A poesia manoelesca é a alma feita em palavras e de palavras revelando a alma. Seu olhar muito mais que olhar o mundo desnuda o profundo, o profundo cavernoso com suas complexidades, paradoxos, paixões e seus pasmos. O psiquismo humano, demonstra Manoel de Barros, é permeado de perplexidades.
"O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê", confessa o poeta. De seus aparentes simples versos temos o insuflar da alma - esta coisa invisível que movimenta o mundo. A alma, demonstra Manoel, está sempre presente na miudezas dos pequenos gestos. Se fomos criados da argila do solo, somos então feitos da mesma terra onde brotam plantas e vegetais. Do barro da natureza somos feitos e feito somos de pó e cascalho.
Retrato do artista quando coisa
"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas".
(Manoel de Barros)
Joaquim Cesário de Mello
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