É bastante comum empregarmos termos como emoções e sentimentos como se os mesmos representassem a mesma coisa. Não é. Embora bastante próximos, emoções e sentimentos têm suas diferenças. O neurologista português António Damásio assim distingue: os sentimentos são orientados para o interior, já as emoções são o exterior. Os sentimentos são, pois, gerados das emoções, isto é, sentindo as emoções temos os sentimentos.
Biologicamente
a emoção é um conjunto de reações neuroquímicas do cérebro que se organizou
durante milênios para darmos respostas comportamentais viáveis à sobrevivência
da espécie. Nos seres humanos, por possuirmos um substrato neural complexo, as
respostas são bastante variáveis, o que proporcionou aos nossos ancestrais uma
flexibilidade maior de adaptação ao ambiente e suas mudanças. Mas também temos
nas emoções um fundo subjetivo que torna a experiência emocional única e
singular. Deste modo, embora as emoções façam parte da natureza humana, ela é
sempre uma experiência pessoal que se encontra associada a nossa maneira de ser,
personalidade e temperamento.
Vamos buscando
a emoção
que não podemos encontrar
neste tédio sempre igual
que nos envolve o coração.
que não podemos encontrar
neste tédio sempre igual
que nos envolve o coração.
Sentimos a vida pulsar porque nos
emocionamos. Uma lembrança só é verdadeiramente uma lembrança não porque experimentamos
um acontecimento, mas pelas emoções que o acompanham. Há algo de nostálgico
em nossas recordações, afinal a própria nostalgia é um sentimento presente
pelos momentos e emoções passadas que não mais podemos reviver. É por causa das
emoções que um acontecimento não pode mais se repetir igualmente. E por mais
que tentemos recontar e relatar como vivemos o ontem vivido, já não é mais a
mesma coisa. A lembrança, qualquer lembrança, é sempre um misto de memória e coração.
Todo
ser humano sente, e tem o direito de sentir, amor, raiva, ciúme, inveja,
alegria, tristeza, medo, vergonha, mágoa, gratidão, orgulho, angústia, vaidade,
remorso, ódio, culpa, felicidade. Assim como na música, quando combinamos as
setes notas musicais e fazemos inúmeras sinfonias, é na combinação dos
sentimentos e emoções que nos tornamos, cada um, uma singularidade humana.
O estudo das emoções e dos
sentimentos tem destaque no campo da psicologia. Na psicologia clínica nem se
fala. Não é à toa aquela clássica caixinha de lenço de papel sempre próxima à
cadeira ou poltrona onde se senta o cliente/paciente. Quanto mais a pessoa
conhece suas emoções, a dinâmica dos seus sentimentos e melhor entende sua vida
afetiva, mais ele se movimenta para dentro de si mesmo, em uma espécie de
retorno à Delfos. Ou como diz Fernando Pessoa, “quando sinto, penso”, e sentimento que não se pensa é cego.
Joaquim Cesário de Mello
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