domingo, 7 de junho de 2020

DIÁRIO DE AULA - FAMÍLIA: ESTRUTURA


A ESTRUTURA FAMILIAR


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               A família, seja ela qual for, se estrutura por meio de papéis e funções, cujo exercício dos mesmos determina os comportamentos dos seus membros. Entendê-los é, portanto, de fundamental importância para a compreensão da dinâmica familiar. Nathan Ackerman, um dos principais pioneiros da Terapia Familiar, já dizia que a família é “a unidade básica do desenvolvimento e experiência, realização e fracasso, saúde e enfermidade”. Para ele a família é sempre uma UNIDADE SOCIAL E EMOCIONAL.
                Sim, frequentemente a família é o primeiro espaço vital onde a criança começa a integrar seu EGO e formar sua personalidade. A família é mais do que uma instituição social, é um sistema (vide aula passada) que se transforma ao longo do tempo. Vimos em nosso último post que a família é um sistema vivo e ativo, aberto, em constante transformação. Vimos também que é um sistema rodeado de fronteiras inter-sistêmicas e intra-sistêmicas cujos limites (analogamente uma membrana) permitem a troca de informações entre o meio interno sistêmico e o meio externo. Vimos ainda que dentro de um sistema familiar (nuclear) coexistem vários subsistemas, entre eles o individual, o conjugal, o parental e o fraternal. A forma como os subsistemas se organizam e se relacionam definem uma estrutura familiar.
        Como todo e qualquer sistema a família é regida por regras que determinam o seu funcionamento. Na maioria das vezes são regras tácitas construídas ao longo do tempo. E ainda dentro de uma visão sistêmica a família não é um conjunto de indivíduos propriamente dito, mas sim um todo interativo e interdependente cujas interações regulam o sistema, sua continuidade e a identidade de seus membros. Deste modo uma mudança significativa em um membro da família implicará em uma mudança no sistema como um todo (principio da circularidade).

      Vimos que a família ao longo do seu ciclo vital lida com inúmeras situações adaptativas (crises normativas e acidentais). Os padrões relacionais familiares sofrem alterações em momentos de crises e a maneira como o sistema lida com tais situações pode facilitar mais rapidamente o reequilíbrio sistêmico ou não. Tal fato se relaciona com o grau de flexibilidade da família. Família cujo sistema que pouco suporta mudanças tende a manter seus padrões relacionais rígidos, provocando assim desajustamento funcional e sofrimento intra-sistêmico.

  Caso melhor conheçamos a estrutura familiar, repetimos, melhor entenderemos a psicodinâmica da mesma. Uma estrutura familiar é formada por um conjunto de regras veladas que condicionam o comportamento e o relacionamento de seus membros. As transações relacionais localizam qual o lugar de cada membro dentro da família e qual seu papel e função. Para Salvador Minuchin padrões transacionais são transações relacionais que de tão repetidas viraram permanentes. Solidificam-se, portanto, padrões relacionais, tais como o pai é provedor material e a mãe é provedora afetiva. Tais transações relacionais, assim como as fronteiras, nem sempre são assim tão visíveis, afinal elas se estabelecem no pragmático do dia-a-dia e na rotina cotidiana. É clássica certas situações como, por exemplo, expõe Minuchin: uma mãe que se queixa verbalmente de ser sempre ela quem lida com os filhos sozinha, embora comportamentalmente quando algo necessita ser feito ela é a primeira a tomar a iniciativa para resolver, desqualificando o pai quando ele tenta tomar alguma atitude.
Ao ser somente ela quem resolve os problemas domésticos com os filhos (pois, segundo ela, o pai não serve pra nada nessas questões), cronifica-se um tipo de interação onde a mãe é hiperfuncional e o pai hipofuncional. 

         Cada membro da família, individualmente falando, é um subsistema com suas funções específicas, assim como são subsistemas o agrupamento de indivíduos dentro do sistema familiar maior. A organização de cada subsistema é feita por fronteiras e pelas regras que determinam quem e como participa cada pessoa no subsistema. A nitidez e a flexibilidade das fronteiras facilitam a interação entre  membros e com os demais subsistemas familiares. A diferenciação entre os membros tem muito a ver, portanto, com a clareza das fronteiras e dos limites de cada um.
           Lembremos que coabita no espaço psicológico da família tanto a necessidade de coesão e pertencimento, quanto a necessidade de individuação. A identidade é resultado do movimento de se diferenciar da “massa familiar”. A individuação possibilita o indivíduo existir fora do âmbito familiar. Vejamos o que Murray Bowen (um dos mais importantes autores sobre terapia familiar) diz a respeito:

“O conceito de diferenciação de si mesmo se relaciona com o grau
De la familia al individuo / the Individual Family - Livros na ...em que uma pessoa vai se diferenciando emocionalmente dos
pais. Em um sentido amplo, o filho se separa fisicamente da mãe
no momento do nascimento, mas o processo de separação é lento,
complicado e incompleto. Inicialmente depende muito de fatores
inatos da mãe e de sua capacidade de permitir ao filho crescer
separando-se dela, mais do que de fatores inatos do filho. Existem
também muitos outros fatores, como o grau que a mãe foi capaz
de se diferenciar de sua família de origem, a natureza de sua
relação com o marido, com seus pais e com outras pessoas
significativas, e por último, como se apresenta a realidade e sua
capacidade de suportar a tensão.”




Deixemos, pois, abaixo um resumo de todo assunto:
 CONCEITO
 DEFINIÇÃO
ESTRUTURA
Padrão de organização que estabelece a forma de interagir dos membros que constituem um sistema.
SISTEMA
Conjunto de elementos (subsistemas) que interagem entre si e compõem um todo integral.
SUBSISTEMA
Subgrupamento familiar. Indivíduo, díades, tríades e outros conjuntos de pessoas/papéis podem formar um subsistema.
FRONTEIRAS
O que delimita um sistema ou subsistema de outro. É o limite onde ocorrem as interações relacionais e que define acesso e restrição ao interior do sistema ou subsistema. São barreiras invisíveis que regulam contatos afetivos.
FRONTEIRAS RÍGIDAS
.Quando as fronteiras são muito rígidas impedem ou permite pouco contato com os sistemas ou subsistemas externos
FRONTEIRAS DIFUSAS
O oposto da rígida. A aproximação entre os subsistemas é tanta (ausência de limite claro) que carece de espaço para a diferenciação e individuação de seus membros.
FRONTEIRAS CLARAS
São limites nítidos que ao delimitar claramente o espaço de cada membro ou subsistema permite a troca e a comunicação entre eles.
FAMÍLIA AGLUTINADA
Também chamada de família emaranhada. Os limites entre os membros é difuso e há exagero de intimidade e falta de diferenciação entre eles.
FAMÍLIA CISMÁTICA
Também chamada de família desligada. As fronteiras entre seus membros ou subsistemas são rígidas não permitindo proximidade afetiva e troca de intimidade entre seus membros. Há excesso de diferenciação e carência de coesão familiar.



Joaquim Cesário de Mello

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