Há uma passagem em um texto de Nelson Rodrigues que conta que, quando conversava com o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho - o criador da série “A Grande Família” - o jovem Vianinha teria dito, melancólico, que o teatro estava com os dias contados. Nelson, irônico, diz aos amigos que o teatro “inventou” de acabar logo nos tempos de Vianinha, e ainda, para atender seus caprichos.
Sou meio cético com os pensadores do “mundo contemporâneo”. Não que eles estejam errados em suas teses, mas acredito que talvez exista algum exagero na visão não “essencialista” do humano, e por essa razão, veem como se estivéssemos muito, mas muito longe de nossos ancestrais, no longo percurso da história da humanidade. Somos sim diferentes dos nosso ancestrais egípcios, dos gregos ou dos romanos, e dos diversos povos que dominaram o planeta, mas isso não nos tira alguns elementos que se cruzam minimamente e mantém algo de essência, ou de ao menos mais duradouro, no ser humano - características gerais, não só biológicas, mas comportamentais, que perduram desde que fomos elevados à categoria de homo sapiens. Feliz ou infelizmente, suponho que não nos desprendemos completamente de nossos antepassados. Os teóricos da contemporaneidade, contudo, relativizam praticamente tudo, sob a hipóteses de que somos constituídos por eventos de construção social.

Para quem tem interesse em saber um pouco mais desse longo capítulo de nossa história remota, recomendo o livro A Pré- história da Mente de Steven Mithen. É um verdadeiro estudo arqueológico da mente humana desde nossos ancestrais. Esse texto tenta explicar a evolução da mente mais arcaicas dos primeiros hominídeos, que tinham a mente dividida em módulos cognitivos, até a mente integrada do homem moderno. O livro se utiliza de vários elementos de informações arqueológicas para se construir uma teoria evolucionista da mente moderna e de como chegamos a essa complexidade no largo percurso da pré-história. A mente moderna, propõe o autor, está preparada naturalmente ao pensamento artístico, ao religioso e ao científico - tudo ocorre em razão da aquisição da linguagem - um processo bastante complexo, aliás. o resultado disso é que nossa mente é constituída de crenças - única característica que, de fato, nos diferencia da mente de outros animais.

Marcos Creder
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