“VELHA ROUPA COLORIDA”
Outro
dia já se anuncia. E como é comum, em dias que vou para a aula, acordo
ritualmente no mesmo horário. Abro o meu guarda-roupa e escolho, não por acaso,
vestir aquela tua camisa, velha, desbotada, já sem cor, que tu me deixastes como
única “Herança” e um dia eu a desejei herdar.Olho-me no espelho, visto-a... Dou
pequenos passos pelo meu quarto com esta “Velha Roupa Colorida” e percebo um
peso, um incômodo, um desconforto sem direção que se instalou em mim naquele
instante. E canto baixinho “O passado é uma roupa que não me serve mais!”.
Mais
uma olhada no espelho e mergulho na canção que ecoa repetida e inesgotavelmente
em meus ouvidos “o passado é uma roupa que não me serve mais”. É... A canção não
cessa e eu me olho no espelho mais uma vez, talvez, tentando não acreditar ou não
aceitar este presente tão Real que teima em se mostra falho através desta
camisa. Sinto-me sem graça usando a tua camisa, procuro o meu sorriso e só vejo
o teu, um sintoma? Quem sabe, ilusoriamente, vejo Outro sorriso que se
atualizou com outras velhas roupas coloridas? Procuro um substituto que,
supostamente, irá me autorizar usar esta tua camisa sem cor?
Como
a tua roupa, coloco-te, também, neste baú de eventos frustrantes. E canto,
desta vez em um tom mais alto e colorido, mais um trecho daquela canção
inesgotável “No presente a mente, o corpo é diferente... E o passado é uma roupa
que não me serve mais”. Porém, já não sei se a tua dúvida e hesitação, de
alguma maneira validaram a Falta que teimava em se mostrar a mim através
daquela camisa. A tua herança já não me serve mais, foi ficando mais curta ao
longo dos anos, como também as tuas palavras, que perderam força com o tempo. Nem
aquela camisa, nem aquele sorriso, nem aquele cheiro que inebriava as minhas
manhãs... Nada! Nada disso faz mais sentido.
Caminho
solitário em direção ao mundo, inventando, criando novos significantes para velhas/novas
roupas coloridas. Não preciso das tuas velhas roupas coloridas. Posso caminhar
sem ti. Brado internamente o início da canção que não cessou de não se
inscrever, para te fazer ouvir silenciosamente, em algum lugar que não sei, o meu
momento de concluir: “você não sente e não vê, mas, eu não posso deixar de
dizer meu amigo... Que uma nova mudança em breve vai acontecer...”
29/05/2015
Gleidson Jackson
Nery
(estudante de Psicologia/FAFIRE)
Um comentário:
Parabéns pelo seu texto, uma reflexão fascinante sobre os conflitos humanos.
Muito sucesso.
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