segunda-feira, 30 de março de 2020

DIÁRIO DE AULA: CASAMENTO


   CASAMENTO E A PSICODINÂMICA DO CASAL


 





Em sociedades como a nossa os casamentos são monogâmicos. Outras sociedades, culturas e momentos históricos possuem organizações conjugais diversas, tais como casamentos poligâmicos ou poliândricos. O casamento monogâmico é entendido como um vínculo entre duas pessoas, geralmente de caráter íntimo, afetivo e sexual, que pressupõe coabitação. A própria etimologia nos remete à ideia de coabitar, visto que vem da latim medieval casamentum que se refere à cabana, moradia.
                
          O casamento representa uma contratualidade, seja ela social, jurídica, moral, afetiva, psicológica, ou tudo isso junto. Casamento é, pois, contrato (explicito e/ou implícito), é vínculo. É o liame que liga dois seres físico, afetiva e juridicamente. É também, de certo modo, um rito de passagem.

                
São vários os tipos de casamentos. Assim vejamos:
                - casamento civil: celebrado sob aos auspícios do ordenamento jurídico do Estado;
                - casamento religioso: celebrado perante a uma autoridade religiosa;
                - casamento poligâmico: entre um homem e mais de uma mulher;
                - casamento poliândricos: entre uma mulher e mais de um homem;
                - casamento homoafetivo: entre pessoas do mesmo sexo;
                - casamento monogâmico: com a presença de apenas dois cônjuges;
                - casamento arranjado: cuja celebração é combinada por terceiros;
                - casamento putativo: passível de anulação;
                - casamento aberto: aquele em que os cônjuges podem, de comum acordo, ter outros parceiros sexuais.

          O casamento, no sentido de uma vida afetiva íntima, tem grande implicação no mundo adulto. A questão não é casar, pois casar até que é fácil, é manter o casamento em bons níveis de satisfação conjugal. Conviver com alguém envolve sensações, sentimentos, afeição, desejos, sonhos e mutualidade. Segundo Maria de Betânia Norgren e outros, em SATISFAÇÃO CONJUGAL EM CASAMENTOS DE LONGA DURAÇÃO: UMA CONSTRUÇÃO POSSÍVEL (http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n3/a20v09n3.pdf),  para a satisfação conjugal existem diversas variáveis intervenientes, como: características de personalidade, valores, atitudes e necessidades; sexo, momento do ciclo da vida familiar, presença de filhos, nível de escolaridade, nível socioeconômico, nível cultural, trabalho remunerado e experiência sexual anterior ao casamento.
          
                Olhando por uma perspectiva sistêmica a família de origem produz nos indivíduos padrões comportamentais de interação que são transmitidos transgeracionalmente. Assim, crenças, regras, valores e modelos de afetividade são passados de pai para filhos. O casamento é uma oportunidade para se elaborar e construir soluções para velhos conflitos ou repeti-los. Ainda segundo Pincus e Dare, desejos frustrados e sentimentos dolorosos que fazem parte da história dos indivíduos que formam o casal repercutem na interpessoalidade conjugal.
            Na formação de um laço conjugal ocorrem várias articulações psíquicas conscientes e inconscientes, desde a escolha do parceiro amoroso até o legado familiar de origem. Em seu hoje clássico livro A FAMÍLIA NO DIVÃ, Pincus e Dare, ressaltam que desejos inconsumados e sentimentos infantis dolorosos ou não tendem a reaparecer na vivência da conjugalidade. Devido à intensidade do laço afetivo os parceiros podem fazer acordos tácitos e inconscientes baseados nas demandas de cada um. A história do casal se inicia na história pessoal dos parceiros envolvidos.Ao longo do tempo, ao longo da história de um casal haverá de haver momentos gratificantes e de satisfação, bem como momentos de insatisfações e conflitos. A cada conflito superado tanto o casal como os cônjuges vão amadurecendo. Embora idealisticamente falando para muitos o casamento seja uma representação de felicidade, ele é permeado por conflitos, atritos e incertezas. A estabilidade em um casamento está muito relacionada com a capacidade de flexibilizar de cada parceiro envolvido.

Resultado de imagem para casamento, psicanalise                Vários estudiosos do casamento, do ponto de vista psicológico, entendem que nele existe uma espécie de “contrato secreto” onde demandas inconscientes de cada cônjuge se interligam de maneira não escrita e não verbalizada, afinal a conjugalidade é um terreno fértil para reedições de dramas familiares anteriores, assim como para a elaboração de conflitos não bem resolvidos em vivências infantis.
Uma das mais aprofundadas pesquisadoras brasileira sobre o casamento é Terezinha Fères-Carneiro que, junto com colaboradores, tem contribuído sobremaneira para o entendimento da psicodinâmica conjugal. Investigando, por exemplo, a influência do casamento dos pais na construção do laço conjugal dos filhos, afirma que antes mesmo do encontro amoroso, em ambos os psiquismos de cada parceiro já existe uma representação de conjugalidade. Nesta representação psíquica coexiste a história do sujeito, seus ideais de conjugalidade, os mitos familiares da família de origem, bem como as imagens, lembranças e fantasias sobre a conjugalidade de seus pais e de seus antepassados. Tudo isto conjuga e se engendra no futuro eu conjugal do indivíduo.
                E é com base em muitos trabalhos da referida autora que daremos prosseguimento nos próximos posts.

Joaquim Cesário de Mello

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