quarta-feira, 15 de agosto de 2018

DIÁRIO DE AULA

EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO DE FAMÍLIA


FAMÍLIA, em stritu sensu, é um conjunto de pessoas que possuem algum grau de parentesco entre si. Visto assim o conceito de família é bastante vago e impreciso. Com vistas a melhor operacionalizar a questão se faz necessário melhor defini-la.
                Comecemos pelo começo de tudo: a própria palavra família. Vem do latim famulus que significa “aquele que serve”, isto é, um criado doméstico, um escravo ou um servo. Originariamente o termo famulus designava um conjunto de pessoas que viviam sob um mesmo teto e estavam submetidas à autoridade do chefe da família (pater famílias). Na Roma Antiga o pater famílias era aquele que detinha o maior status familiar. Sob seu domínio (domus) e domicílio (domus) chegava até ter o poder de vida e morte sob seus dominados (pater potestas). Romanamente falando seu poder era tão absoluto que ele podia até vender seus filhos (filii famílias) como escravos.
                Todavia família já existia antes mesmo do Império Romano, por uma questão fundamental: sobrevivência. O ser humano quando nasce é muito frágil e bastante vulnerável, necessitando de um outro ser humano para cuidar dele e atender as suas mínimas necessidades básicas. Devido a condição natural do ser humano de ser um dependente absoluto de alguém, e por um longo período maturacional, somente poderia existir humanidade havendo, portanto, MÃE, ou mais precisamente a função materna (cuidar, nutrir, proteger, agasalhar). Razão pela qual a primeira organização familiar (antropologicamente também chamada de “família natural”) foi a relação Mãe-Filho.
   Mas onde está o pai? Aqui reside uma questão sócio-histórica interessante. Nos primórdios da história do homem o homem pré-histórico (hominídeo) viviam em pequenos grupos (clãs) e suas relações sexuais eram promiscuas, isto é, entre si sem interditos culturais. Se vários machos acasalavam a mesma fêmea, então como saber quem era o pai? Outro aspecto interessante: é bem provável que nossos ancestrais primitivos sequer soubessem associar sexo com reprodução, ou seja, não devia se saber que o macho e a relação sexual geravam filhos na fêmea. O pai, neste aspecto antropológico, embora o macho biologicamente faça parte da reprodução, foi uma construção social. Como assim? O pai é uma figura que se constrói por meio das regras do acasalamento, ao menos primitivamente falando. As regras de acasalamento (casamento), observem, está dissociada do sexo. Não necessita-se casar para se fazer sexo. O casamento surge na história do homem é para legitimar prole, isto é, para legitimar a relação com os filhos e não para legitimar a relação entre um macho e a fêmea. Remeto ao seguinte texto: “Contribuições da antropologia para o estudo da família”, de Cynthia Sarti http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771992000100007
     Evidente que desde a pré-história até os tempos atuais muita coisa mudou e vem mudando na humanidade, inclusive as organizações familiares. Na Grécia Antiga, por exemplo, Aristóteles já afirmava que família “é uma comunidade de todos os dias, com a incumbência de atender as necessidades primárias e permanentes do lar”. Até meados do século XVII a predominância do patriarcado era definidor, assim como os casamentos por arranjo e a privacidade era uma coisa bastante rara, afinal se viviam em ambientes estilo galpão onde não havia delimitações, além de se viverem (ao menos a plebe que era a grande maioria da população) muitas famílias sob o mesmo teto. O advento da Modernidade trouxe grandes transformações ao homem ocidental, entre elas a “nuclearização da família”.
       Como foram várias as transformações e funções da família ao longo do tempo, e como espaço aqui é curto, sugiro a leitura do texto contido em http://www.ebah.com.br/content/ABAAABXw8AB/funcoes-transformacoes-familia (“Funções e transformações da família ao longo da história”, de Marlene Simionato e Raquel Gusmão Oliveira).
Família Nuclear
       O processo crescente de industrialização das sociedades ocidentais, bem como o aumento da concentração urbana, levaram a grandes transformações sociais que repercutiram nos contextos familiares. Surge, entre os séculos XVIII e XIX, a chamada família moderna ou família burguesa. A família burguesa (que se consolida no século XIX) é nada mais nada menos que a FAMÍLIA NUCLEAR, ou seja a unidade doméstica composta de pai, mãe e filhos convivendo em uma mesma unidade habitacional. Mas, deixemos a família nuclear para um próximo post. Foquemos agora no conceito de família.

                Como diz Luiz Carlos Osório em seu livro “FAMÍLIA HOJE” (ARTMED), o conceito de família não é um conceito unívoco. Para fins didáticos vamos elencar uma definição de família, deixando desde já claro que se trata apenas de uma definição e não de um conceito definitivo.
                Embora a ONU tenha, latu sensu, em 1984, definido família como “gente com quem se conta”, em termos mais estritos a própria ONU leva em consideração o espaço de domicílio  e entende que a mesma deva ser constituída por meio de relações de parentesco. Considera igualmente família nuclear casal sem filhos. A ONU, no documento  Principles and Recommendations for Population and Housing Censuses, Revision (1998), trata  a pessoa morando sozinha como um domicílio unipessoal e considera a pessoa vivendo só como uma “não-familia”. Entenda-se aqui não-família nuclear. Neste sentido não-família (nuclear) são, por exemplo, pessoas que convivem em um  domicílio multipessoal, mas que não possuem laços de parentesco, bem como domicílios unipessoais.
                Pelo acima exposto domicílio com família nuclear é:
    Casal: (com filhos e sem filhos)
    Pai com filho(s)
    Mãe com filho(s)
                A família é um fenômeno universal. A maneira como as famílias se estruturam, organizam-se e se manifestam é sócio-cultural. A família surge como necessidade de cuidar de prole, inclusive por força biológica, visto que o infante humano não ter condições sozinho de sobrevivência. É por este viés inicial que edificaremos aqui nossa definição, deixando de antemão claro que ela tem uma visão pedifocal, isto é, centrada na criança.
                Sem mais delongas vamos a nossa definição: família é um grupo de pessoas ligadas por laços de parentesco que se incumbe da criação da prole e do atendimento de certas outras necessidades humanas. Por este ângulo e sentido, destaca-se o objetivo primordial da família que é ser responsável por criar, cuidar, proteger, educar e garantir o bom desenvolvimento de suas crianças (criança vem de CRIA, seja enquanto filhote, seja enquanto criação). Segundo Émile Durkheim (considerado um dos pais da Sociologia Moderna), a função da família é social: iniciar o processo de socialização (primária) do indivíduo. Há também outras finalidades na família, tal como a de gerar o sentimento de pertença, ou seja, sentir-se pertencendo a alguém e/ou a um grupo social. Observem que a família tem uma tripla funcionalidade: biológica, psicológica e social.
                 Abaixo algumas frases sobre a ideia de família:. Faça você também a sua


"A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família."

 "Quem não tem mãe, não tem família."

"A família é como a varíola: a gente tem quando criança e fica marcado
para o resto da vida."

"No início, os filhos amam os pais. Depois de um certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam."

"Observa o teu culto a família e cumpre teus deveres para com teu pai, tua mãe e todos os teus parentes. Educa as crianças e não precisarás castigar os homens."

 "É fácil amar os que estão longe. Mas nem sempre é fácil amar os que vivem ao nosso lado."


 "Pais e filhos não foram feitos para ser amigos. Foram feitos para ser pais e filhos."

 "Amigos são a família que nos permitiram escolher."


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Bons estudos, reflexões e saberes...

Joaquim Cesário de Mello


4 comentários:

Alice disse...

MUITO ÚTIL ESSE TEXTO, TUDO SOBRE FAMÍLIA ME INTERESSA MUUUUITO!!!

Sportmecil disse...

Post excelente em sua didática e muito esclarecedor.

Lucas Moura disse...

http://www.uniesp.edu.br/finan/pitagoras/downloads/numero3/a-evolucao-do-conceito.pdf

Joaquim, este link da leitura complementar está quebrado!

literalMENTE disse...

Ok, Lucas. Texto substituído. Obrigado