Mês do Oscar é temporada certa de filmes com temáicas adultas nos
cinemas de shopping. Entre eles tivemos a pouco a exibição de "Tão Forte e
Tão Perto", que conta a história de Oscar Schell uma criança de quase onze
anos e que perdeu o pai nos atentados às Torres Gêmeas em 11 de setembro de
2001. Mas não é do filme - no todo apenas mediano - que vamos falar aqui, mas
sim do possivel transtorno que tem o personagem de Oscar e que lhe dificulta a
socialização. Trata-se da "Síndrome de Asperger".
A Síndrome de
Asperger faz parte do espectro autista, todavia se diferencia do autismo como
conhecemos por não apresentar comprometimento cognitivo e intelectual. O nome
dado ao transtorno deve-se a Hans Asperger, psiquiatra austríaco que em 1944
publicou o artigo "Psicopatia autista: uma desordem de personalidade"
onde ele identificou um padrão de comportamento mais encontrado em meninos.
Entre alguns aspectos pertinentes temos: ausência de empatia, pouca capacidade
para desenvolver habilidades sociais, comportamento solitário e ligação com
interesses especiais onde detêm vasto e profundos conhecimentos sobre sua área
de interesse que estão acima de sua faixa etária. Em vistude desta última
característica Asperger denominava-os de "pequenos professores", pois
os mesmos tendem a desenvolver habilidades específicas com particularidades
geniais, tais como ler partituras musicais já na primeira infância,
alfabetizar-se precosemente e calcular matematicamente com maestria.
A síndrome
manifesta-se desde cedo, logo aos primeiros dois ou três anos de vida. Chama a
atenção pelas manifestações de genialidade da criança, porém é um transtorno
mental ainda pouco conhecido pela ciência. Quanto mais cedo é diagnosticado
melhor. Vejamos alguns sintomas ou sinais apresentados na Síndrome de Asperger,
tais como tendência a melhor se relacionar com adultos do que com outras
crianças, utilização de linguagem formal com amplo vocabulário e falta de
malícia acreditando em tudo que os outros lhe dizem, não entendendo ironias. É
ingênuo, puro e sincero. Sua coordenação motora é pobre e é bastante ritualista
com rotina rígida. Para sentir-se seguro busca repetir compulsivamente certas
ações e têm uma memória excepcional.
Um outro filme,
mais antigo, que aborda a questão é "Muito além do jardim" (1979)
onde o personagem vivido pelo ator Peter Selers passa a vida cuidado de um
jardim. O mundo além da mansão onde trabalha é visto apenas através da
televisão e quando o patrão morre ele se vê obrigado a deixar a casa em que
sempre viveu e conhecer o mundo real lá fora. Em ritmo de comédia dramática
"Muito além do jardim" explora a temática da Síndrome de Asperger em
cenas hilárias e antológicas, tais como quando o personagem sofre um assalto e
- acostumado a somente ver o mundo pela televisão - tenta se livrar do perigo
com um controle remoto mudando de "canal".
A incapacidade
que tem a pessoa acometida pela síndrome de fazer linguagem simbólica (seu
pensamento é concreto) e associativa leva-a a situações exdrúxulas. Expressões
do tipo "tá chovendo canivetes" é entendido ao pé da letra e a pessoa
é capaz de se esconder debaixo da cama com medo dos canivetes.
Quem sofre da
síndrome tem dificuldade em reconhecer as diferentes manifestações das emoções
no rosto do outro. É como se fosse "cego" em distinguir raiva e
alegria, por exemplo. Todavia a dificuldade em expressar emoções não é sinônimo
de ausência de sentimentos. E isto fica visível no personagem de Oscar no filme
"Tão forte e tão perto". Aliás, que tradução horrível, visto que em
original é "Extremely Loud and Incredibly Close" (extremamente alto e
incrivelmente perto).
Trata-se, como
dissemos acima, de um transtorno cujas causas ainda são um mistério.
Especialistas no assunto consideram não haver uma causa única. Sabe-se que se
trata de uma forma diferente como o cérebro processa as informações e não a
cura conhecida. Embora não haja cura pode-se propiciar uma vida mais harmônica
e menos difícil, através de uma educação adequada e apoio ao longo do
desenvolvimento infantil e juvenil.
Do ponto de vista
psicoterápico é claro que quanto mais cedo se iniciar o tramento melhor podem
ser os resultados. Uma das técnicas mais empregadas é o treinamento de
competências sociais, onde a criança ou o jovem é auxiliado a aprender a ler a
linguagem corporal e a interpretar expressões não verbais e emocionais. Quando
adolescente a participação em grupos terapêuticos podem trazer bons benefícios.
Contudo, por se tratar de uma síndrome ainda pouco conhecida, muito ainda
necessita ser desenvolvido no tocante à abordagem terapêutica e manejos
pertinentes.
A mente e o
cérebro humano é um vasto e talvez inesgotável território a ser desbravado.
Nesta fascinante viagem homem a dentro o que se faz de mais impotante e necessário
é aceitar e acolher as diferenças.
Joaquim Cesário de Mello
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