Considerando que não é toda semana que
temos trabalhos literários e artísticos de nossos colaboradores, leitores,
avulsos ou transeuntes a serem oferecidos para publicação aqui no blog, e com
vistas a preservar o caráter semanal desta coluna intitulada “CESTA DE VERSO
& PROSA”, na ausência de envios colocaremos frente aos nossos olhos obras
de autores outros, vivos ou não, consagrados ou não, conhecidos ou não.
Com
este intuito, parafraseando a velha máxima do cinema novo, e com uma ideia na cabeça e um computador na mão, vamos começar com um nome bem pernambucano, o do
poeta Carlos Pena Filho. Nascido em 1929 e falecido em 1960 é um dos mais
importantes e cultuado poeta de nossa terra. Popularmente conhecido por seu
poema Bar Savoy (são trintas copos de chope/são trinta homens
sentados/trezentos desejos presos/trinta mil sonhos frustrados”), publicou
O Tempo da Busca, Memórias do Boi Serapião, A Vertigem Lúcida e Livro Geral.
Conhecido também musicalmente com ”A Mesma Rosa Amarela” composta com Capiba, a
poesia de Carlos Pena Filho é pictórica, lírica e musical. Decididamente, em
tempos de textos ágeis e frágeis, conhecer este poeta é mais do que uma
obrigação nossa, é um enorme prazer literário, estético e metafísico.
Abaixo
dois dos seus poemas mais destacáveis, A Solidão e Sua Porta e Soneto
do Desmantelo Azul. Com vocês Carlos Pena Filho:
A SOLIDÃO E SUA PORTA
Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha
Arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida
Com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.
Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
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