quinta-feira, 3 de setembro de 2020

AS ERÍNIAS

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As divindades da Antiguidade não morreram. Ao menos no interior escuro das almas humanas. Menos divinos do que parecem os deuses gregos (e seus correlatos romanos) se perpetuaram na Humanidade por representarem os anseios e receios, desejos e temores da nossa natureza ou essência humana. Por isso os panteões dos nossos ancestrais antediluvianos são cheios de deidades que amam, invejam, odeiam e têm ciúmes e raivas. E dentre as raivas mais coléricas, violentas e impiedosas tem-se as fúrias.

Mitologia Grega: Erinias ou FúriasAs Fúrias da mitologia romana são as Erínias da mitologia grega. E quem são as Erínias ou as Fúrias? São três irmãs que no imaginário do passado personificavam a vingança. Se no conjunto mítico dos longínquos antepassados dos nossos mais distantes avós Nêmesis era a deusa que punia os deuses, quem nos punia (meros mortais humanos) eram as Erínias filhas de Nix (a deusa da noite), portanto, são divindades cosmogônicas, ou seja, que estão na origem do universo e são anteriores a Zeus que representava o mantenedor da ordem e da justiça. Isso talvez explique porque a justiça das Erínias seja tão brutalmente severa, marcada apenas e tão somente pelo sedento sangue da forra e da vindita. Não é à toa que ela eram chamadas de "deusas infernais" e eram muitas vezes retratadas como mulheres aladas com asas de morcego e cabelos de serpente. Em seus olhos escorriam sangue em vez de lágrimas e empunhavam chicotes, e estavam sempre atrás dos infratores morais e dos desviantes das convenções e dos formalismos. Ai quem delas fossem vítimas de suas vinganças e castigos!

Eram três as irmãs, a saber:
Alecto, a implacável;
Megera, a ciumenta, a invejosa e a rancora;
Tísifone, a vingadora.

ari noert on Twitter: ""O remorso de Orestes" (1862) do meu garoto  Bouguereau Aqui, Orestes acabou de matar a mãe (e o amante dela) e as  erínias, que eram a vingança personificada,

As três eram inseparavelmente juntas, enquanto Alecto espalhava maldições e insultos, Megera se encarregava de castigar e perseguir. E Tísifone, por sua vez, golpeava e açoitava. Todos tinham medo delas e fugiam de seus olhares escarlates e de suas bocas sedentas de sangue. Não havia (ou não há) nelas qualquer clemência, tolerância ou misericórdia. Atenuantes, complacências e compreensões são verbos que não estavam (ou estão) nos seus vocabulários de desafrontas e revides.

Estou relendo: Teogonia de Hesíodo | Imaginação FértilEm Teogonia: a origem dos deuses do poeta grego Hesíodo, que viveu entre 750-650 a.C., as Erínias são originárias do esperma e do sangue de Urano sob Gaia quando este é castrado por Cronos. Para Hesíodo enquanto das espumas do mar brota Afrodite (deusa do amor e da beleza) do sangue jorrado sob a terra brotam as Erínias. Escreveu Hesíodo: "as Erínias vêm do sangue que se derruba no chão como Afrodite vem do esperma que docemente boia no Mar. As Erínias vingadoras de todas as transgressões têm uma natureza ctônica e próxima da Terra tanto quanto Afrodite cheia de sorrisos e de enganos tem a natureza mutável a manhosa como a do Mar". Por este ângulo interpretativo percebe-se a gemelaridade entre Afrodite e as Erínias, sendo elas representantes dos dois lados de uma mesma moeda.

Mensagem Do Dia – A Divindade Do Homem

Divindades à parte as Erinias representam as forças atávicas da natureza das quais nós humanos fazemos parte. Ainda bem que os deuses grego-romanos desapareceram no céu estelar das divindades eternas. Porém, quem disse que os deuses eram deuses ou astronautas? Não, decididamente os deuses de antanho não eram deuses, mas sim projeções de nossas aspirações divinas. E assim narrava Fernando Pessoa: "adoramos a perfeição porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito".

Joaquim Cesário de Mello

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