domingo, 22 de março de 2015

Adivinhações




Um dos grandes desejos  da humanidade  é dominar o tempo. Se se vai a um centro espacial, a uma discussão filosófica ou a uma tribo indígena, encontramos alguns experts que tentam minimante, mas ainda assim com boçalidade,  trazer previsões do tempo. Falo de tempo sob vários aspectos, desde aqueles que querem congelar suas imagens e não envelhecer, aos outros, os que tem curiosidade de viajar no tempo - mais precisamente no tempo futuro. Há diversos cultos religiosos em que o guru, o mestre ou alguém com seu tino espiritual tenta saber do destino. Em paralelo, também se assiste as previsões das ciências desde a o tempo  meteorológico às  ciências politicas,  em que as “opiniões dos especialistas” seguem rito semelhante do religioso. Enfim, frente à nossa intolerância à incerteza e ao desconhecido lutamos para controlar o futuro.

Ouvi, há alguns anos, o relato de um senhor que disse com ar de sombria superstição, que quando tinha vinte poucos anos - hoje beira os noventa -  uma cigana tomara quase que à força sua mão direita e comparara com a esquerda, disse-lhe palavras surpreendentes. Revelou, lamentando-se, que ele iria ficar viúvo e que iria sofrer com a perda da mulher. Não menos que uma semana depois dessa relevação, ocorre-lhe a tragédia: a mulher morre em acidente de carro. Ao me contar isso, muitas décadas depois, ainda se arrepiava e se comovia como se tivesse revivendo cada detalhe daquela cena. Havia, contudo, uma alegria ao ver que os outros se assustaram, assim como ele, com sua história. Disse que esse fato era uma prova irrefutável - dirigida aos céticos - de uma certeza sobrenatural.   Realmente os céticos, nessas discussões, funcionam como “estraga prazer” desses eventos sobrenaturais. Mas o ceticismo, nesse caso,  não precisaria ir tão longe para iniciar uma contestação. Basta se utilizar da lógica não muito refinada. Qualquer cigana que veja as duas mãos de uma pessoa pode saber sem perguntar, o seu estado civil. Para isso havia - e naqueles tempos usava-se mais - as alianças. Sabendo que é casado, a quiromante tem chances estatísticas de errar em cinquenta por cento, e caso o erro se efetivasse, o dono da mão, ou seja o depois falecido,  não tinha como lhe reclamar  da farsa. A chance da cigana se dar bem é de cem por cento e caso não tivesse essas parcas informações, literalmente, em “mãos”, teria ainda o recurso de generalizar a perda, algo como “alguém muito importante na sua vida iria morrer ou adoecer”. Nos curtos horóscopos de jornais,  diz-se o óbvio com tom de adivinhação e de mistério. Se se ler “cuidado com as viagens”, está apenas se fazendo uma advertência necessária, pois independente de ser adivinho,  viagens geralmente tem maior frequência de ocorrências negativas: doenças, acidentes, roubos, estresses etc.  

As revelações e profecias desvelam,  em geral, o óbvio. Não há nada de surpreendente na lógica de nosso entendimento e na execução das lei da natureza. Nostradamus, por exemplo, tão citado entre as profecias universais, não passa de um escritor que faz de suas imprecisas metáforas, predições - e, nesse caso, as imprecisões dão margem a diversas conclusões.  

Enfim,  não capacidade de prever o futuro, mesmo que estejamos usando de recursos científicos.  Se ousarmos um pouco mais, caímos em erros, às vezes, erro absurdos. Quem poderia imaginar que o muro de Berlim cairia em vertiginosa rapidez? quem  poderia pensar que  John Lennon viveria tão pouco, em consequência de um assassinato banal? Quem poderia imaginar que existiria a  internet e todos os recursos virtuais nos anos em que a televisão foi inventada.

Revi entre o sono e a vigília o filme “de Volta para o Futuro” - filme que muito me agradou e que ainda me agrada. Na parte II, ou seja, no filme de continuação, a máquina do tempo, um automóvel com traços futurista, leva os heróis ao  longínquo ano de 2015 e lá chegando encontram carros voadores movidos a lixo, pessoas com trajes brilhantes em tom metalizado, luzes em laser, skates flutuantes. Os heróis procuram seus “eus” do futuro e para localizar-los, procuram-mo em catálogos telefônicos. Nesse tempo futuro as pessoas se comunicam por meio de walk-talkies (alguém se lembra disso?). Nesse futuro não havia botóx -  pelo contrário, os personagens envelheciam mais que o esperado.

Interessante são os objetos voadores na fantasia do futuro. Na verdade, voar é um sonho antigo da humanidade e um sonho recente de cada sujeito - quantas noites sonhamos que estamos voando? Desde o mito de Ícaro, passando pelas parafernálias de Da Vince, que flutuamos em fantasia. Não é à toa que o mito da vida humana termina no Céu. Voamos muito ao prever o futuro.

Marcos Creder

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