Veja, de antemão, que não estou perguntando sobre como você se vê. Como você se vê é a dimensão conceitual de sua autoimagem, enquanto que a autoestima é a dimensão afetiva da mesma autoimagem. Sim, sei que você pode agora está dizendo que uma coisa não vive sem a outra. Concordo, muito possivelmente. Ambos são lados distintos de uma mesma moeda. Todos temos um retrato mental de si e este retrato define a pessoa em sua individualidade e subjetividade. Para William James - um dos fundadores da Psicologia como ciência - o "self" (o si mesmo) é o conhecimento que o indivíduo tem sobre si próprio. É como nós nos revelamos a nós mesmos e nos representamos em nossas próprias consciências.
Qual a origem da autoestima? Embora às vezes haja divergências na literatura especializada, para nós a autoestima é algo que nasce internamente no indivíduo, ou seja, é resultado de operações psíquicas que são processadas desde a infância em um cenário onde as experiências familiares e sociais contribuem para moldar a opinião que a criança começa a desenvolver dela mesma. Ninguém nasce já se estimando. O reconhecimento do nosso valor começa quando começamos a formar um eu dentro de nós. Quem nos cerca de mais perto (nossos primeiros não-eus) servirão para ser o nosso primeiro espelho. A autoestima não é uma emoção, nem sequer um pensamento, porém um estado afetivo produzido por nossas impressões sobre nós. É como eu me sinto em relação a mim mesmo. Tal sentimento é produto de contingências cujas raízes são sociais, ou mais precisamente, interpessoais. Para uma criança em tenra idade as respostas dos adultos mais próximos (geralmente os pais) às suas manifestações conseqüenciam retornos de carinho, atenção, afago, sorriso e/ou reconhecimento e aceitação, bem como também pode haver repreensão, crítica, desqualificação, rejeição, aversão e/ou desatenção. Respostas parentais contribuem para reforçar positiva ou negativamente a formação da autoimagem infantil.
Se entendermos que a depressão direta ou indiretamente é ou pode ser um distúrbio do eu (ego), um eu formado com base em uma baixa autoestima é bastante vulnerável à depressão. O psicanalista Otto Fenichel há mais de 60 anos atrás destacou que a depressão pode ser precipitada pela perda da autoestima. Dentro dessa perspectiva a depressão seria muito mais desencadeada pelo esvaziamento ou baixa da autoestima do que pela perda de algo real propriamente dito. Interessante ângulo a ser pensado, não acha?
Joaquim Cesário de Mello
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