EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO DE FAMÍLIA
FAMÍLIA, em stritu sensu, é um conjunto de pessoas que possuem algum grau de
parentesco entre si. Visto assim o conceito de família é bastante vago e
impreciso. Com vistas a melhor operacionalizar a questão se faz necessário
melhor defini-la.
Comecemos
pelo começo de tudo: a própria palavra família. Vem do latim famulus que significa “aquele que serve”,
isto é, um criado doméstico, um escravo ou um servo. Originariamente o termo
famulus designava um conjunto de pessoas que viviam sob um mesmo teto e estavam
submetidas à autoridade do chefe da família (pater famílias). Na Roma Antiga o pater famílias era aquele que detinha o maior status familiar. Sob
seu domínio (domus) e domicílio (domus) chegava até ter o poder de vida e
morte sob seus dominados (pater potestas).
Romanamente falando seu poder era tão absoluto que ele podia até vender seus
filhos (filii famílias) como
escravos.
Todavia
família já existia antes mesmo do Império Romano, por uma questão fundamental:
sobrevivência. O ser humano quando nasce é muito frágil e bastante vulnerável,
necessitando de um outro ser humano para cuidar dele e atender as suas mínimas
necessidades básicas. Devido a condição natural do ser humano de ser um
dependente absoluto de alguém, e por um longo período maturacional, somente
poderia existir humanidade havendo, portanto, MÃE, ou mais precisamente a
função materna (cuidar, nutrir, proteger, agasalhar). Razão pela qual a
primeira organização familiar (antropologicamente também chamada de “família
natural”) foi a relação Mãe-Filho.
Mas
onde está o pai? Aqui reside uma questão sócio-histórica interessante. Nos
primórdios da história do homem o homem pré-histórico (hominídeo) viviam em
pequenos grupos (clãs) e suas relações sexuais eram promiscuas, isto é, entre
si sem interditos culturais. Se vários machos acasalavam a mesma fêmea, então
como saber quem era o pai? Outro aspecto interessante: é bem provável que
nossos ancestrais primitivos sequer soubessem associar sexo com reprodução, ou
seja, não devia se saber que o macho e a relação sexual geravam filhos na fêmea.
O pai, neste aspecto antropológico, embora o macho biologicamente faça parte da
reprodução, foi uma construção social. Como assim? O pai é uma figura que se
constrói por meio das regras do acasalamento, ao menos primitivamente falando.
As regras de acasalamento (casamento), observem, está dissociada do sexo. Não
necessita-se casar para se fazer sexo. O casamento surge na história do homem é
para legitimar prole, isto é, para legitimar a relação com os filhos e não para
legitimar a relação entre um macho e a fêmea. Remeto ao seguinte texto: “Contribuições
da antropologia para o estudo da família”, de Cynthia Sarti http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771992000100007
Evidente que desde a pré-história
até os tempos atuais muita coisa mudou e vem mudando na humanidade, inclusive
as organizações familiares. Na Grécia Antiga, por exemplo, Aristóteles já
afirmava que família “é uma comunidade de
todos os dias, com a incumbência de atender as necessidades primárias e permanentes
do lar”. Até meados do século XVII a predominância do patriarcado era
definidor, assim como os casamentos por arranjo e a privacidade era uma coisa
bastante rara, afinal se viviam em ambientes estilo galpão onde não havia
delimitações, além de se viverem (ao menos a plebe que era a grande maioria da
população) muitas famílias sob o mesmo teto. O advento da Modernidade trouxe
grandes transformações ao homem ocidental, entre elas a “nuclearização da
família”.
Como
foram várias as transformações e funções da família ao longo do tempo, e como
espaço aqui é curto, sugiro a leitura do texto contido em http://www.ebah.com.br/content/ABAAABXw8AB/funcoes-transformacoes-familia (“Funções e transformações da
família ao longo da história”, de Marlene Simionato e Raquel Gusmão Oliveira).
Família Nuclear |
O processo crescente de industrialização
das sociedades ocidentais, bem como o aumento da concentração urbana, levaram a
grandes transformações sociais que repercutiram nos contextos familiares.
Surge, entre os séculos XVIII e XIX, a chamada família moderna ou família
burguesa. A família burguesa (que se consolida no século XIX) é nada mais nada
menos que a FAMÍLIA NUCLEAR, ou seja a unidade doméstica composta de pai, mãe e
filhos convivendo em uma mesma unidade habitacional. Mas, deixemos a família
nuclear para um próximo post. Foquemos agora no conceito de família.
Como
diz Luiz Carlos Osório em seu livro “FAMÍLIA HOJE” (ARTMED), o conceito de família não é
um conceito unívoco. Para fins didáticos vamos elencar uma definição de
família, deixando desde já claro que se trata apenas de uma definição e não de
um conceito definitivo.
Embora
a ONU tenha, latu sensu, em 1984, definido
família como “gente com quem se conta”,
em termos mais estritos a própria ONU leva em consideração o espaço de
domicílio e entende que a mesma deva ser
constituída por meio de relações de parentesco. Considera igualmente família
nuclear casal sem filhos. A ONU, no documento
Principles and Recommendations for Population and Housing Censuses,
Revision (1998), trata a pessoa morando
sozinha como um domicílio unipessoal e considera a pessoa vivendo só como uma
“não-familia”. Entenda-se aqui não-família nuclear. Neste sentido não-família
(nuclear) são, por exemplo, pessoas que convivem em um domicílio multipessoal, mas que não possuem
laços de parentesco, bem como domicílios unipessoais.
Pelo
acima exposto domicílio com família nuclear é:
Casal: (com filhos e sem filhos)
Pai com filho(s)
Mãe com filho(s)
A
família é um fenômeno universal. A maneira como as famílias se estruturam,
organizam-se e se manifestam é sócio-cultural. A família surge como necessidade
de cuidar de prole, inclusive por força biológica, visto que o infante humano
não ter condições sozinho de sobrevivência. É por este viés inicial que edificaremos
aqui nossa definição, deixando de antemão claro que ela tem uma visão
pedifocal, isto é, centrada na criança.
Sem
mais delongas vamos a nossa definição: “família
é um grupo de pessoas ligadas por laços de parentesco que se incumbe da criação
da prole e do atendimento de certas outras necessidades humanas”. Por este
ângulo e sentido, destaca-se o objetivo primordial da família que é ser
responsável por criar, cuidar, proteger, educar e garantir o bom
desenvolvimento de suas crianças (criança vem de CRIA, seja enquanto filhote,
seja enquanto criação). Segundo Émile Durkheim (considerado um dos pais da
Sociologia Moderna), a função da família é social: iniciar o processo de
socialização (primária) do indivíduo. Há também outras finalidades na família,
tal como a de gerar o sentimento de pertença, ou seja, sentir-se pertencendo a
alguém e/ou a um grupo social. Observem que a família tem uma tripla
funcionalidade: biológica, psicológica e social.
Abaixo algumas frases sobre a ideia de família:. Faça você também a sua
"A
verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família."
"Quem
não tem mãe, não tem família."
"A
família é como a varíola: a gente tem quando criança e fica marcado
para o resto da vida."
para o resto da vida."
"No
início, os filhos amam os pais. Depois de um certo tempo, passam a julgá-los.
Raramente ou quase nunca os perdoam."
"Observa
o teu culto a família e cumpre teus deveres para com teu pai, tua mãe e todos
os teus parentes. Educa as crianças e não precisarás castigar os homens."
"É
fácil amar os que estão longe. Mas nem sempre é fácil amar os que vivem ao
nosso lado."
"Pais e
filhos não foram feitos para ser amigos. Foram feitos para ser pais e filhos."
"Amigos
são a família que nos permitiram escolher."
Joaquim Cesário de Mello
4 comentários:
MUITO ÚTIL ESSE TEXTO, TUDO SOBRE FAMÍLIA ME INTERESSA MUUUUITO!!!
Post excelente em sua didática e muito esclarecedor.
http://www.uniesp.edu.br/finan/pitagoras/downloads/numero3/a-evolucao-do-conceito.pdf
Joaquim, este link da leitura complementar está quebrado!
Ok, Lucas. Texto substituído. Obrigado
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