domingo, 6 de janeiro de 2019

O AMOR É AZUL


SUGESTÃO DE FÉRIAS






Convencionalmente dizemos que azul é cor de menino, enquanto que rosa é de menina. As coisas não são mais tão nítidas assim. Como dizia Karl Marx, tudo que é sólido se desmancha no ar. "Descobri" isso quando assisti à época (2013) o badalado filme Azul é a Cor Mais Quente (Palma de Ouro do Festival de Cannes). Nada como revê-lo nesses tempos de ares cinzas.


Azul é a Cor Mais Quente é mais do que um filme, é um verdadeiro ensaio sobre o despertar do amor lésbico em uma adolescente colegial. A passagem do fim da mocidade e o início da mulher. Um filme de descobertas, revelações e achados. Em sua longa duração (cerca de 3 horas) o desenrolar da jornada épica da personagem Adèle, interpretada pela jovem atriz Adèle Exarchopoulos (e eu que pensava que já estava imune à me apaixonar por atrizes de cinema!), nos coloca cumplicidamente como voyeures de sua primeira e quase sublime história de amor. A expressividade cênica de Adèle Exarchopoulos é por si mesma a sustentação do próprio filme. Seu olhar, o mexer de seus lábios e a suave leveza de seus mínimos e singelos gestos revelam a cada e a todo instante o complexo jogo emocional vivido pela personagem homônima. Tudo nos é nuamente revelado sem necessitar de palavras. Acompanhamos assim avidamente o terminar da inocência e o surgir turbulento da maturidade.


O crítico de cinema da Folha de São Paulo, Inácio Araújo, assim comentou: "é o filme que mais se destaca neste ano tão fraco de 2013. Mesmo que fosse um ano forte, seria, ainda assim, um filme especial: desses cujas imagens, aparentemente tão simples, chegam a nossos olhos, encantam, não se deixam esquecer". Isto o que me ficou após vê-lo: inicialmente a frustração por ter terminado, segundo a alegria de conservar em meu acervo de lembranças fílmicas imagens que sei levarei pelo resto da minha vida. Impagáveis, poéticas, plásticas...
Resultado de imagem para o azul é a cor mais quente, HQ

Lembrando um pouco Kieslowski o azul é mais do que a cor predominante ou um pano de fundo, é por si próprio um personagem contínuo que acompanha Adèle do começo ao fim da história, história esta, aliás, inspirada no HQ adulto Le Bleu est une Couleur Claude, desenhada por Julie Maroh.


As emoções são captadas em inúmeros closes, o que comprova a qualidade das atrizes em cena, A reviravolta emocional do casal Adèle e Emma vai se efetivando sutilmente até culminar com a separação de ambas. Uma história de amor banal, porém minuciosamente contada com sensibilidade, luxúria e beleza. Dizer que o filme é carregadamente erótico é pouco. Nossa alma é prazerosamente tomada de volúpia, principalmente nas imagens tórridas das cenas sexuais. Independente da inclinação sexual do expectador Azul é a Cor Mais Quente é um pungente filme sobre o descobrimento da sexualidade e amadurecimento da jovem Adèle. Decididamente um belo filme sobre o amor e seus altos e baixos. 


Joaquim Cesário de Mello


PS: Passado o magnetismo sensual da primeira parte, atentem para as nuances do relacionamento de Adèle e Emma e observem as sutilezas que geram suas consequências e impactos no casal. Pistas? A festa em que Adèle é apresentada aos amigos de Emma, a cena posterior na cama, o dia-a-dia da conjugalidade, o diálogo no reencontro de ambas e a exposição das obras de Emma na galeria de arte. Touché.

Nenhum comentário: