Suponho que o auge do cinema brasileiro nos últimos cinquenta anos se deu com as produções do Cinema Novo, principalmente, sob a influência do cinema "engajado" de Glauber Rocha. Nessa ocasião, não raro assistia-se às manchetes de jornais anunciarem premiações internacionais às nossas produções. Nessa época o bom filme era denominado de filme de Arte, que era a produção de qualidade independente de bilheteria e dirigido a um público mais seleto e sofisticado intelectualmente - uma proposta bastante razoável, não fosse seus efeitos colaterais. Quais seriam? Penso que ao lado da fama e da superestimação da "inteligência", há um erro comum que costuma ocorrer, a inflação da arrogância e da soberba. A produção nacional entrou em um vertiginoso período de pedantismo e para agravar mais esse desvio de caráter, caiu-se na face do pedantismo carente de conteúdo, eventualmente, ridículo, como o discurso de um idiot savant. Assisti a muitas exibições caricatas imprestáveis, sofríveis, do nosso cinema.
Por outro lado, no país vizinho, se seguiu em paralelo uma trajetória corriqueira de filmes despretensiosos, de custo restrito e - porque não? - com algum apelo comercial, trazendo dramas que os nossos cineastas chamariam de "pequeno-burgueses". Enfim, assim foi surgindo essa nova geração de cinema argentino que decolou nos anos 1990 e que hoje tem qualidade incontestável com grandes títulos como O Segredo dos Seus Olhos, O Pântano, O Filho da Noiva, Medianeiras. No Brasil pode ocorrer aqui e ali produções com perfil semelhante. Assisti, por exemplo, há alguns meses ao Lobo Atrás da Porta, um filme sumário, enxuto, bem dirigido com um roteiro extraordinário - uma das habilidades do cinema Portenho. Pergunto: quem dos leitores assistiu? arrisco em dizer nenhum ou quase nenhum. Por que? Porque não é inteligente o "suficiente" para frequentar as publicações culturais, nem rasteiro para concorrer com as comédias nacionais - Lobo Atrás da Porta ganhou prêmios razoáveis, mas não ganhou público. O cinema brasileiro ainda se agarra ao período do engajamento que fazia oposição à Ditadura Militar, útil aquele momento, mas hoje uma posição já com evidente desgaste. Mesmo que já se tenha consciência da necessidade de transformação, há ainda resíduos desse cinema ideologizado e "compromissado" em trazer, quase que exclusivamente, conflitos classistas, temas envolvendo desigualdades econômicas, questões étnicas. Um exemplo clássico disso é o filme Que Horas Ela Volta? que consegue se manter ainda no território maniqueísta entre pobre/rico, bem/mal - outros temas que porventura venham a fugir da ideia de "realidade brasileira" são interpretados como pequeno-burgueses ou alienados.
Vi recentemente um filme argentino... Que comentarei no próximo artigo
Marcos Creder
Nenhum comentário:
Postar um comentário