus membros. Entendê-los é, portanto, de fundamental importância para a compreensão da dinâmica familiar. Nathan Ackerman, um dos principais pioneiros da Terapia Familiar, já dizia que a família é “a unidade básica do desenvolvimento e experiência, realização e fracasso, saúde e enfermidade”. Para ele a família é sempre uma UNIDADE SOCIAL E EMOCIONAL.
Sim,
frequentemente a família é o primeiro espaço vital onde a criança começa a
integrar seu EGO e formar sua personalidade. A família é mais do que uma
instituição social, é um sistema (vide aula passada) que se transforma ao
longo do tempo. Vimos em nosso último post que a família é um sistema vivo e
ativo, aberto, em constante transformação. Vimos também que é um sistema
rodeado de fronteiras inter-sistêmicas e intra-sistêmicas cujos limites
(analogamente uma membrana) permitem a troca de informações entre o meio
interno sistêmico e o meio externo. Vimos ainda que dentro de um sistema
familiar (nuclear) coexistem vários subsistemas, entre eles o individual, o
conjugal, o parental e o fraternal. A forma como os subsistemas se organizam e
se relacionam definem uma estrutura familiar.
Como todo e qualquer sistema a
família é regida por regras que determinam o seu funcionamento. Na maioria das
vezes são regras tácitas construídas ao longo do tempo. E ainda dentro de uma
visão sistêmica a família não é um conjunto de indivíduos propriamente dito,
mas sim um todo interativo e interdependente cujas interações regulam o
sistema, sua continuidade e a identidade de seus membros. Deste modo uma mudança significativa em um membro da família implicará em uma mudança no sistema como um todo (principio da circularidade).
Vimos que a família ao longo do
seu ciclo vital lida com inúmeras situações adaptativas (crises normativas e
acidentais). Os padrões relacionais familiares sofrem alterações em momentos de
crises e a maneira como o sistema lida com tais situações pode facilitar mais
rapidamente o reequilíbrio sistêmico ou não. Tal fato se relaciona com o grau
de flexibilidade da família. Família cujo sistema que pouco suporta mudanças
tende a manter seus padrões relacionais rígidos, provocando assim
desajustamento funcional e sofrimento intra-sistêmico.
Caso
melhor conheçamos a estrutura familiar, repetimos, melhor entenderemos a psicodinâmica
da mesma. Uma estrutura familiar é formada por um conjunto de regras veladas
que condicionam o comportamento e o relacionamento de seus membros. As transações
relacionais localizam qual o lugar de cada membro dentro da família e qual seu
papel e função. Para Salvador Minuchin padrões transacionais são transações
relacionais que de tão repetidas viraram permanentes. Solidificam-se, portanto,
padrões relacionais, tais como o pai é provedor material e a mãe é provedora
afetiva. Tais transações relacionais, assim como as fronteiras, nem sempre são
assim tão visíveis, afinal elas se estabelecem no pragmático do dia-a-dia e na
rotina cotidiana. É clássica certas situações como, por exemplo, expõe Minuchin:
uma mãe que se queixa verbalmente de ser sempre ela quem lida com os filhos
sozinha, embora comportamentalmente quando algo necessita ser feito ela é a
primeira a tomar a iniciativa para resolver, desqualificando o pai quando ele
tenta tomar alguma atitude.
Ao ser somente ela quem resolve os problemas
domésticos com os filhos (pois, segundo ela, o pai não serve pra nada nessas
questões), cronifica-se um tipo de interação onde a mãe é hiperfuncional e o
pai hipofuncional.
Cada membro da família, individualmente falando, é um subsistema com suas funções específicas, assim como são subsistemas o agrupamento de indivíduos dentro do sistema familiar maior. A organização de cada subsistema é feita por fronteiras e pelas regras que determinam quem e como participa cada pessoa no subsistema. A nitidez e a flexibilidade das fronteiras facilitam a interação entre membros e com os demais subsistemas familiares. A diferenciação entre os membros tem muito a ver, portanto, com a clareza das fronteiras e dos limites de cada um.
Lembremos que coabita no espaço
psicológico da família tanto a necessidade de coesão e pertencimento, quanto a
necessidade de individuação. A identidade é resultado do movimento de se
diferenciar da “massa familiar”. A individuação possibilita o indivíduo existir
fora do âmbito familiar. Vejamos o que Murray Bowen (um dos mais importantes autores sobre terapia familiar) diz a respeito:
“O conceito de diferenciação
de si mesmo se relaciona com o grau
pais. Em um sentido amplo, o
filho se separa fisicamente da mãe
no momento do nascimento, mas
o processo de separação é lento,
complicado e incompleto.
Inicialmente depende muito de fatores
inatos da mãe e de sua
capacidade de permitir ao filho crescer
separando-se dela, mais do que
de fatores inatos do filho. Existem
também muitos outros fatores,
como o grau que a mãe foi capaz
de se diferenciar de sua
família de origem, a natureza de sua
relação com o marido, com seus
pais e com outras pessoas
significativas, e por último,
como se apresenta a realidade e sua
capacidade de suportar a
tensão.”
Deixemos, pois, abaixo um
resumo de todo assunto:
ESTRUTURA
|
Padrão de organização que
estabelece a forma de interagir dos membros que constituem um sistema.
|
SISTEMA
|
Conjunto de elementos
(subsistemas) que interagem entre si e compõem um todo integral.
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SUBSISTEMA
|
Subgrupamento familiar.
Indivíduo, díades, tríades e outros conjuntos de pessoas/papéis podem formar
um subsistema.
|
FRONTEIRAS
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O que delimita um sistema ou
subsistema de outro. É o limite onde ocorrem as interações relacionais e que
define acesso e restrição ao interior do sistema ou subsistema. São barreiras
invisíveis que regulam contatos afetivos.
|
FRONTEIRAS RÍGIDAS
|
.
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FRONTEIRAS DIFUSAS
|
O oposto da rígida. A
aproximação entre os subsistemas é tanta (ausência de limite claro) que carece
de espaço para a diferenciação e individuação de seus membros.
|
FRONTEIRAS CLARAS
|
São limites nítidos que ao
delimitar claramente o espaço de cada membro ou subsistema permite a troca e
a comunicação entre eles.
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FAMÍLIA AGLUTINADA
|
Também chamada de família
emaranhada. Os limites entre os membros é difuso e há exagero de intimidade e
falta de diferenciação entre eles.
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FAMÍLIA CISMÁTICA
|
Também chamada de família
desligada. As fronteiras entre seus membros ou subsistemas são rígidas não
permitindo proximidade afetiva e troca de intimidade entre seus membros. Há
excesso de diferenciação e carência de coesão familiar.
|
Joaquim Cesário de Mello
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