Uma mente humana se revela ao mundo externo através da comunicação, seja ela verbal e/ou não verbal. O mesmo acontece, inevitavelmente, nas relações psicoterápicas que são, por excelência uma relação de ajuda por meios psicológicos comunicacionais entre paciente e terapeuta. O material clínico, portanto, é essencialmente discursivo, isto é, os estados e processos mentais do cliente emergem no seio do diálogo e da relação entre este o seu outro (terapeuta). Mediante, pois, a conversação, muito da estrutura dinâmica da personalidade e seus significados são transmitidos. Isto é hoje tão claro que alguém já disse que a psicoterapia é um processo de "transformação do discurso".
A linguagem - como um sistema de significados - é um campo para a reflexividade tanto intra quanto interpessoal. A pessoa humana é um narrador de si, e tais narrativas são resultados de um processo de significados que estão contidos nas histórias narradas. O self de cada um de nós se constrói a partir de histórias de nosso passado narrado vividas em múltiplos contextos de nossa construção como personalidade e pessoa. O reconhecimento que o sujeito tem de si (self), isto é, a consciência de si mesmo, construiu-se e ainda continua se construindo nas transações interpessoais e por meio de uma trama de afetos e significados. Somos, humanamente falando, grandes contadores de histórias ou, parafraseando Raul Seixas, uma verdadeira autobiografia ambulante.
E o que ou sobre o que nos relata o paciente? Sobre si, sua vida, seu mundo, seus problemas e sobre as pessoas com quem convive. O mundo fenomênico é o mundo que existe no psiquismo da pessoa. O mundo e a vida em que a pessoa vive não é exatamente o mundo e a vida que ele relata. A vida e o mundo relatado é o experienciado por ela e modificado pelas suas perspectivas, sentimentos, fantasias e interpretações.
Partamos do seguinte princípio: quem melhor pode conhecer a vida de uma pessoa senão ela mesma. Cada um é especialista sobre si. Como tal sujeito vive a vida e a experimenta, age e se lembra está bastante relacionado com a interpretação e o significado que ele dá aos fatos e aos eventos. Podemos dizer até que nos organizamos como pessoa a partir e em torno desse fatos/eventos e do significado a eles dados. E o que faz geralmente o cliente frente a seu terapeuta: relata e se relata, narra sobre si e sua vida e seus problemas. Centremos, pois, no discurso que se constrói ou se reproduz.
continua
Joaquim Cesario de Mello
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