Conheci vários poetas sem versos escritos ou falados, que se diziam escritores por conta de uma postura de vida e de algumas inquietudes que atormentavam suas cabeças. Aguardavam um momento de nirvana que a vida pudesse lhes propiciar, quiçá um momento de tédio suficiente para “a criação” - alguns me diziam, o tédio vem com a idade - nisso estavam certos. O tédio, abre os braços e, espaçoso, sequer propicia vontade de escrever algo. Nesse momento, em que todos os blefes se rendem ao tédio, vem, enfim, o constrangimento. Como um mágico que vê desvendada a sua magia, entristece, e esta melancolia o enfraquece, o dilapida, sequer lhe arruma palavras poéticas para sair desse marasmo. faltou talento, faltou empenho, arrisco em dizer faltou querer.
É possível que alguns interpretem esse tipo de crença do velho senhor e do poeta como uma crença delirantes - e não estariam de todo errados, pois há, sem dúvida, algumas semelhanças. Suponho, contudo, que neste caso, domina o território do desejo e da fantasia, da ideia sobrevalorada, como estão nos manuais de psicopatologia. Aqui reside o ponto de sustentação e os pilares de muitas pessoas, do mesmo modo que algumas crenças religiosas radicais. E se são sustentadas anos a fio, há uma razão de terem se perpetuado. Freud disse em determinado texto que havia uma vantagem em se manter inerte ou de fracassar no êxito, fazendo com que esses sonhos ou projetos fossem irrelizáveis desde antes, desde o começo - sendo o cerne do projeto, justamente, sonhar com o impossível. Machado de Assis disse em certo texto que "é melhor cair das nuvens que do terceiro andar". Hélio Pellegrino, psicanalista, muito conhecido nos anos 1970 -1980, invertia o sentido dessa frase: "é melhor cair do terceiro andar que cair das nuvens". concordo com o psicanalista, e posso afirmar que esses sujeitos que citei, caem do terceiro anda de vez em quando mas demoram-se a cair das nuvens e tem alguma razão, pois fraturas no orgulho e na autoestima e em todos seus constructos ilusórios, são por vezes irreversíveis.
Marcos Creder
Marcos Creder
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