A FAMÍLIA COMO UM SISTEMA
Desde o início da disciplina
enfatizamos que a definição de família não é única, devido sua pluralidade de
formas ao longo da história e das várias culturais sociais humanas. Pode-se até
dizer que o que de fato existe são vinculações afetivas e íntimas que geram o
sentimento de pertença. Tais vínculos geram laços entre as pessoas envolvidas,
sejam eles consanguíneos, por afinidade (aliança), jurídicos e/ou afetivos.
Mesmo sendo o conceito de família polissêmico trabalhamos até agora com uma
definição eleita: a de que a família é “um
grupo de pessoas, ligadas por laços de parentesco, que se incumbe da criação da
prole e do atendimento de certas outras necessidades humanas”. Esta
definição nos proporcionou trabalhar alguns fundamentais aspectos da psicodinâmica
familiar.
Agora
nos cabe entender a família como um sistema em funcionamento. A ideia de
sistema compreende um conjunto de elementos interativamente unidos que compõe
um todo integral. Bertalanffy, pai da Teoria Geral dos Sistemas, que em sua
complexidade um sistema é um conjunto de subsistemas (elementos) que têm
relações entre si o meio e que interagem em busca de um resultado final. E aqui
vemos, também, a lógica gestáltica: o todo é maior que a soma das partes.
Bertalanffy dividiu os sistemas entre fechados e abertos. Um sistema fechado é
aquele que não interage com o meio e, assim, progressivamente desintegra-se e
morre. Já um sistema aberto troca matéria com o ambiente. Os organismos vivos
são eles sistemas abertos.
Pois
é, a família é comparativamente um organismo vivo, razão pela qual ela é
definida como um sistema aberto. Podemos assim falar sistema intrafamiliar e
extrafamiliar. A família, enquanto unidade sistêmica, é base do processo de
individuação entre seus membros, ao tempo em que funciona como um coalizador,
isto é, processa o espírito de coesão entre seus membro, dando com isto o
sentimento de pertencimento.
Podemos, portanto, posicionar a família como um sistema vivo e ativo, aberto, em constante transformação.
Para que um sistema exista, e
para que possa se diferenciar de outros sistemas, é necessário demarcar seus
limites, limites esses, em princípio, invisíveis aos olhos. Empírica e
concretamente podemos dizer que os limites de uma casa são as paredes e os
muros, assim como os limites fronteiriços de um corpo é a pele. E quais, então,
são os limites de um sistema familiar. Consideremos, por exemplo, a família
nuclear. Em termos bastante teóricos as fronteiras (limites) de um sistema são
as regras que definem quem participa deste sistema e como participa. Pensemos,
pois, em termos de afetos e intimidade. Há sistemas familiares que você como
estrangeiro até frequenta e circula, porém há uma espécie de barreira ou campo
de força que não lhe deixa ter intimidade com o mesmo. Chamemos estas barreiras
de “fronteiras Inter sistêmicas”.
Dentro
de um sistema familiar temos vários subsistemas. Estes subsistemas, por sua
vez, se diferenciam e se limitam dos demais subsistemas por “fronteiras intra sistêmicas”.
Para que um sistema familiar funcione adequadamente as fronteiras devem ser
relativamente permeáveis e nítidas. Quando um sistema familiar é disfuncional
existem ou fronteiras rígidas ou difusas.
Nas famílias em que as fronteiras intra sistêmicas são difusas há pouco ou nenhum espaço para a intimidade e a privacidade de seus membros, razão pela qual chamamos essas famílias de FAMÍLIAS AGLUTINADAS, ou simbióticas. Por outro lado, quando as fronteiras são rígidas há excesso de privacidade, porém pouca ou nenhum troca de intimidade e afetividade. Chamamos essas famílias de FAMÍLIAS CISMÁTICAS, ou fragmentadas. A respeito do assunto vide: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98931996000100007&script=sci_arttext
Os subsistemas familiares de uma
família familiar podem ser vários, tipo: subsistema conjugal, subsistema
fraterno, subsistema parental, díade mãe-filho, pai-filho, assim como pode
haver subsistemas por geração, sexo ou interesse. Outro texto de interesse é A
PERSPECTIVA SISTÊMICA PARA A CLÍNICA DA FAMÍLIA, de Liana Costa, que vocês
podem elencar através do site http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722010000500008
Devemos
deixar destacado que na polaridade INTIMIDADE-INDIVIDUAÇÃO quanto mais rígida
uma fronteira sistêmica ou subsistêmica mais no espaço interno sistêmico haverá
aglutinação, com excesso de intimidade e carência de individuação e identidade
entre seus membros. No oposto: quanto mais forem difusas as fronteiras mais
comprometimento e deficiência na intimidade e excesso na individualidade.
Curioso
observar em que patologias individuais como esquizofrenia e esquizoidia, por
exemplo, é comum encontrarmos um pano de fundo familiar (background) aglutinado.
Já em patologia do tipo comportamento antissocial e drogadição, por exemplo, é
frequente encontrarmos um background familiar difuso.
Outros artigos e ensaios que
auxiliarão a melhor elucidar a problemática:
E para aqueles que gostam de
livros, sugerimos:
A TERAPIA FAMILIAR, Maurízio
Andolfi
POR TRÁS DA MÁSCARA FAMILIAR,
Maurízio Andolfi e outros
A TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA DE
MILÃO, Boscolo e outros
NOVA PERSPECTIVA SISTÊMICA,
Denise Duque e outros
Boas Leituras
Nenhum comentário:
Postar um comentário