Mais uma vez me inspiro no texto
de Joaquim Cesário para construir esse artigo porque concordo em todos os
aspectos com ele. Sim, sem dúvida, somos esse amontado de processos
neuroquímicos que constroem nossas ilusões, que nos constrói - o ser humano
acrescenta-se exatamente disso, das ilusões e, supostamente, somos diferentes
de outros animais justamente por precisarmos desse alicerce de pensamentos
mágicos. Isso talvez nos faça tão especiais quanto “imbecis”. Porque? “Imbecis”
porque somos muito orgulhosos de nós mesmos – somos na terra, pretensiosamente,
a imagem e semelhança do Criador – e acreditamos, às vezes, por meio de nossas
magias reflexivas, que o nosso pensar pode influenciar ou mesmo determinar
fenômenos e acontecimentos no outro lado do planeta ou na vida do vizinho; e,
“especiais”, porque isso talvez seja de fato nossa fonte ou nosso aditivo de
prazer. Somos seres de fantasias e como somos insatisfeitos com que a natureza
nos oferece, procuramos deformá-la de acordo com os nosso caprichos: de pedras
fazemos pirâmides, templos, monumentos; da noite criamos o fogo e nos
deliciamos com aquilo justamento com o que não podemos ver completamente: a
penumbra. Enfim, somos todos seres de criação, mas não necessariamente artistas
– porque penso que nesse caso existem variáveis bastantes complexas de serem
aqui discutidas. As nossas invencionices e as nossas criaturas são, muitas
vezes, uma máscara que colocamos em nossas
insatisfações. E por falar em
máscara … O que seria de nós se não a vestíssemos? Essas máscaras não nos fazem
outros, mas dão uma ilusão de que vivemos o que somos: seres ambivalentes,
contraditórios e finalmente, iludidos.
As máscaras são elementos psíquicos,
místicos e cênicos que praticamente convivem com todos os povos. A maioria
delas são representações do que tememos e/ou do que desejamos (essa eterna
ambivalência nossa). Pode se afirmar que o teatro surgiu na antiguidade grega
com a utilização de máscaras. O teatro vem dos ritos místicos de festividades
dionisíacas, festas que hoje lembrariam o carnaval. As homenagens ao Deus Dioniso, assim como o
carnaval, eram regadas a vinho e a “insânia”.
A ideia de uma festa delimitadas por dias de fantasias de
transgressões, na maioria ingênuas e
infantis, seguidos de
purgação, é quase tão antiga quanto a história da civilização. E qual
seria o sentido disso? Penso que tem o
mesmo sentido que teve o teatro grego como desencadeador de catarse. O carnaval
é, portanto, um teatro multidimensional, invisível, mal encenado, transgressor
e histriônico (histrião, do latim histrio: Ator de comédia; comediante,
bobo, ridículo) com extrema carga emotiva. Um teatro, para muitos, necessário,
tão necessário que depois de coibido com o fim do Império Romano foi
reinstituído no calendário oficial Católico no século IV e logo aglutinado pelo
clero:
“Padres
e clérigos podem ver-se usando máscaras e aparências monstruosas nas horas do
ofício. Dançam no coro vestidos de mulheres, lacaios ou menestréis. Cantam
canções licenciosas. Comem chouriços pretos no altar enquanto o oficiante diz a
missa. Jogam aí aos dados. Incensam com um fumo fétido procedente da sola de
sapatos velhos. Correm e pulam pela igreja, sem corar da sua vergonha. Viajam
finalmente pela cidade e seus teatros em miseráveis carruagens e carroças; e
suscitam o riso dos seus companheiros e circunstantes através de representações
infames, com trejeitos indecentes e versos torpes e libertinos.”
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