Ler não é decifrar significados. Ler é resignificar, dialogar com outras ideias e enriquecer o ser humano e social que somos. Como já dizia Monteiro Lobato um país se faz de homens e de livros. A leitura é uma substancial fonte incentivadora do pensamento crítico-reflexivo. Para Humberto Eco a leitura é uma necessidade biológica do ser humano, talvez por isso também diga Fernando Pessoa que "ler é sonhar pela mão de outrem", e só assim - pensa o poeta - podemos nos livrar da mão que nos conduz.
A leitura é a maior das amizades- escreveu Marcel Proust. Não pense - caro leitor(a) - que lendo vamos ficar mais sábios em termos de maior número de informação e acervo cultural. Pode ser que sim e geralmente sim. Mas a verdadeira sabedoria que a leitura nos proporciona é a de que menos coisas eu realmente conheço. Nossas verdades antes tão imutáveis se desmancham. Somos lançados ao chamado "paradoxo socrático" que é: só sei que nada sei. O escritor chinês Lin Yutang, celebrado por livros como "A Importância de Viver" foi sábio quando disse que "quando mais leio mais ignorante fico. A escolha que hoje se depara qualquer homem educado é entre a ignorância que não lê e a ignorância que lê muito".
Ainda citando Marcel Proust, "Na realidade, todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra não passa de uma espécie de instrumento ótico oferecido ao leitor a fim de lhe ser possível discernir o que, sem ela, não teria certamente visto em si mesmo". Neste sentido, a leitura não representa copiar para dentro da alma um texto lido de fora. O mero leitor - como escreve o filósofo Walter Benjamim - impercebe como um texto possibilita abrir novos e profundos caminhos e trilhas alma adentro. "o leitor segue os movimentos de sua mente no voo livre do devaneio, ao passo que o copiador os submete ao seu comando", conclui ele.
Canta o poeta: "e quando agora levantar os olhos deste livro,/nada será estranho, tudo grande./Aí fora existe o que vivo dentro de mim/e aqui e mais além nada tem fronteiras..." (Rainer Maria Rilke). Quem lê parece estar fechando os olhos e sonhando mundos além; mas também quem lê abre os olhos e vê o que está além do mundo que se vê. O processo da leitura, embora às vezes possa até ser um tanto árduo (pensar dói), deve ser sempre um prazer e uma interação (leitor e obra), um diálogo com o autor, e que possibilite a quem lê desenvolver competências textuais.
Por ser problematizadora a leitura inevitavelmente produz reflexão e suscita dúvidas, dúvidas necessárias e bem vindas. Apesar da maioria de nós sabermos e reconhecermos a importância da leitura, inclusive para progredir na vida, muitos não cultuam esse hábito e até chegam a achar ler uma atividade desinteressante. Como escreve Dioclécio Campo Júnior, em seu livro "Até Quando?: ensaios sobre dilemas da atualidade" (2008): "quando 92% dos candidatos ao exame da Ordem dos Advogados são reprovados por inépcia nas interpretação dos textos, é preciso parar para pensar". Que tal pensarmos sobre isso, aliás, um pouco mais sobre isso?
Joaquim Cesário de Mello