domingo, 13 de dezembro de 2015

Um mundo cabisbaixo - Intervalo

 
 
 
Muito já se falou da influência das redes sociais em diversos segmentos  da sociedade.   há um certo encantamento e, eventualmente, um entusiasmo, nesses dizeres,  principalmente porque essas ferramentas trazem  tecnologias de informação instantânea com rápida propagação de notícias, de aproximação virtual entre pessoas e grupos -  mesmo que em grandes distâncias geográficas reais – e , entre outros,  por dar “um novo  formato ao sujeito” que,  dentro desse modelo,  se torna uma pequena celebridade, portanto mais influente na mídia. Obviamente que ferramentas como essas trazem vantagens e desvantagens. Avança-se com ela no tempo – no tempo imediato – , no espaço e no sentimentos gregário de uma grande aldeia – supõe-se que desse modo, o mundo ficaria mais democrático, mais opinativo e mais igualitário. Os pessimistas, aqueles que destacam as desvantagens,  assistem esses avanços com desconfiança, focam mais na falta de privacidade, na vida excessiva e desnecessariamente exposta e nos monitoramentos – inclusive na espionagem de Estado, como foi recentemente divulgada

 A cada dia surge uma ou outra novidade que traz  comentários do poder transformador das redes sociais,  aqui, contudo, darei foco a uma de suas novidades que, talvez, menos surpreenda. A novidade? O ser humano continua – parafraseando Nietzsche  – demasiadamente humano, tanto quanto em outros momentos da história. A diferença é não sabíamos que era tão demasiado assim.  A forma explicita como as pessoas emitem opiniões mostra exatamente isso. Alguns pensamentos que julgamos repulsivas  são lugares comuns nessas redes – e além disso, criam seguidores, as vezes centenas de milhares de replicadores. Sao pensamentos, rasteiros, odiosos, vingativos, voluntariosos, com cunho facistas, nazistas – hoje posso compreender que alguns povos foram tolerantes com o holocausto porque de certo modo, na opinião própria, partilhavam de suas ideias. O filme  cult  “a Onda” podem bem representar e antecipar  essa tendência ao contágio e adesão as  ideias rateiras. Esse sujeito em demasia é em função do seu narcisismo, totalitário – esqueçam de que o status de ser de  direita ou de  esquerda  o fazem melhores. Na verdade esses sujeitos, não tem ideologias, torcem por suas ideias com a mesma convicção de quem torce por time de futebol. 
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O período eleitoral pós afirmou  esse forma de funcionar. Observa-se disputas passionais as mais absurdas de ambos os lados. Acusações infundadas, preconceituosas, grotescas, mal educadas. A má educação, por sinal,  é quem vem ditando moda nas redes sociais desde que foram criadas. Uma pergunta que sempre se faz questiona se as redes provocam essa incontinência verbal. Sim e não. 


O filósofo  Luiz Felipe Pondé afirma em tom irônico que algumas pessoas jamais deveriam trazer suas opiniões a público, e diz que as redes sociais possibilitaram o dizer irresponsável e descabido. Com essa afirmação, penso, inclui-se as duas respostas a pergunta acima. O sujeito demasiadamente humano sempre existiu, está não apenas do nosso país, mas em todo mundo, na nossa comunidade, ao nosso lado. Está, enfim, dentro de nós. Estamos na dialética da realização do desejos e do seu impedimento,  estabelecemos contratos frágeis que precisam ser reiterados, retificados e modificados  a todo momento em função do algo transgressor que há em todo sujeito. Leis precisam ser escritas e reescritas, destacadas para que todos possam ver.  Esse ser em demasia é  justamente esse ser se educa pelo frustração e pela dor e se gratifica com muito pouco.  A essa gratificação alguns chamam de felicidade. As redes sociais criam um espaço ilusório de liberdade de expressão, que na verdade são dizeres muitas vezes infantis. E para aqueles que acreditam que a infantilidade tornaria a humanidade melhor justamente pela ingenuidade sugiro que leiam “O senhor das Moscas” livro clássico da literatura escrito por William Golding
 
 
Marcos Creder

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