sexta-feira, 23 de novembro de 2012

CESTA DE VERSO & PROSA


UMA HISTÓRIA NA PALMA DA MÃO
 

                Você já ouviu falar no microconto? Também conhecido como miniconto ou nanoconto, o microconto é um conto contado de maneira minimalista, ou seja, um conto menor que um conto pequeno cuja proposta seja a de deixar ao leitor continuar o mesmo a função de mentalmente “preenchê-lo” ou deduzir a história oculta na história.

                Para que seja um microconto é necessário que ele seja construído em até 150 caracteres, ou se preferirem, mais pós modernamente falando, possa ser tuitado. O mais célebre microconto pertence ao guatemalteco Augusto Monterrso e foi feito com 37 palavras: “quando acordou o dinossauro ainda estava lá”. E este nem é o menor dos contos, visto que outro famoso miniconto foi escrito pelo escritor americano Ernest Hemingway: “vende-se: sapatos de bebê, sem uso” (26 letras).

                O microconto é uma espécie de leitura em alta velocidade onde se enxuga o excesso de palavras e nas poucas palavras restantes o essencial de uma história é contada. Tais prosas miniaturizadas cabem num caixa de fósforo. E nesta qualidade minimalista é que reside o grande desafio do escritor: em pouquíssimas palavras uma história inteira.

                Analogamente na poesia temos o haikai que privilegia a concisão, o laconismo, o sucinto e o objetivo. Um haikai tem três versos dispostos verticalmente, e na sua forma curta e compacta revela a sensibilidade poética em seu olhar agudo e ferino sobre a essência das coisas, da natureza e da vida. Tanto com o haikai quanto com o microconto o autor brinca com as palavras, seus conteúdos, sentidos e significados. E nessa forma um tanto irônica e lúdica se constrói lindas imagens e frases poéticas, como podemos ver quase apalpando neste haikai de Paulo Leminski: “viver é super difícil/o mais fundo/está sempre na superfície”, ou neste de Mário Quintana: “diálogo bobo/-abandonou-te?/-pior ainda: esqueceu-me...”.

                O microconto coloca o leitor em um lugar de cúmplice, visto que, como o objetivo do texto é sugerir, cabe a quem o ler “preencher” suas lacunas e continuar mentalmente a história. O que diferencia exatamente o microconto do haikai e dos aforismo é a existência de uma história. Neste ponto podemos dizer que um microconto é mais do que um conto breve e incompleto, mas sim uma abertura que cabe ao leitor continuar.

                E assim, vários autores ao longo do tempo já experimentaram e já “brincaram” com o microconto. Abaixo alguns exemplos:

“Eu ainda faço café para dois” (Zac Nelson)

“Uma gaiola saiu à procura de um pássaro.” (Kafka)

“Encontrou o amor verdadeiro nove meses depois” (Jody Smith)

“Um homem, em Monte Carlo, vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, se suicida.” (Tchekhov)

“...cheguei. E ela não deixou nem um bilhete” (Joaquim Cesário de Mello)


“A velha insônia tossiu três da manhã”
(Dalton Trevisan)

y despues de hacer todo lo que hacen, se levantan, se bañan, se estalcan, se perfum, de peiñan, se visten, y asi progressivamente van volvendo a ser lo que son” (Julio Cortázar)

Nenhum comentário: