domingo, 18 de outubro de 2015

geração estresse

A palavra estresse muito se banalizou e vem sempre se referenciando a uma panaceia de situações ocupacionais e  de compromissos sociais - trabalho duro, jornadas longas, dedicações intensas, obrigações familiares, participações em festividades burocráticas ou enfadonhas, entremeadas por diversos momentos de tédio. Os estressados desabafam aos mais próximos  que merecem descanso, feriados  numa casa na praia ou no campo (“para um contato de maior proximidade com a natureza”). Merecem - continuam - longas  férias, viajar a lugares distantes para conhecer outras pessoas, outras línguas, outras culturas. No entanto, a única coisa que dizem fazer, quando fazem, para aliviar o estresse são atividades físicas em academias. Preocupam-se com a saúde, com a forma física -  muitas vezes, preocupações  exageradas que,  por fim, se tornam, do mesmo modo, estressantes.

A palavra “estresse” envolve uma situação e não uma doença -  a doença pode ser consequência do estresse. A situação? qualquer evento que ameace a integridade do sujeito. Muitos também confundem estresse com ansiedade apesar de ser um sentimento muito ameaçador, a ansiedade é uma forma de resposta a uma situação de estresse. Existem, contudo, diversas formas de reagir ao estresse como existem diversos tipos de estressores. Normalmente entende-se que o estressado  só responde às ameaças  com defesas psíquicas, pois muito pensam esse fenômeno como se fosse  um evento essencialmente mental. Pelo contrário, há vários agentes físicos, químicos, biológicos que são igualmente estressores, ou seja, que expõe o organismo, o nosso organismo, a uma reação adaptativa -  a reação ao estresse nada mais é que uma defesa as hostilidades do mundo. E o mundo,  seja ele civilizado ou natural, é hostil.


Um exemplo clássico: após dias de trabalho sufocantes e vários cumprimentos de uma agenda apertada, o sujeito classe média resolve sair de férias e ir passar o final de ano, por exemplo, fora do país,  na Europa ou nos Estados Unidos. Chegando lá, em poucos dias, poucas horas talvez, adoece, febre alta, tosse, diarreia. Procura um hospital, esqueceu de fazer o seguro saúde para viajantes, gasta uma fortuna, o dólar se valorizou inesperadamente perante nossa moeda, entristece. Que foi que ocorreu?. Para se livrar de uma situação de estresse, criou-se outra, ou outras, igualmente ou mais estressantes. A mudança de país, a mudança de língua, a mudança de fuso  horário, de hábitos alimentares,são estressoras. A saída do Brasil dos aproximados 24 graus para  5 graus celsius negativos são suficientes para estressar sobremaneira o corpo humano. Há pesquisadores que dizem que viagens de ferias deveriam ser feitas de carro, ou trem, como acontece na Europa, para haver uma aclimatação e uma assimilação das mudanças, inclusive, de paisagens.

Perguntaram ao escritor Rubem Alves,  por ocasião das Olimpíadas, o que achava daquele momento do esporte e da saúde. A resposta foi inesperada, disse que era momento de esporte, mas não necessariamente de saúde. Em seguida indagou? Os atletas são longevos?  ele mesmo responde: não. Seu argumento é simples e pertinente, diz que o atleta olímpico já deixou de exercitar naturalmente há muitos anos. Na verdade, esse tipo de atleta trabalha no limite, ou seja estressando continuamente seu corpo com objetivo de melhorar performance. assim como um operador da bolsa de valores, muitos morrem mais cedo, alguns subitamente. Rubem Alves diz com razão, que as velhinhas do chá da tarde, ligeiramente obesas, ou os idosos que jogam dominó, leem jornais e conversam na praça vivem mais. o motivo? são menos estressados, são sujeitos simples e a simplicidade de certo modo os exige menos compromissos. Esses não correm em viagens internacionais, tampouco enfrenta longos congestionamentos para chegarem aos seus paraísos de finais de semana. Vão ali, e aqui, são anônimos resquícios da natureza humana.

Marcos Creder

Um comentário:

Anônimo disse...

Acredito que situações de estresse acontecem com frequência atualmente. No nosso trânsito caótico, no trabalho, nas atividades do lar.... Vivemos no corre-corre diário. Buscamos nos superar sempre! O tempo hoje parece passar mais rapidamente que antigamente. E, realmente, muitos procuram fugir do extresse viajando. Será mesmo esta solução ? Não importa para onde vamos , o que importa é o bem estar e a tranquilidade . Bem, não preciso ir para muito longe para encontrar paz e a tranquilidade. Na minha própria casa , assistindo um bom filme ou lendo um bom livro já me desestresso. O que importa é o ambiente ser agradável e propício para fazermos coisas que nos dão prazer. Novamente o Doutor e professor Marcos está de parabéns com o texto e temas escolhidos.