Para se trabalhar psicoterapicamente famílias é necessário um esquema referencial teórico para que possamos operacionalizar o manejo e abordagem. É como
Saint-Exupéry dizia: "
o essencial é invisível aos olhos", isto é, para que possamos "enxergar" a estrutura e dinâmica familiar se faz necessário um olhar teórico, pois sem isso apenas enxergaremos um grupo de pessoas em ação. Teoria é um conjunto de princípio fundamentais, uma tentativa de entender e explicar fenômenos e a realidade. Etimologicamente teoria vem do grego
theorein que significa observar. Porém teorizar é mais do que meramente observar, e sim compreender e percepcionar a realidade além da experiência sensível. Neste sentido mais intelectual, teoria é preciso compreender tais experiências e suas expressividade à luz da linguagem, dos conceitos e dos postulados.
No campo do estudo de família encontramos várias teorias pertinentes, entre elas a Teoria Sistêmica, a Estrutural, a Estratégica, o enfoque Psicanalítico, a escola Construtivista, a Cibernética e por aí vai. Vamos, portanto, abaixo, pontuar alguns aspectos da Teoria Estrutural e da abordagem Sistêmica.

Para início de conversa vamos compreender a família como uma unidade funcional que, assim como um organismo vivo, age e se regula como um sistema. Sim, a família pode ser entendida como um sistema vivo, aberto, em constante transformação. E como tal (sistema) existe o lado de dentro e o lado de fora do sistema. Chamemos o lado de dentro de intrasistêmico e o lado de fora de intersistêmico (considerando que um sistema interage com outro sistema para um funcionamento de um sistema maior que aqui denominamos de comunidade/sociedade). Dentro de um sistema, por sua vez, existe os subsistemas (subgrupos de um grupo). Os subsistemas podem ser vários: parental, conjugal, fraternal, individual, assim como podemos utilizar outros critérios, tipo: gênero, geração, grau de parentesco, etc. Um elemento pertencente a um subsistema pode a mais de um subsistema outro. Cada subsistema tem regras e limites específicos. Desse modo podemos conceituar a estrutura familiar como sendo composta por um sistema que é igualmente composto por subsistemas. Uma família assim é formada pelos subsistemas e suas inter-relações. Já a dinâmica familiar é a comunicação entre o sistema familiar com outro sistemas, bem como entre os subsistemas que se encontram abrigados dentro do sistema familiar.

Salvador Minuchin define a estrutura familiar como "
um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da família interagem. Uma família é um sistema que opera através de padrões transacionais. Transações repetidas estabelecem padrões de como, quando e com quem se relacionar e esses padrões reforçam o sistema". A estrutura compreende três dimensões: fronteiras, regras e hierarquia/poder.

Se um sistema ou subsistema possuem parte interna e externa, então há de se falar de fronteiras sistêmicas e intrasistêmicas. As fronteiras determinam quem está dentro e quem está fora de um sistema/subsistema e definem o papel de cada um dentro dele. As fronteiras familiares são fenômenos interativos e podem ser observadas através das condutas verbais e não verbais das pessoas envolvidas. As fronteiras podem ser abertas ou fechadas. Em famílias disfuncionais notamos a presença de
fronteiras rígidas (muito fechadas) e
fronteiras difusas (muito abertas).

Quando as fronteiras sistêmicas são bastante rígidas temos o fenômeno das
famílias aglutinadas, também chamadas de emaranhadas. No emaranhamento não se distingue os espaços próprios de cada indivíduo. Já nos sistemas familiares onde as fronteiras sistêmicas são difusas, temos a
família fragmentada, também chamada de família cismática ou desligada. No desligamento, ao contrário das família aglutinadas, observa-se que as fronteiras de cada membro são delimitadamente tão rígidas que cada membro da família não parece ter nada a ver com o outro, isto é, é cada um na sua.

As família aglutinadas são aquelas onde existe excesso de coesão e ausência de individualidade. Nas famílias cismáticas temos excesso de individualidade e ausência de coesibilidade (espaço de pertencimento afetivo). Lembrar que as famílias transitam entre duas forças antagônicas e necessárias à função familiar que são: a
coesão e a
individuação. A família funcional é aquela que coexistem tanto a coesão familiar quanto a individuação dos membros.
Sei que o assunto é longo e se estende mais. Porém como foi até aqui que conseguimos chegar com a disciplina FAMÍLIA E REALIDADE SOCIAL neste período universitário, então meu texto se encerra por aqui. Contudo, com vistas a aprofundamentos e melhor conhecimento sobre o assunto sugerimos os seguintes links:
- FAMÍLIA NUCLEAR E TERAPIA DE FAMÍLIA
- MODELOS DE FAMÍLIA E INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA
- A PERSPECTIVA SISTÊMICA PARA A CLÍNICA DA FAMÍLIA
- DOMINANDO A TERAPIA FAMILIAR
Dedico este post à meia dúzia de "gatos pingados" que hoje participaram da "aula free". Sua preferência de estarem em sala mesmo no início das férias demonstrou comprometimento e investimento no que escolheram como futuro profissional. O meu agradecimento e reconhecimento aos mesmos. Continuem se dedicando e levando a sério seus estudos. Lembrar que quem tira férias são os meros alunos. Estudantes sempre continuam estudando. Isto faz a diferença. Com certeza.
Joaquim Cesário de Mello
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