olhando por detrás de
suas janelas gradeadas a praça que havia fora do castelo, observou as pessoas,
crianças e adultos, passeando e brincando, aproveitando o agradável sol do
final de tarde de verão. Neste instante, o reizinho se deu conta que as mesmas
muralhas, grades, fossos, correntes e cadeados que lhe protegiam, eram na
verdade o que lhe prendiam.
Faz tempo que criei esta pequena
historinha. Vez em quando me recordo dela, principalmente quando estou cá a
pensar sobre nossos medos imaginários e nossas fantasias de um mundo externo
absolutamente hostil, nocivo, agressivo e perigoso. Quanto mais tememos nossos
exteriores – o além de nós – mais arriscado parece sair da “toca”. E corremos o
risco de nos fechar como caramujos em suas conchas. Acaso, desde cedo,
nossas primeiras experiências e impressões do mundo forem adversas e
insuportáveis, bem como tivermos o azar de não encontrar em nossos cuidadores
primários conforto e apoio suficientes, provavelmente edificaremos nossas
personalidades em bases inseguras, e a sensação do mundo que nos cerca é a de
que ele não é confiável, é mau, ingrato e nos provoca angústia, ansiedade e
sofrimento. Continuaremos nossos primeiros e iniciantes passos pelo mundo afora
com receio, medo e desconfiança.
Pessoas que assim se desenvolvem,
desenvolvem uma “personalidade inibida”, isto é, tolhidas na expressividade de
seu self autêntico e do seu eu
criador que possuem dentro de si. Evidente que uma personalidade inibida tem
muita dificuldade de externalizar seu verdadeiro ser. É como se seu verdadeiro
eu estivesse aprisionado, cujas grades são o medo e a vergonha de expressar
quem verdadeiramente são. Melhor diria, de por em prática e expor todo seu
potencial inibido.
A inibição, sabemos, nos remete a restrições. Uma pessoa inibida, muitas vezes
intimidada pela própria timidez exagerada ou medo, apresenta-se insegura, acanhada,
retraída, esquiva, encaramujada, desconfiada, introvertida, arredia e até mesmo
com exagerados sentimentos de culpa ou hostilidade. Tudo isto as levam a ter dificuldades de convivência real, no sentido de poderem expressar com liberdade
o si mesmo para os outros. Poder, sem temor, doar a si
próprio a alguém.
Fairbairn, psiquiatra e
psicanalista escocês, entendia que são pessoas que no início da vida sofreram
privações afetivas e, por isso, desenvolveram um senso de inferioridade. São
indivíduos que parecem proibidos de amar e de serem amados, mantendo seus
objetos libidinais à distância. Não que não tentem algum envolvimento íntimo
com o mundo externo, mas a ansiedade (de caráter persecutório) os faz se
retraírem regressivamente para o refúgio seguro de seu mundo interno.
Imobilizados, pois, pela ansiedade de se machucar afetivamente, escodem-se
por detrás de uma couraça psicológica. Se pudessem seriam invisíveis.
Vejamos um exemplo, que no vídeo abaixo se descreve como Personalidade Esquiva:
Vejamos um exemplo, que no vídeo abaixo se descreve como Personalidade Esquiva:
Pessoas cujas personalidades se
organizam de maneira paranoide, esquiva ou esquizoide, por exemplo, são de
fundo “PERSONALIDADES INSEGURAS DE SI”, isto é, afora verem o mundo como hostil
e perigoso, sentem-se frágeis e vulneráveis, com fantasias de que, devido a sua
debilidade interna, podem ser manipuladas, rejeitadas, magoadas ou feridas
pelos outros. Trazem fortes sentimentos de inadequação e baixa autoestima, bem
como podem apresentar preocupações, dúvidas, suspeitas infundadas acerca da
confiabilidade em relação as demais pessoas.
Sabemos
que a premissa ou base de nossa personalidade é a autoestima. É sobre ela que
edificamos a pessoa que somos. Muitas vezes uma pessoa hipervigilante e com
abstração seletiva tende a procurar em suas experiências ocorrências ou fatos
que corroborem com a leitura que se tem de si mesma, robustecendo, assim, sua
autoestima negativa e/ou baixa.
No
estudo da psicologia da autoimagem Prescott Lecky considera a personalidade um
“sistema de ideias”. No centro desse
“sistema de ideias” se acha o Ego Ideal do indivíduo, pedra angular da
autoimagem e autoestima. Um Ego Ideal (inconsciente) bastante elevado ou
grandioso, opera no fundo do sistema psíquico de maneira severa e superegóica.
É como se a mente do sujeito, internamente, cobrasse de si mesma uma perfeição
incomensurada que o EGO propriamente dito não consegue corresponder. E neste duelo intrasubjetivo de opressão velada, a pessoa sofre e se autodesvaloriza ou
hiperdimensiona o mundo e seus possíveis perigos e ameaças.
Quando a autoimagem está intacta
e segura a pessoa se encontra autoconfiante e pode, assim, melhor explorar o
mundo externo, e enfrentar o que tiver que ser enfrentado (coping). Quando a autoimagem se acha ameaçada, a pessoa fica ansiosa,
receosa e insegura. A autoconfiança proporciona ao sujeito que ele seja livre
para ser ele mesmo, expressando-se com mais autenticidade. Quando a
autoconfiança é debilitada o sujeito se sente motivo de vergonha e medo, e
tenta se ocultar por detrás de muralhas psicossociais, onde sua expressividade
autêntica, seu verdadeiro self, fica bloqueado.
A convivência genuína fica árdua e difícil.
E pensar que muitas vezes tudo pode
ter começado porque uma criança chorou ou riu e ninguém viu...
Trancadas, por detrás das
armaduras habita alguém solitário e carente de afetos. Comportamentos retraídos
e excessivamente preocupados e defensivos provocam elevação do nível de ansiedade,
o que fisioquimicamente hiperativa a glândula suprarrenal aumentando, por sua
vez, o nível de cortisol no sangue.
A
conduta defensiva é advinda de um mecanismo psicológico de defesa, afinal
quando um indivíduo se sente ameaçado ele tende a agir na defensiva, seja
fugindo, seja atacando, seja se fingindo de morto. Este mecanismo evolutivo de
defesa se faz presente frente aos perigos reais, mas também frente aos perigos
imaginários. A grande maioria dos comportamentos defensivos está guardada
inconscientemente em nós desde a infância, razão pela qual pode ser inadequada
a uma situação real adulta presente.
Joaquim Cesário de Mello
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