A HISTÓRIA DO PALAVRÃO
Quem disse que palavrão num é cultura? Ele não
somente acompanha a humanidade em sua história, como ele mesmo tem sua própria
história. Pois é, palavrão tem história sim e vamos discorrer um pouco sobre
este importante acervo da criatividade humana.
CARALHO: Nas antigas caravelas no alto do mastro os marinheiros
ficavam em uma cesta para buscarem avistar sinais de terra. Esta cesta era
chamada de “caralho”. Também a cesta era lugar de punição quando algum
marinheiro que houvesse cometido alguma infração era mandado lá pra cima
durante um tempo de castigo. Vem daí a expressão: “mandar pro caralho”.
Hoje caralho tanto pode ser usado pra xingar alguém quanto para expressar
exaltação e júbilo: “bom pra caralho”. A utilização da preposição a
frente da palavra torna ela agradável ou pejorativa, isto é, “do” caralho e
“pro” ou “no” caralho.
MERDA: O mais conhecido e utilizado dos palavrões. Na Antiguidade
Clássica era utilizado pelos gregos como uma forma de desejar boa sorte antes
de se entrar em cena. Como palavrão mesmo vem do francês merde. Lá por meados de Século
XIX as pessoas iam ao teatro de carroças puxadas a cavalos. Isso fazia que à
frente do teatro se concentrasse um amontoado de fezes dos animais. Então
“muita boa sorte” virou “muita merda”.
PORRA: outro palavrão bastante utilizado, principalmente nos
momentos de irritação, descontentamento, dor ou quando algo dá errado. Embora
saibamos que porra tem a ver com o sêmen gerado no ato de ejacular
(popularmente esporrar), sua origem e raiz vem lá das brenhas do latim. Em
latim alho-poró é “Allium
Porrum”. O alho-poró é um vegetal que tem um formato alongado. Objetos
semelhantes, contudo duros, quando utilizados para bater na cabeça de alguém
ficaram associados ao termo porra, que neste sentido significa pancada ou porrada.
Percebe-se aí um parentesco bem fraterno com ou palavrão “cacete”. Pois é,
porra era um porrete, um cassetete. Mais precisamente porra era uma arma
antiga, um bastão em cuja extremidade tinha uma forma esférica com pontas de
ferro para ferir o inimigo. Além da semelhança o alho-poró quando espremido
expele um líquido meio leitoso que ficou associado ao esperma.
PUTA: vem da palavra latina PUTTA (menina, moça). Segundo o
apologista cristão Arnóbio de Sica (Século III d,C) na mitologia romana Puta
era uma deusa relacionada à agricultura e responsável pela proteção das podas
das árvores. Neste sentido Puta literalmente representaria o termo poda. Nas
celebrações em homenagem à deusa eram realizadas bacanais onde sacerdotisas
participavam (as putas). Uma outra versão fala das “putaes” que eram
sacerdotisas de Vênus que se dedicavam a cuidar das pessoas que frequentavam os
banhos públicos (termas). Com o declínio e decadência do Império Romano as
termas perderam seu caráter de purificador do corpo e da alma e passaram a se
transformar em verdadeiros prostíbulos. Enquanto puta ficou relacionada à
meretriz, puto tem o significado de devasso e pederasta. Ainda na Antiguidade,
em muitas civilizações, a prostituição era um rito de iniciação à puberdade.
Define-se prostituição como a relação sexual realizada mediante pagamento de
dinheiro. Hoje se aceita até cartão de crédito. Nada como a modernidade
chegando a mais velha das profissões.
CU:
o mais sintético dos palavrões. Originalmente cu é a parte oposta da ponta da
agulha por onde passa a linha. Sim, aquele buraquinho, ou melhor, o orifício.
Cu também é outro vocábulo que vem do latim, culus, que significa anus. Do cu vem a
palavra cueca. Como os portugueses medievais não usavam o que hoje chamamos
papel higiênico as ceroulas viviam borradas de merda, merda esta que, como todo
mundo sabe, vem ou sai do anus (cu). A palavra cu também é empregada como algo
central e profundo, como vemos na expressão “o cu da história”. Na região
nordestina brasileira cu também é chamado de “furico”. Da linguagem banta
(idioma de origem africana) anus é fiofó. “Vai tomar no fiofó” é bastante
utilizado por estas bandas nordestinas. Venhamos e convenhamos, afora sua
origem (buraco da agulha) cu é um palavrão que dispensa apresentações e comentários.
Alguém duvida?
BUCETA: Brincadeira! Sabe a origem da palavra? Tinha que vir do
português de Portugal. Boceta lá praquelas bandas é bolsa ou caixa pequena. Já
ouviram o mito da Caixa de Pandora? Pois é, em português é a boceta de Pandora.
Né piada de português não, afinal nossos patrícios estavam mais perto de Roma e
no latim vulgar boceta é buxis que se traduz por caixinha. Se o
leitor for um pouquinho erudito sabe que da Caixa de Pandora vieram todos os
males do mundo e que foi um “presente” dado pelos deuses aos homens por causa
de Prometeu haver roubado o fogo deles. Realmente um literalmente “presente de
grego”. Quem diria né? Os males da humanidade vieram da boceta. Ou seria melhor
dizer que a própria humanidade veio da buceta? Sei lá, deixa pra lá tamanha
dúvida. Só sei que se o negócio todo começou com uma buceta vamos terminar
nosso texto com a buceta. Do caralho à buceta damos por encerrada nossa pequena
viagem no mundo curioso das palavras. Digamos que vou subir no caralho (cesta) e sentar meu cu (anus) nele pra ver se acho umas putas (podas de árvore), senão minha mulher
vai meter uma porra (cacetada) na cabeça porque num tenho
nada pra fazer do que ficar mexendo na buceta (caixinha) das palavras em busca de
coisa séria. Merda (boa sorte) pra vocês.
Fonte: Literalpédia
Nenhum comentário:
Postar um comentário