SATISFAÇÃO CONJUGAL
Particularmente
gosto muito quando Terezinha Fères-Carneiro diz que a fórmula do casamento é 1
+ 1 = 3. Em seu ótimo texto CASAMENTO CONTEMPORÂNEO: O DIFÍCIL CONVÍVEL DA
INDIVIDUALIDADE COM A CONJUGALIDADE (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79721998000200014&script=sci_arttext)
ela nos presenteia com os seguintes dizeres: “Costumo dizer que todo fascínio e toda
dificuldade de ser casal, reside no fato de o casal encerrar, ao mesmo tempo,
na sua dinâmica, duas individualidades e uma conjugalidade, ou seja, de o casal
conter dois sujeitos, dois desejos, duas inserções no mundo, duas percepções do
mundo, duas histórias de vida, dois projetos de vida, duas identidades
individuais que, na relação amorosa, convivem com uma conjugalidade, um desejo
conjunto, uma história de vida conjugal, um projeto de vida de casal, uma
identidade conjugal”. Neste sentido,
existe a identidade de cada um dos cônjuges e existe a identidade do casal.
No artigo sob comento a autora diz que os casamentos atuais sofrem tensões relativas a duas forças que atuam sobre
os casais contemporâneos: a individualidade e a conjugalidade. Sabemos que
vivemos hoje sob a égide do individualismo, e nesta cultura do EU a ideia de autonomia
sobressai-se aos laços de interdependência conjugal. São os meus desejos, os seus
desejos e os desejos conjugais compartilhados. Os extremos são perigosos e
disfuncionais, ou seja, o excesso de individualismo dos cônjuges leva a
fragilidade do laço conjugal; enquanto que o excesso da conjugalidade leva ao
sacrifício da autonomia.Interdependência
e individualidade. Estranho paradoxo este que habita nos casamentos e que geram
tensões internas ao casal e aos cônjuges. Como ser um, ao mesmo sendo dois? Como
manter a privacidade em um espaço de intimidade?
Não há fórmulas prontas e mágicas para se ser um casal feliz. Nem sei se existe um casal feliz, ao menos em sua plenitude. Talvez seja menos romântico falarmos em um casal onde o grau de satisfação predomina sobre as insatisfações. Talvez seja melhor falarmos em equilíbrio, mesmo que a corda balance um pouco de vez em quando.
Não há fórmulas prontas e mágicas para se ser um casal feliz. Nem sei se existe um casal feliz, ao menos em sua plenitude. Talvez seja menos romântico falarmos em um casal onde o grau de satisfação predomina sobre as insatisfações. Talvez seja melhor falarmos em equilíbrio, mesmo que a corda balance um pouco de vez em quando.
Intimidade e privacidade. Aniquilada
a privacidade aniquila-se o indivíduo propriamente dito. Excesso de intimidade
é fusão. Aniquilada a intimidade, aniquila-se o compartilhamento. Excesso de
individualidade é solidão. O casamento não é só duas pessoas que decidem juntar
os trapos e morarem juntas. Casamento é um constante trabalho psíquico.
Um bom nível de satisfação
conjugal mais perene requer, entre outras coisas, a valorização mútua dos cônjuges,
humor, amizades em comum, compartilhamento de ideias e projetos de vida,
compartilhamento de gostos, segurança, admiração, ternura, carinho e respeito. Um casamento
é funcional quando o dar e receber é espontâneo e recíproco. Durante o ciclo de
vida familiar o casamento sofre consequências e transformações, e assim o nível
de satisfação igualmente varia. É comum haver um maior nível de satisfação
conjugal nos anos iniciais, caindo um pouco ou um tanto com o tempo, porém
quanto mais tempo se passa juntos volta a aumentar o nível de satisfação. Graficamente é como se fizesse uma curva do U.
O
casamento não é o mesmo durante todo o percurso de sua existência. As pessoas
dos cônjuges mudam, mudam seus interesses, motivações e valores, circunstâncias
de vida influenciam a maneira de o casal interagir entre si e com o mundo
circundante. Diria que, no mínimo, há três casamentos, que mudam sua moldura,
seu conteúdo e sua contratualidade. Há o casamento sem filhos, o casamento com
filhos e o casamento quando os filhos saem de casa. São etapa evolutivas da
vida familiar que o casal e cada membro devem lidar e melhor manejar.
A qualidade do casamento é
fundamental para sua funcionalidade e longevidade. Como observa Minuchin, em
seu livro FAMÍLIA: FUNCIONAMENTO E TRATAMENTO (ARTMED), casais satisfeitos e
funcionais são aqueles que conseguem preservar laços afetivos fortes entre os cônjuges,
capazes de flexibilizar a estrutura de poder, papéis e regras de seu
relacionamento ao longo do tempo e das mudanças e das crises familiares, bem
como desenvolver padrões de comportamento adequados e adaptativos. O casamento
é um importante espaço vital para a auto realização, visto que o ser humano
deseja amar e ser amado, ser respeitado e admirado, sentir-se pertencente e
seguro, compartilhar sonhos, desejos e histórias. E como é bom poder dividir
tudo isto com alguém que para nós é significativo no transcorrer de nossas vidas.
Como leitura auxiliar,
temos: AS RELAÇÕES ENTRE A SATISFAÇÃO CONJUGAL E AS HABILIDADES SOCIAIS
PERCEBIDAS NO CONJUGE, de Aline Sardinha, Eliane Falcone e Maria Cristina
Ferreira (http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n3/a13v25n3.pdf).
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