Olá gente, vamos reiniciar de
onde fomos forçadamente a parar.
Como vocês se lembram iríamos
começar o tema AMOR. Não o amor dos filmes, da literatura romântica, dos
clichês, das frases prontas, das novelas ou dos sonhos e aspirações. Vamos nos
debruçar sobre o afeto, seja ele o que realmente for.
Lembremos que ninguém nasce
amando, ou sequer com ciúmes, pudores, moral, ideologias, vergonha, culpa, etc.
Do ponto de vista dos afetos podemos dividi-los tanto em afetos positivo
(aqueles que gostamos e nos faz bem) quanto afetos negativos (aqueles que não
gostamos de sentir, e que sentindo-os nos incomoda e desassossega). Mas,
também, podemos classificar os afetos como primários e secundários, a saber:
AFETOS PRIMÁRIOS; que já estão
presentes no início de nossas vidas (afetos inatos), tais como o medo, a
ansiedade, a tristeza, a raiva e a alegria, mesmo que de forma ainda
rudimentar.
AFETOAS SECUNDÁRIOS: que são
desenvolvidos a posteriori (depois), com o desenvolvimento a experiências interpessoais
humanas. Também podemos denominá-los de AFETOS SOCIAIS, pois são desenvolvidos
através de nossos relacionamentos sociais, desde o grupo primário (família) até
o grupo secundário (escola, vizinhança, por exemplo).
Nossa primeira escola afetiva
é a infância e é de lá que trazemos muito de nossa bagagem emocional à vida
adulta. E como vai surgir os chamados afetos amorosos dentro do psiquismo
humano? Vamos lá...
O ser humano nasce sem ainda
conhecer o mundo que o circunda e muito menos as pessoas que nele habitam. A
mente humana primariamente é solitária, isto é, é vazia de pessoas (ou de
objetos internos em uma linguagem mais psicológica).
Lembrem-se da velha pergunta
QUANTOS LADOS TEM UMA BOLA? A resposta é DOIS, o lado de dentro e o lado de
fora. Pois é, analogamente também podemos indagar quantos lados tem uma pessoa?
DOIS: o lado de dentro (que chamamos de MUNDO INTERNO) e o lado de fora (MUNDO
EXTERNO) O que vai se formar dentro da mente são representações psíquicas de experiências
(OBJETOS INTERNOS). Tais OBJETOS INTERNOS são internalizações das vivências que
vamos tendo com as pessoas humanas fora de nós (OBJETOS EXTERNOS).
Bem, evidentemente que um
neonato ainda não tem representações internas dos objetos externos. O psiquismo
vai gradualmente formando. A mente rudimentar é, portanto, anobjetal (ausência
de objetos) e amúndica (ausência de mundo), sem qualquer noção da existência de
qualquer coisa que não seja ela mesma. Aliás, também ainda não há dentro do
psiquismo rudimentar de um neonato uma PERSONALIDADE, uma PESSOA formada. A personalidade
e a pessoa vai se desenvolver ao longo de nossa existência, principalmente nos
primeiros anos de vida extrauterina (vide disciplina DESENVOVIMENTO DA
PERSONALIDADE).
Ora, se mente humana primitivamente
não percebe nada que não seja ela mesma (suas sensações corporais de prazer e
desprazer), então podemos também dizer que tal psiquismo primário se “acha tudo’.
Sabemos que isto é uma pura
ilusão da mente que originariamente continua funcionando fora do útero materno
como se fetal ainda fosse. Como bem descreve Margaret Mahler, o nascimento
psicológico vem depois do nascimento biológico. Retornarei a Margaret Mahler no
próximo texto.
No início da existência humana
além do útero a noção de Eu é tão somente um potencial a se realizar. E o Eu
nasce, posteriormente ao nascimento biológico, através da relação com o
ambiente cuidador.
O bebê
vai gradualmente se descobrindo dependente de alguém. É como se o psiquismo
fosse aos poucos se dando conta de que não é uma solidão existencial ou solidão essencial como dizia Winnicott,
isto é, ela não está só, ela não é tudo. A mente vai descobrir a mãe, ou mais
precisamente seu primeiro objeto, seu primeiro não-eu.
É através
dos cuidados maternos, no interjogo das gratificações e frustrações, que surge
o objeto externo frente aos olhos infantis. É a mãe quem o sustenta, é a mãe
quem o alimenta, é a mãe quem o protege, é a mãe quem o agasalha, é a mãe quem
atende suas mínimas necessidades, é a mãe...
É com este objeto materno que o ser humano toma contato e desenvolve seus primeiros afetos secundários. Decididamente, a mãe é o primeiro objeto para onde a energia psíquica e atenção do bebê se dirige. A mãe é o objeto que satisfaz, ou frustra, nossos mais íntimos desejos de então.
No principiar da
vida é da natureza psíquica humana ser narcísica. Narcisisticamente nos
“achamos” ou nos sentimos TUDO. Pensamos (e aqui o pensamento ainda não é
linguístico ou simbólico, nem regido por qualquer Princípio de Realidade, mas
sim pelo Princípio do Prazer, um pensar primitivo e sensório-motor) que somos
AUTO SUFICIENTES, ONIPOTENTES, COMPLETOS, enfim PERFEITOS. Contudo isto não
condiz com a realidade, pois na verdade um bebê humano é DEPENDENTE ABSOLUTO,
IMPOTENTE e frágil frente à satisfação de suas próprias necessidades,
INCOMPLETO, enfim IMPERFEITO. Eis aí nossa primeira adaptação psíquica, que
conjuga-se ao se ajustar a um mundo extrauterino, nosso primeiro e fundamental
conflito entre o Princípio de Prazer e o Princípio de Realidade. Caso o
bebê não venha ao mundo com nenhum “defeito de fábrica” a realidade sempre
vence, ao menos em grande parte.
O descobrir-se dependente,
vulnerável, incompleto e imperfeito não deve ser uma tarefa mental fácil ao
psiquismo ainda em formação. Aos poucos vai se desvanecendo as ilusões
narcísicas, e a realidade, o mundo, a mãe e os outros vão tomando forma e
contorno no campo perceptivo e sensível do aparelho psíquico. Mas a mente ainda
vai lutar para manter a ilusão narcísica de onipotência, completude e
plenitude. Descoberta a mãe, e sua dependência em relação a esta, a mente
que antes se “achava” TUDO cede espaço à mãe ilusoriamente fálica, isto é, se
antes o psiquismo de um bebê se considerava TUDO, agora – reconhecida a
existência do objeto cuidador – ele é TUDO para a mãe.
Mais um vez nossa mente nos engana, ilude-se. Embora possa ser a
criança a coisa mais importante da vida de uma mãe, ela não é TUDO para a mãe.
Saudavelmente mesmo que um filho represente a realização de muitos dos desejos
maternos, o filho não é a realização de todos os desejos maternos. Estamos,
pois, no âmbito da simbiose.
Para não ficar extenso e cansativo,
continuarei segunda o assunto....
Um comentário:
Muito bom. simplificou muito bem. Obg.
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