domingo, 10 de julho de 2016

"Otros Aires" no cinema.



Andei por um tempo afastado dos cinema, vejo uma ou outra notícias das premiações em Cannes, do Oscar - inclusive não gostei de Spotlight - do Urso de Berlim,  do Globo de Ouro. Já  fui mais próximo do cinema, no sentido físico e virtual da palavra. Sou um amador nesse tema. Soube que "Aquarius" ganhou premiação na Polônia, aguardo oportunidade de vê-lo, pois no passado assistia a vários longas nacionais que me agradavam. Hoje, confesso, guardo um certo preconceito com nossa produção.  A palavra preconceito é bem e mal colocada nesse caso. Bem porque generalizo, e mal  porque de certo modo, por um bom tempo, insisti em prestigiar o filme brasileiro, mas... poucos mereciam atenção. No passado,  acreditava na ingênua ideia que o nosso fracasso cinematográfico era fruto de falta de recursos econômicos - hoje não sei se esta afirmação é tão verdadeira assim... Há alguns motivos para discordar.  Um deles, que agora me ocorre, é o inquestionável sucesso do cinema argentino, produzido num país tão ou mais miserável economicamente que o Brasil. Sequer competimos em pé de igualdade com esse país vizinho. Estamos longe, muito longe, e, precisaremos de muito talento para fazer algo próximo de Relatos Selvagens. Se não é econômica, qual ou quais seriam as verdadeiras razões para uma produção tão medíocre? Tenho uma hipótese, entre diversas hipóteses plausíveis, para isso.

Suponho que o auge do cinema brasileiro nos últimos cinquenta anos se deu com as produções do Cinema Novo, principalmente, sob a influência do cinema "engajado" de Glauber Rocha. Nessa ocasião, não  raro assistia-se às  manchetes  de jornais anunciarem premiações internacionais às nossas  produções. Nessa época o bom filme era denominado de filme de Arte, que era a produção de qualidade independente de bilheteria e  dirigido a um público mais seleto e sofisticado intelectualmente - uma proposta bastante razoável, não fosse seus efeitos colaterais. Quais seriam? Penso que ao lado da fama e da superestimação da "inteligência", há um erro comum que costuma ocorrer, a inflação da arrogância e da soberba.  A produção nacional entrou em um vertiginoso período de pedantismo e para agravar mais esse desvio de caráter, caiu-se na face do  pedantismo carente de conteúdo, eventualmente, ridículo, como  o discurso de um idiot savant. Assisti a muitas exibições caricatas imprestáveis, sofríveis, do nosso cinema.

Por  outro lado, no país vizinho, se seguiu  em paralelo uma trajetória corriqueira de filmes despretensiosos, de custo restrito e - porque não? - com algum apelo comercial, trazendo dramas que os nossos cineastas chamariam de "pequeno-burgueses". Enfim, assim foi surgindo essa nova geração de cinema argentino que decolou nos anos 1990 e  que hoje tem qualidade incontestável com grandes títulos como O Segredo dos Seus Olhos, O Pântano, O Filho da Noiva, Medianeiras. No Brasil pode ocorrer aqui e ali produções com perfil semelhante. Assisti, por exemplo, há alguns meses ao Lobo Atrás da Porta, um filme sumário, enxuto, bem dirigido com um roteiro extraordinário - uma das habilidades do cinema Portenho. Pergunto: quem dos leitores assistiu? arrisco em dizer nenhum ou quase nenhum. Por que? Porque não é inteligente o "suficiente" para frequentar as publicações culturais, nem rasteiro para concorrer com as comédias nacionais -  Lobo Atrás da Porta ganhou prêmios razoáveis, mas não ganhou público. O cinema brasileiro ainda se agarra ao período do engajamento que fazia oposição  à Ditadura Militar, útil aquele momento, mas  hoje uma posição já com evidente desgaste. Mesmo que já se tenha consciência da necessidade de transformação, há ainda resíduos desse cinema ideologizado e "compromissado" em trazer, quase que exclusivamente,  conflitos classistas, temas envolvendo  desigualdades econômicas, questões étnicas. Um exemplo clássico disso é o filme Que Horas Ela Volta? que consegue se manter ainda no território maniqueísta entre pobre/rico, bem/mal - outros temas que porventura venham a fugir da ideia de "realidade brasileira" são interpretados como pequeno-burgueses ou alienados.



Vi recentemente um filme argentino... Que comentarei no próximo artigo

Marcos Creder                

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